30 dicas para seu filho comer melhor

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POR Isabella Grossi – O Brasil, hoje, apresenta um quadro de obesidade infantil estarrecedor. Cerca de 15% das crianças são obesas e, consequentemente, mais propensas a doenças antes relacionadas à vida adulta, como hipertensão e diabetes tipo 2. “É comum ir para a escola em jejum e, no intervalo, comer pizza, hambúrguer e tomar refrigerante, o que é um crime para o organismo”, alerta a nutricionista Gabriela Kapim, que comanda o programa Socorro! Meu Filho Come Mal, transmitido pelo canal pago GNT. Uma alimentação saudável deve incluir frutas, legumes e verduras todos os dias, além de cereais, leguminosas e proteínas. Mas qual o segredo para driblar a birra das crianças e assegurar que elas estejam, de fato, comendo bem? A seguir, confira dicas valiosas da apresentadora e das nutricionistas Laila Penna, Alice Carvalhais, Caroline Petraconi e Mônica Vitorino.

#1

Os bons hábitos vêm de casa. “Com certeza é mais fácil conseguir convencer uma criança a comer bem se os pais também comem. E se eles realmente acreditam na importância de uma boa alimentação”, afirma Gabriela. Dê o exemplo.

#2

O ideal é que desde cedo o bebê tente comer sozinho, pegando os alimentos com as próprias mãos. “O auxílio dos pais é muito bem-vindo, mas é importante estimular a autonomia da criança”, diz Gabriela. Lembre-se: se sujar faz parte do processo. Deixe o babador a postos e fique tranquilo se a comida for parar na cabeça ou nos pés.

#3

A alimentação da criança deve ser totalmente sem sal no primeiro ano de vida. Em relação aos outros temperos, não existe contraindicação. Pelo contrário. Quanto mais sabores o pequeno experimentar, principalmente na primeira infância, menos ele vai estranhar os alimentos no futuro. Use e abuse dos verdinhos, como o manjericão.

#4

Cerca de 6% das crianças menores de 3 anos apresentam algum tipo de sensibilidade alimentar. Mônica é radical: “O único leite recomendado é o materno e, após o desmame, o de vegetais”. A introdução do glúten antes dos 4 meses em indivíduos predispostos à doença celíaca também é um considerável fator de risco.

#5

O hábito de oferecer papas liquidificadas ou peneiradas para aumentar o conforto da criança após os desmame, apesar de bem-intencionado, não é recomendável com muita frequência. O pequeno deve aprender que pepino é pepino e tomate é tomate. E, principalmente, saber a textura, a cor, o cheiro e o sabor de cada alimento.

 

Xô, colesterol alto

Quando IAN completou 5 anos, a mãe, a bióloga e adestradora de cães Joanna van de Schetop, de 35 anos, notou que alguma coisa andava errada. “Ele não tinha pique para correr, era muito calado e desanimado”, conta. O que para ela parecia um problema de tireoide, foi diagnosticado como colesterol alto. A família, então, procurou um nutricionista para mudar os hábitos alimentares. “Fizemos um controle rigoroso durante três meses. O arroz tinha que ser integral, o macarrão era de arroz, tudo sem gordura.” Hoje, aos 7 anos, Ian regulou o colesterol e, por causa da dieta, passou a comer de maneira mais saudável. Diminuiu a carne vermelha, acrescentou oleaginosas, aumentou as verduras, as frutas e o peixe. “A disposição dele hoje é outra e até a quantidade de comida no prato mudou. Antes ele só beliscava.”

 

#6

Um prato equilibrado, que tenha condições de fornecer os nutrientes necessários para o crescimento da criança, deve conter uma fonte de carboidrato (arroz, macarrão, batata), uma fonte de proteína (carnes ou ovos), uma fonte de leguminosa (feijão, ervilha, lentilha) e fontes de vitaminas e minerais (folhas e legumes).

#7

A monotonia alimentar é um dos fatores que mais tira o apetite das crianças. Muitas vezes os pais têm o hábito de comprar as mesmas coisas. A mesma fruta e a mesma carne. E ninguém quer abrir mão do feijão, por exemplo. “Se a criança não gosta muito, ofereça um grão de bico, em forma de salada. Dá na mesma”, sugere Alice.

#8

Se o pequeno não come carne, incremente o prato com grãos, cereais e sementes, que são riquíssimos em proteínas. “A chave para conseguir os aminoácidos essenciais é variar ao máximo esses elementos, optando a cada dia por duas ou mais fontes e alternando-as a cada dois ou três dias”, revela Mônica.

#9

Esqueça a ideia de oferecer primeiro o que a criança menos gosta. A maneira ideal de controlar a quantidade de alimentos é determinar a porção a ser servida. Se o pequeno possui resistência em relação a alguma comida, é melhor comer um pouco do que não comer nada.

#10

Não é preciso forçar a criança a raspar o prato. Pelo contrário. O fundamental é respeitar a saciedade. Ela não comeu tudo? Espere de duas a três horas e ofereça a próxima refeição. Vale ficar de olho, porém, se a falta de apetite não é uma manobra para não comer a comida e logo depois pedir um alimento que lhe apeteça mais.

 

Sem derivados

A advogada Carolina de Caro, de 36 anos, ficou aflita ao descobrir que BERNARDO, hoje com 3 anos, tinha alergia a ovo e à proteína do leite. “Eu complementava a amamentação com Nan e ele sempre teve muita cólica. Aos 8 meses, dei mamadeira com o leite artificial e ele empolou na hora”, narra. O pequeno também tinha uma dermatite no rosto que não sarava por nada. A pediatra sugeriu a consulta com um alergologista, que, depois, indicou um nutricionista. “Ele me deu um plano alimentar e dicas de onde comprar os produtos que, por serem mais naturais, também eram mais saudáveis.” Bernardo se adaptou perfeitamente e hoje em dia não aceita nada que não saiba identificar. Come biscoito integral, pão de milho e bolo feito com farinha de linhaça. O lanche, então, o garoto adora. Faz questão do suco de melancia, da gelatina e, principalmente, da alfarroba, uma alternativa ao chocolate.

 

#11

Transformar a comida em brincadeira nem sempre é uma boa saída. O aviãozinho, por exemplo, é benéfico enquanto gesto carinhoso, para divertir esporadicamente. Se for um hábito para o pequeno comer sem perceber, a cada dia será preciso criar novos mecanismos.

#12

Se uma criança tem algum tipo de resistência alimentar, é pouco provável que ela vá experimentar novos sabores só porque eles vêm em forma de bichinho ou de um desenho lindo. “A estratégia funciona muito bem para distrair e variar o dia a dia de quem não come bem um ou outro alimento”, afirma Gabriela.

#13

A natureza da falta de apetite não é sempre a mesma. Pode ser orgânica — quando geralmente é necessária uma intervenção medicamentosa — ou comportamental. Algumas crianças percebem que os pais dão mais atenção e carinho quando elas recusam a alimentação. E assim o fazem com frequência. Fique atento à sua postura em relação aos pequenos.

#14

Toda criança precisa ter horários predeterminados para a ingestão de qualquer alimento. “É importante abrir um intervalo de duas a três horas na fase pré-escolar e de três a quatro na escolar”, avalia Laila. É o suficiente para que o pequeno sinta fome na próxima refeição. Não ofereça petiscos fora de hora.

#15

Uma lancheira saudável e saborosa é sempre bem colorida. “Coloque uma fruta e um segundo alimento”, orienta Gabriela. De preferência, castanhas, sanduíche, bolo, muffins, biscoitos integrais caseiros ou vegetais, como milho cozido, tomatinho-cereja ou palitinhos de cenoura ou pepino.

 

Menos guloseimas

Depois de contrair uma forte gripe, quando tinha pouco mais de 2 anos, ESTER começou a rejeitar qualquer tipo de alimento saudável. “Como a gente dava besteiras para agradar, ela acostumou e passou a querer somente aquilo”, lembra a mãe, a aposentada Diva de Souza Silva Rodrigues, de 57 anos. Foi quando ela, junto ao pai da criança, o presidente da Fundação João Pinheiro, Roberto do Nascimento Rodrigues, de 60 anos, levou a menina na nutricionista Laila Penna. “Descobrimos que ela estava 1 quilo acima do peso”, revela Diva. Hoje, aos 6 anos, Ester mantém o equilíbrio: são 30 quilos distribuídos em 1,30 metro. Em casa, as frutas, verduras e legumes ganharam mais espaço — embora, algumas vezes, tenham de ser camufladas na omelete, no arroz ou no feijão. Macarrão só de quinze em quinze dias, integral e sem glúten. Chocolate? No fim de semana e olhe lá. 

 

#16

Em casa, as refeições devem ser feitas à mesa, num ambiente tranquilo e sem distração. É um ritual milenar que aproxima a família e ensina a criança a compartilhar. Além disso, é o momento de os pequenos observarem com atenção as atitudes dos pais.

#17

Não deixe a criança comer assistindo à TV. Ela fica vidrada nas telinhas e mal percebe o que está fazendo, enquanto a mãe coloca comida boca adentro. O pequeno acaba consumindo um volume muito maior do que precisa, o que, aos poucos, atrapalha a saciedade. Ele deixa de entender que estar satisfeito é não estar com fome e passa a achar que é estar empanturrado.

#18

Os alimentos jamais devem ser utilizados como moeda de troca. Nunca diga “se comer tudo, ganha um doce” ou “se não comer, não vai jogar videogame”. “Esse tipo de atitude só solidifica a falta de interesse da criança pela comida”, explica Laila.

#19

Alguns alimentos não devem nunca ser oferecidos às crianças. É o caso de refrigerantes, sucos industrializados, frituras, biscoitos recheados, salgadinhos, balas e doces. Proibir o consumo, no entanto, não é recomendável. Em festas infantis, permita com moderação. Ofereça algo nutritivo antes, para que o pequeno vá mais saciado.

#20

A extrema rigidez em relação ao esquema alimentar não é aconselhável. Uma criança que nunca tem permissão dos pais para comer um chocolate fora do horário, por exemplo, pode ser tornar angustiada e ansiosa. Como consequência, ela supervalorizará o alimento proibido.

 

Exemplo em casa

Davi, de 3 anos, nunca sentiu o gosto de um refrigerante. Nem provou chicletes ou balas. “Eu não proíbo nada, mas nunca ofereci”, esclarece a mãe, a psicóloga Thaís Duffles, de 35 anos. Os hábitos alimentares da família naturalmente influenciaram o pequeno, que, desde bebê, nunca recusou verduras, legumes ou qualquer outra comida saudável. Pelo contrário. “Eu tenho que servir a salada depois do almoço quente, porque se ele a vir na mesa, só quer comer salada, mais nada.” Nas festas infantis, Davi dá pouca bola para frituras ou doces de qualquer natureza. Para a mãe, é tudo questão do exemplo que se dá. “Em vez de levá-lo a lanchonetes, procuramos restaurantes naturais, para seu paladar ficar apropriado”. O prato predileto de Davi é batata-doce com óleo de coco e escondidinho de moranga, que, divertidamente, ele insiste em chamar de estrogonofe.

 

#21

“A primeira opção para a sobremesa é a fruta, sempre”, diz Alice. Principalmente se for cítrica, já que aumenta a absorção do ferro, enquanto as fibras, paralelamente, fazem com que o açúcar natural seja absorvido pelo organismo de forma mais lenta. Evite doces lácteos após as refeições, uma vez que o cálcio atrapalha a assimilação do ferro.

#22

Para variar o cardápio e fazer uma gracinha, aposte em doces caseiros, sorvetes com frutas congeladas, pipoca e alfarroba. Fuja de balas, chicletes e chocolates. “É importante tomar cuidado com as calorias e a química embutida nas guloseimas industrializadas”, aconselha Mônica.

#23

Os líquidos são essenciais para crianças no decorrer do dia. Durante as refeições, porém, são contraindicados. Um dos motivos é que o pequeno pode confundir barriga cheia com saciedade. “Observe se a combinação a ser servida não está muito seca. Se for o caso, acerte com um molhinho ou caldo, equilibrando o preparo”, diz Mônica.

#24

Tome cuidado com os sucos, mesmo os naturais. Dessa maneira, a quantidade de açúcar consumido pode ser alta, o que eleva, de uma só vez, a glicose no sangue. “Prefira comer a fruta”, diz Alice. Para fazer um copo de suco de laranja, por exemplo, é preciso espremer três delas. É muita coisa. “Qual criança comeria tudo isso de um vez só?”, questiona.

#25

Gorduras devem ser evitadas em qualquer refeição. Principalmente as trans. Mas não caia na tentação de oferecer produtos light para crianças, já que é preciso um mínimo de gordura para dar energia e auxiliar o desenvolvimento e crescimento. Opte pelas fontes naturais, como sementes e oleaginosas.

 

Faça o que eu digo…

Mãe em tempo integral, Bianca Portela, de 38 anos, usou a própria experiência para ensinar ao filho VICTOR, de 2 anos, bons hábitos alimentares. “Eu sempre tive problema com comida. Não queria que ele fosse igual a mim”, explica. O esforço foi recompensado. Antes mesmo de completar oito meses, o pequeno já era bom de garfo. O pai, o chef de cozinha Leonardo Deoti, de 37 anos, não poupava ingredientes. Fazia de tudo e colocava temperos, ervas e outras especiarias. A preocupação com o valor nutricional da comida, todavia, fez com que o casal levasse Victor ao nutricionista. A consulta foi produtiva e as principais refeições passaram a conter as quatro categorias: leguminosas, vegetais, cereais e proteínas. “Ele come com os sentidos, pega com a mão, cheira e passa no corpo inteiro”, diz Bianca. E ainda participa dos preparativos. No colo do pai, aprende os nomes dos alimentos e a forma certa de elaborar cada prato. 

 

#26

Existem maneiras mais saudáveis de preparar os alimentos consumidos em casa. Sempre que puder, exclua a gordura e abra mão do sal para investir em temperos naturais. Se for suco, não adicione açúcar; em vez de fritar, asse; prefira carnes grelhadas; e, se o assunto é carboidrato, intercale o branco com o integral.

#27

As crianças têm preferências alimentares, e elas devem ser respeitadas. Se seu filho recusar um mesmo alimento um sem-número de vezes, significa que aquilo ali, especificamente, lhe desagrada. Ofereça de maneira diferente. Se for cenoura, por exemplo, em vez de ralar, coloque no bolo, na torta ou como recheio de sanduíche.

#28

Nenhum alimento é insubstituível. Considerando a pirâmide alimentar, a única coisa que não se pode fazer é excluir uma categoria inteira das refeições, eliminando as fontes de vitamina e, consequentemente, dando brecha para apontar um déficit nutricional. Se a criança não gosta de couve, por exemplo, troque por espinafre.

#29

Levar as crianças para fazer compras é uma forma de estimular o entrosamento com a comida. “Algumas não sabem a diferença entre um tomate e uma maçã”, garante Alice. Prefira o sacolão. Lá o pequeno não vai fazer birra querendo guloseimas nem se distrair com tantas gôndolas chamando a atenção.

#30

Incentive seu filho a participar do preparo dos alimentos na cozinha. “Assim, a decisão dele passa a ser importante, o que inibe uma resposta negativa”, explica Laila. A relação da criança com os alimentos depende das atitudes dos pais, que podem ser positivas ou negativas, e, também, das orientações de comportamento durante as refeições.

 

Para cada idade, uma recomendação

Primeiros 6 meses

Apenas o leite materno, que é rico em nutrientes e anticorpos. Não há necessidade de oferecer água ou chás, já que o leite também hidrata.

De 6 meses a 1 ano

Papinhas. Primeiro as de frutas e depois as salgadas. Escolha legumes ricos em carboidratos e mais dois vegetais. Evite misturar muitos alimentos, assim a criança vai conhecendo o sabor de cada um.

De 1 a 2 anos

Já é possível oferecer a mesma refeição do resto da família. A criança com essa idade está experimentando novos sabores, por isso não há nada melhor do que introduzir alimentos saudáveis. Não dê doces ou outros alimentos com açúcar, nem refrigerantes ou sucos artificiais.

Idade pré-escolar: dos 2 aos 6 anos

Nessa fase, as crianças começam a ficar mais seletivas. Explique a importância de se alimentar bem e varie no cardápio. Não a force a raspar o prato e nem recorra a chantagens. A melhor estratégia é fazer combinados: experimentar, por exemplo, uma colherada primeiro num dia, e no outro, duas colheradas.

A partir dos 6 anos

A criança tem mais autonomia e já conhece uma extensa variedade de alimentos. Escolha apenas um dia da semana para liberar as guloseimas, como doces e hambúrgueres. E dê uma atenção especial para a merendeira: castanhas, barras de frutas e biscoitos integrais são boas alternativas.

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