POR Renata Schaefer Moura
Era legal, eu ganhava bem, fazia o que gostava, tinha autonomia. Aí resolvemos ter um bebê. Durante a gravidez, tudo continuou em ordem e as pessoas falavam: “Nossa, ela consegue fazer de tudo com essa barriga…”. Em agosto de 2010, o Bernardo nasceu. Marinheira de primeira viagem, não sentia segurança em cuidar dele, sofria quando ele não mamava, quando não dormia, com as dores de barriga… Sofria por tudo. Sozinha durante todo o dia e solitária durante as mamadas da noite, eu sentia o peso da responsabilidade.
O final da licença-maternidade não entrava na minha cabeça. Como iria voltar a trabalhar e deixá-lo? Eu trabalhava em Congonhas (MG), saía de casa muito cedo e chegava tarde. Doía não o ver acordado, não dar vacina, não levá-lo ao médico, não estar quando sentou, quando andou, quando falou…
Aos poucos comecei a repensar meu papel de mãe, de mulher, de profissional. Depois de refletir, não consegui chegar a nenhuma conclusão. Mas da maneira que estava não queria ficar.
Comecei então a fazer um movimento “muda vida” e a procurar outras formas de trabalho. Consegui um emprego compatível com o que eu tinha em Belo Horizonte, matriculei o Bernardo em uma escola na parte da tarde e contratei uma empregada doméstica.
Mas não era isso. Depois de dois anos, levantei a espada da “independência ou morte” e iniciei um antigo projeto. No começo foram muitos aprendizados, muitos erros, muitos acertos. No final de 2014 chegou a Manu. A Manu foi mais fácil, veio no flow e está linda.
Contei tudo isso para exemplificar como é difícil viver o trade off de carreira de uma mulher quando ela tem filhos.
Toda escolha traz perdas, não importa qual escolha. Você terá perdas! Se você escolhe ser uma excelente profissional e focar 100% sua carreira sem filhos, nunca vai saber o que é um beijo dizendo “mãe, eu te amo” ou ainda nunca vai saber a dor e a delícia de ver seu filho chorando porque você vai viajar a trabalho.
Se você escolhe ter filhos, mas delega a outra pessoa, nunca vai saber como é ser mãe de verdade, mãe que faz “para casa”, que sabe das manias, que leva ao cinema, que canta as músicas dos filmes…
Se você escolhe abandonar sua carreira em função dos filhos, nunca vai saber o valor de uma promoção conquistada com eles ou nunca vai saber como tocar um projeto em meio a uma crise de bronquite.
Sempre fui radical em minhas decisões, mas depois da maternidade procurei a coluna do meio. Coluna no meio, para mim, significa que você pode e deve continuar sendo você depois de ser mãe, que você deve continuar a fazer o que gosta e o que lhe dá prazer sem negligenciar seus filhos. Coluna do meio significa escolher aquilo que é melhor para você.
Quando me perguntam: “Você abriu a empresa para ficar mais próxima do Bernardo?”. Respondo: “Não! Eu abri por mim! Porque EU não daria conta de vê-lo crescer a distância, porque EU não daria conta de estar longe dele. Fiz por mim”.
Renata Schaefer Moura é mãe de Bernardo, de 5 anos, e de Manu, de 1. Psicóloga, coach e instrutora de desenvolvimento, escolheu viver a maternidade sem abandonar a carreira por causa do filhos. Para isso abriu a COACHR, uma empresa de coaching e desenvolvimento de pessoas.