“Mãe e filho estão imersos em uma mesma bacia, cheia d’água. E a mãe sente tudo o que o filho sente daquela água.” É assim que a psicopedagoga e escritora argentina Laura Gutman exemplifica a relação ideal entre mãe e filho. Ao citar esse exemplo, Laura já dá uma pista do que faz com que as mães experimentem tanta angústia e sofrimento ao criarem seus pequenos: “Ao sentir que a água está muito quente, a mãe a abandona. A partir daí, não sente mais seu filho, não o percebe mais. Vendo que ele sofre, ela procura ajuda externa”. Se ela estivesse dentro da água com ele, saberia perfeitamente o que fazer, pois a melhor referência para uma mãe é seu bebê. Segundo Laura, a principal causa para esse desligamento é o fato de que as mães não têm memórias válidas de sua própria infância. As lembranças que uma pessoa tem de sua época de criança são histórias contadas por outros, a partir de seus pontos de vista.
Por não ter esse autoconhecimento, a mãe passa a não sentir seu filho, não percebê-lo. E essa percepção é fundamental para que a criança se sinta segura e amada. Perceber o filho é muito mais do que um exercício de empatia, de acordo com a psicopedagoga. Ela explicou que empatia é quando uma pessoa se coloca no lugar da outra, mas um filho não é um outro, “o filho é a própria mãe”. Os dois — retornando ao exemplo da bacia — fazem parte da mesma água em uma cadeia transgeracional. Não seria necessário, então, procurar respostas para os dilemas da maternidade no exterior, já que elas estão dentro de cada mãe. Por isso, para encontrá-las, é preciso fazer o exercício de conectar-se com o próprio interior.