Por Maria Aparecida de Faria Grossi
Uma doença tão antiga, a hanseníase no passado não tinha tratamento, causava grande temor e era chamada de lepra. Ainda hoje acomete muitos adultos e crianças, todos os anos, no mundo, no Brasil e em Minas Gerais. Em 2014, ano da última publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), 18 861 crianças e adolescentes menores de 15 anos foram notificados com hanseníase, correspondendo a 8,8% do total de 213 889 novos casos registrados em 121 países. No mesmo ano, no Brasil, foram diagnosticados 2 341 casos na mesma faixa etária, significando 7,5% dos 31 064 casos de hanseníase em nosso país. Em Minas Gerais, foram diagnosticados 55 crianças e adolescentes até 14 anos, sendo dois residentes em Belo Horizonte, entre os 1 215 novos casos de hanseníase registrados em nosso Estado.
A hanseníase é uma doença infecciosa, curável, de longa evolução, causada pelo Mycobacterium leprae, uma bactéria, transmitida pela respiração, predominantemente, pelo convívio íntimo e prolongado com pacientes das formas contagiantes, sem tratamento. A transmissão da hanseníase se faz de pessoa a pessoa, sendo tanto mais fácil quanto mais íntimo e prolongado for esse relacionamento. Somente os pacientes das formas contagiosas, sem tratamento, têm possibilidade de transmitir a doença. É importante ressaltar que 90 a 95% das pessoas têm boa resistência, isto é, defesas, contra o micróbio causador da hanseníase e mesmo convivendo com um doente da forma contagiosa provavelmente não adoecerão.
A hanseníase manifesta-se por meio de áreas ou manchas brancas ou vermelhas, infiltrações e nódulos, em qualquer parte do corpo, com alteração da sensibilidade ao quente, ao frio, à dor e ao tato, isto é, dormentes. Nos casos mais avançados, sem tratamento, pode ocorrer também comprometimento de mucosas e órgãos internos, como os olhos, nervos, fígado, rins e testículos, podendo ou não levar a incapacidades e deformidades físicas, especialmente nos olhos, mãos e pés, se os doentes não forem tratados precoce e adequadamente.
Devido ao longo período de incubação, a hanseníase não deveria ocorrer na infância e, quando ocorre, geralmente se inicia após os 5 anos de idade, sendo muito rara em menores de 2 anos. Muitas lesões cutâneas são imperceptíveis ou discretas e se curam espontaneamente. As crianças e adolescentes, em geral, são diagnosticados, mais precocemente, nas formas iniciais, não contagiosas e sem incapacidades.
O tratamento da hanseníase, chamado poliquimioterapia, varia de seis meses para as formas iniciais, não infectantes, a doze meses, para as contagiosas. Vale salientar que mesmo os doentes das formas contagiosas deixam de transmitir os micróbios da hanseníase imediatamente após o início do tratamento, que é oral, gratuito e disponível nos Serviços de Atenção Primária à Saúde.
Embora a hanseníase ocorra em todas as classes sociais, a maior incidência acontece nas classes socioeconômicas menos privilegiadas, nas quais a multiexposição está ligada aos baixos níveis de moradia, educação, cultura e nutrição, uma vez que a melhoria desses fatores concorreria para o real controle dessa endemia e a eliminação do preconceito, ainda existente.