Mortes maternas na gestação estão 50% acima do previsto

Apesar de evitável, a mortalidade materna no Brasil ainda apresenta números preocupantes. Especialista atribui a falta de preparo do sistema de saúde brasileiro como uma das principais causas

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Mulher em pé, em preto e branco, com as mãos em sua barriga
Brasil apresenta números preocupantes relacionados a mortalidade materna. O país apresenta o dobro de morte em relação a países do continente europeu
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Nos últimos anos, são notórios os diferentes avanços alcançados na investigação da saúde durante o período da gravidez, aumentando o conhecimento das causas da mortalidade materna. Contudo, os números ainda preocupam. De acordo com o Painel de Monitoramento da Mortalidade Materna, o Brasil teve uma média de 107 mortes a cada 100 mil nascimentos. Os dados, referentes ao ano de 2021, revelam o aumento no número de mulheres que morreram durante a gravidez ou nos 42 dias seguintes ao parto devido a causas relacionadas à gravidez ou por ela agravadas.

O Brasil apresenta números bem distantes dos fixados pela Organização das Nações Unidas (ONU). Até 2015, a meta era que o Brasil obtivesse menos de 35 mortes a cada 100 mil nascimentos, mas, infelizmente, a realidade não foi essa. O país permaneceu na faixa de 70 a 75 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos, cerca de 50% acima do previsto. De acordo com o Relatório da Saúde Europeia divulgado recentemente, todos os países europeus conseguiram alcançar a meta de redução da mortalidade materna. A taxa média no continente europeu é de 13 mortes a cada 100 mil nascimentos. 

Com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a ONU indicou que até 2030, a taxa de mortalidade materna global permaneça abaixo de 70 mortes por 100 mil nascidos vivos. De acordo com a adaptação das metas para a realidade brasileira, realizada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a meta brasileira para 2030 se assemelha bastante com o que era esperado para o ano de 2015. É esperado que o país consiga reduzir a mortalidade materna para, no máximo, 30 mortes por 100.000 nascidos vivos, até 2030. 

A discrepância entre o Brasil e o continente europeu pode ser explicada pela diferença no acompanhamento de gestantes. “A Europa tem trabalhado há muito tempo na qualificação da assistência à saúde da gestante e do recém-nascido, e essa qualificação vai muito na direção das gestações de alto risco. Então, é muito importante que a gente faça o cuidado bem-feito na atenção primária à saúde para as gestações de baixo risco, mas, de outra forma, nós também precisamos ter um olhar especial para aquelas gestações que apresentam hipertensão, que apresentam alguma complicação”, explica Rossana Pulcineli Vieira Francisco, chefe do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. 

O que é morte gestacional?

A morte gestacional pode ser definida como a morte durante a gravidez ou no prazo de 42 dias após o final da gestação, sendo um problema de saúde pública global. Este é um indicador importante para analisar a saúde das mulheres, o desenvolvimento econômico e as desigualdades sociais em uma população.  As principais causas de mortalidade materna são hemorragias pós-parto, distúrbios hipertensivos, sepse, partos obstruídos e complicações relacionadas ao aborto inseguro. Um dos maiores desafios para as diretrizes de desenvolvimento de políticas destinadas a reduzir a mortalidade materna é a sua real magnitude, mascarada por altos níveis de sub-registro de mortes e/ou subnotificação de causas de morte, especialmente em países em desenvolvimento, onde acontecem cerca de três quartos de todos os nascimentos no planeta. 

A maioria das mortes maternas é evitável, pois as soluções de cuidados de saúde para prevenir ou administrar complicações são bem conhecidas. Todas as mulheres precisam ter acesso a cuidados pré-natais durante a gestação, cuidados capacitados durante o parto e cuidados e apoio nas semanas após o parto. A saúde materna e do recém-nascido estão intimamente ligadas. Estima-se que aproximadamente 2,7 milhões de recém-nascidos morreram em 2015 e houve outros 2,6 milhões de natimortos. É particularmente importante que todos os partos sejam assistidos por profissionais de saúde qualificados, uma vez que o tratamento oportuno pode fazer a diferença entre a vida e a morte da mãe e do bebê.

Em países de alta renda, praticamente todas as mulheres realizam pelo menos quatro consultas de pré-natal, são atendidas por um profissional de saúde qualificado durante o parto e recebem atendimento após o parto. Em 2015, apenas 40% de todas as mulheres grávidas em países de baixa renda tiveram o número de consultas pré-natal recomendadas.

“Nós não temos no Brasil leitos dedicados à unidade de terapia intensiva para gestantes e puérperas. Então, o que nós precisamos é refletir sobre essa atenção e fazer as mudanças necessárias para que a gente possa ter razões de morte materna inferiores a dez, que é o que a gente vê na Europa”, completa Rossana. 


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