Vegetarianismo na infância: pode ou não pode?

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Saiba mais sobre o vegetarianismo na infância  e qual o impacto no desenvolvimento dos pequenos

Por Daniele Franco

Benjamin não come carne desde pequeno, por opção, e é acompanhado de perto pela pediatra | Foto: Nidin Sanches

 

“ELES MATAM UM bicho pra eu comer essa carne. Eu não preciso comer bicho morto”, responde categoricamente o pequeno Benjamin, de 8 anos, ao ser perguntado sobre sua decisão de se tornar vegetariano. Desde bebê ele se recusava a comer carne, o que gerou preocupação na família. “Quando começamos a introduzir carne na dieta dele, percebemos que ele comia com muita falta de vontade, até o dia em que parou de vez de aceitar”, relata a mãe do menino, Ana Tereza Carneiro, designer e sócia do Padecendo no Paraíso. Detalhe: Benjamin é o único na família que segue uma dieta restritiva. 

A mãe conta que a pediatra que acompanha o garoto desde bebê nunca apresentou objeções à forma de ele se alimentar — ao contrário, ela incentivou o acompanhamento de perto e afirmou que seria melhor não forçá-lo a comer algo que ele não queria.

A preocupação da família, no entanto, é natural, de acordo com a nutricionista Gláucia Hübner. “A carne é fonte de muitos nutrientes importantes para o desenvolvimento da criança”, diz a nutricionista, que acrescenta que, mesmo substituindo as proteínas da carne por proteínas vegetais, “suprir o conjunto de nutrientes é impossível”.

Diferentemente de Benjamin, algumas crianças seguem dietas vegetarianas ou veganas por influência da família. Nesses casos, de acordo com Gláucia, é preciso prestar ainda mais atenção à saúde dos pequenos. “Adultos com dietas restritivas costumam tomar suplementações, muitas vezes sem supervisão, de sulfato ferroso e vitamina B12, que são encontradas na carne. Mas não se pode simplesmente comprar o remédio na farmácia e dar à criança sem supervisão de um nutricionista ou médico”, alerta. O ideal, segundo ela, é que um profissional analise as individualidades da criança e prescreva a melhor maneira de substituir os nutrientes necessários.

Infografia da CanguruFlávio Capanema, nutrólogo pediátrico do Instituto Mineiro de Obesidade e Cirurgia, diz que a suplementação alcança níveis satisfatórios de substituição dos micronutrientes presentes na carne. “A eficácia é muito boa, mas deve ser feita acompanhada da supervisão de um profissional, que irá avaliar a criança de acordo com a fase e as necessidades para o desenvolvimento correto.”

Ele aponta o vegetarianismo como uma alternativa interessante, já que os hábitos vegetarianos costumam ser saudáveis e dificilmente uma criança ficará obesa seguindo esta dieta, inclusive quando atingir a fase adulta. “Do ponto de vista da macronutrição, quando se fala em proteínas e carboidratos, o vegetarianismo é bastante vantajoso, já que as crianças adquirem calorias saudáveis.”

Entretanto, Capanema alerta para os riscos das microdeficiências, que são faltas de vitaminas e sais minerais. “Vitaminas e sais minerais como o ferro, o zinco e a vitamina D, são mais bem absorvidos pelo organismo quando têm origem animal, e a B12 é encontrada exclusivamente nesses alimentos.”

O pediatra Joel Lamounier, secretário do Comitê de Nutrologia da Sociedade Mineira de Pediatria, vai além, ao afirmar que os danos causados pela falta dos nutrientes da carne são irreparáveis: “O que o corpo absorve de bom ao comer carne é fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança, que pode desenvolver problemas de aprendizado na fase em que ela tem melhor capacidade de assimilação. Se esse potencial não é desenvolvido na infância, não será mais”.

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