Leia a crônica da Cris Guerra em dezembro: ‘O que nos resta’

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    Por Cris Guerra

    Foto: PixabaySe nos últimos dias, você, como eu, gostaria de embru­lhar o menino no plástico-bolha e guardá-lo de todos os perigos, até que o mundo volte ao normal. Se para você, como para mim, o clima lá fora parece ameaçador e o coração chega a sentir culpa por ter colocado uma crian­ça (ou mais de uma) no meio dessa enrascada. Se para você também tem sido difícil encontrar o que dizer. Se lhe faltam palavras, soluções ou rotas de fuga. Da minha parte, preciso confessar: só consigo pensar em abraços

    Muitos e seguidos abraços, diversas vezes ao dia. Abraços mudos, vigorosos, apertados e longos. Quero abraçar meu filho seguidamente e fazer o mesmo com os amores à minha volta: namorado, irmãos, amigos, pessoas com quem divido os meus dias. Quero fazer dos abraços a minha fonte de cura, alternando-os, quem sabe, com as mais infantis gargalhadas. 

    Abraços não querem nos convencer de nada. Não têm time preferido, religião ou gênero musical. Não têm cor, orientação sexual, nem mesmo gênero um abraço tem. Não são de esquerda nem de direita, não curtem nem comentam. Um abraço não está convicto de nada: ele é a própria convicção. Aperta, afaga, acolhe, lateja. Você dá e já recebe de volta, num sistema automático e natural de compensação. Quando abraço, me abro para o afeto e desvendo no outro o seu calor escondido, com a força silenciosa de quem arranca um sorriso tímido. Bons abraços são como um assalto bem-vindo, que nos rouba do egoísmo de nos fecharmos em nós mesmos. 

    Abraçar já ensina o abraço e assim fala do amor de um jeito que as palavras não alcançam. Mais que isso, abraços arrancam confissões. São mundos que abrimos e nos abrem outros mundos, fazendo a vida parecer encadeada e com sentido. Quem dera a gente se comunicasse sempre assim. 

    Trago comigo os abraços da minha mãe. Dos em­bates que tive com ela ao longo da vida, sobraram vultos. Ficou o que importa. 

    Talvez seja o abraço a melhor embalagem, o mais fino papel de seda, a definitiva proteção anti-impacto que você pode dar ao seu filho. O que está de mais rico ao seu alcance. Abraços que ficam – mesmo de­pois que você se for. 

    Afagos que ele vai levar pela vida como nobre ma­téria-prima. Matrizes para outros afetos – que tam­bém confrontarão medo, culpa e pontos de interro­gação. Futuras usinas desprovidas de certezas, mas abastecidas de ternura. Abraços que eles levarão con­sigo e que os ajudarão a seguir.

     

     

    Cris Guerra e o filho Francisco


    Cris Guerra é publicitária, escritora e palestrante. Fala sobre moda e comportamento em uma coluna diária na rádio Band News FM e a respeito de muitos outros assuntos em seu site www.crisguerra.com.br. Na Canguru, escreve sobre a arte da maternidade. É mãe de Francisco, de 9 anos, que fez a ilustração da coluna especial do mês das crianças. 

    contato   [email protected]

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