O desafio, para mães e pais, de ficar sem fazer nada

Para quem vive sobrecarregado com inúmeras demandas da casa, dos filhos e do trabalho, pensar em si mesmo e curtir o ócio pode ser bem difícil

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Mulher se espreguiça no sofá, remetendo ao conceito de não fazer nada
Não precisamos ser mãe ou pai 24 horas por dia
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Você já ouviu falar da expressão “Il dolce far niente”?

Quem já assistiu o filme “Comer, Rezar e Amar” deve se lembrar da cena em que um italiano explica para a personagem interpretada pela atriz Julia Roberts o que significa essa expressão, aliás essa é uma das partes que eu mais adoro no filme, mas vou deixar a explicação do porquê eu adoro mais para frente.

A expressão “Il dolce far niente” significa ao pé da letra:

O doce fazer nada.

Mas por que o texto de hoje é sobre uma expressão italiana?

Na Itália é muito comum valorizar os momentos de ócio, assim como os momentos de produtividade, ou seja, um completa o outro.

Agora pegue essa expressão e tente enquadrar dentro da sua maternidade ou paternidade. Sim, é por isso que a expressão faz parte do texto de hoje.

Eu, assim como a maioria dos pais, sabemos que momentos de ócio dentro do cotidiano de trabalho, função com os filhos, atenção à casa, cuidados com o relacionamento do casal e ainda por cima um final de pandemia são “talvez” privilégios que temos em pouquíssimos momentos.

Você acredita que ter um tempo para curtir o “fazer nada” é algo benéfico? Você saberia curtir o “fazer nada”?

Estas foram as duas perguntas de uma pesquisa realizada pelo site Forbes em 2020, com 23 empresas e mais de 3000 trabalhadores entrevistados (entre eles, 68% eram pais e mães). O estudo revelou que a maioria acredita ser super benéfico ter um tempo para “não fazer nada”, porém na mesma pesquisa mais de 80% dos entrevistados associam o “fazer nada” a simplesmente dormir.

Isso me traz uma reflexão, você saberia curtir “Il dolce far niente”?

O ser humano moderno desenvolveu a capacidade de absorver informações em tempo recorde – recursos como os stories, usados em redes sociais, duram somente 30 segundos. Aprendeu também a raciocinar cada vez mais rápido e projetar problemas em uma escala muito maior do que são. Sem falar dos dois presentes que levamos de brinde, criados por uma sociedade mega produtiva: estou falando da culpa e da vergonha.

Esses são fatores que contribuem muito para um desgaste mental, ainda mais quando juntamos tudo isso com as diversas transformações que a maternidade / paternidade trazem.

Não é à toa que muitas famílias se perdem no meio de tantas demandas, e aqueles momentos onde o “fazer nada”, que era muuuuuuito mais fácil criar, quando era somente o indivíduo, passa a ser algo inatingível quando o indivíduo já não existe mais.

Isso porque eu nem estou mencionando o desgaste da carga mental materna, que muitas vezes é desumano, e onde a mulher precisa desenvolver uma força interna muito grande para não surtar.

O ponto que observo de maior complexidade para saber realmente curtir o “fazer nada” é a re-conexão com seu indivíduo, e sabe por que digo que esse é um ponto extremamente complexo?

Porque depois que nos tornamos pais, muitas vezes perdemos a referência do indivíduo que nós éramos.

Então, voltando ao início do texto, onde comentei que iria explicar porque adoro a parte do filme onde a protagonista cria seu “Il dolce far niente”, é porque exatamente neste momento do filme ela começa a perceber que o indivíduo que mora dentro dela, precisa ser cuidado e ter seu espaço.

Em muitos momentos da nossa vida de pais e pessoas produtivas precisamos do “fazer nada” para simplesmente lembrar que não precisamos ser mãe ou pai 24 horas e nem precisamos ser produtivos se não quisermos. Talvez, a única coisa que precisamos é ser nós mesmos de vez em quando.


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