Médicos tentam produzir resultados mais confiáveis sobre doenças no Google

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Buscador de educadores parentais
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Por Rafaela Matias

Dr. Google: cerca de 1% das buscas na plataforma está relacionada a sintomas de doenças.
Dr. Google: cerca de 1% das buscas na plataforma está relacionada a sintomas de doenças.

Antigamente era assim: se as crianças ficavam doentes, as suposições pipocavam entre os pais e avós e usava-se aquela receita caseira que foi passada por gerações e costumava ser “batata”. Se não desse certo, uma ligação para o pediatra para relatar os sintomas e, se necessário, uma consulta. O segundo passo permanece o mesmo até hoje, mas a evolução tecnológica mudou a forma de especular. Hoje, ao constatarem sinais de mal-estar nos pequenos, os pais — é quase certo — correm para tirar suas dúvidas e buscar sugestões de tratamento no oráculo do século XXI: o Google.

De acordo com a empresa, cerca de 1% das buscas na plataforma está relacionada a sintomas de doenças. Se considerados todos os sites de busca, uma em cada vinte pesquisas (ou 5% delas) é sobre saúde. É provável que o número elevado esteja relacionado a duas características do ambiente virtual: rapidez e praticidade. Tudo o que um pai com filho doente almeja. É o caso, por exemplo, do publicitário paulista Thomás Callas, de 26 anos, referindo-
se ao filho Noah, de 1 anos e 3 meses: “Eu corro para o Google quando aparece alguma coisa estranha nele, algo diferente, que não consigo identificar o que pode ter causado”.

O problema é que nem todas as informações são confiáveis, e a maior parte dos leigos não tem as habilidades necessárias para filtrar as fontes. Mas o Google sabe disso e tratou de resolver a questão. Em meados de 2015, o site de buscas firmou uma parceria com a Mayo Clinic, nos Estados Unidos, para
que os profissionais da saúde produzissem descrições confiáveis das doenças com maior índice de procura na internet. Agora, foi a vez de o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, fazer o mesmo papel em terras brasileiras. Desde fevereiro deste ano, quem procura por sintomas no aplicativo do Google para dispositivos móveis encontra resultados que foram escolhidos e revisados por médicos. Painéis informativos em português apontam as possíveis condições para os sintomas pesquisados, quais são os tratamentos e as orientações para procurar um médico. Indicações sobre métodos contraceptivos também estão disponíveis. Ao todo, 400 doenças e 200 sintomas já foram catalogados pela equipe do Albert Einstein, e outras 350 doenças serão incluídas até o fim deste ano.

Uma boa notícia para mães de primeira viagem como a belo-horizontina Fernanda de Oliveira Dias Carvalho, de 36 anos. Se antes e durante a gravidez a servidora pública já era uma pesquisadora assídua de todos os detalhes sobre a própria saúde, depois do nascimento da pequena Ana Beatriz, hoje com 3 anos, não desgrudou mais do dr. Google. “Li sobre o teste do pezinho, icterícia, viroses. Gosto de me informar sobre tudo.” Mas, às vezes, a abundância de informações traz preocupações desnecessárias. “A Ana Beatriz teve refluxo e li que poderia estar associado a outras doenças mais sérias. Fiquei apavorada, mas fomos a pediatras e a um gastroenterologistae eles explicaram que o caso dela não era grave. Me desesperei à toa”, lembra.

É por isso que grande parte da comunidade médica frisa a importância de sempre procurar um profissional. “Um mesmo sintoma pode ser sinal de diversas doenças, desde resfriados até patologias mais graves. O pediatra vai saber analisar o contexto e pedir exames mais profundos, se for necessário”, afirma o médico Joel Lamounier,membro do Comitê de Nutrologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria. Mesmo assim, ele defende
as pesquisas feitas pelos pais a título de curiosidade e pela vontade de se informar. “Nesses casos, o ideal é selecionar sites confiáveis e não apenas clicar no primeiro que aparece.” Um exemplo é o pediatriaparafamilias.com.br, criado pela Sociedade Brasileira de Pediatriapara responder às dúvidas dos pais conectados. Na lista da plataforma aparecem respostas para perguntas como: “O que é microcefalia e quanto devemos nos preocupar?” e “Quando o refluxo se torna doença?”.

Assim como Lamounier, a médica Juliana Aparecida Soares, uma das responsáveis do Hospital Israelita Albert Einstein pela parceria com o Google, defende a disseminação de informações de qualidade, que orientam o paciente e facilitam a sua relação com o médico. “A partir do momento em que a pessoa dispõe de informações acerca da sua condição de saúde, é possível, além de compreender melhor sua situação, argumentar junto ao profissional de saúde, esclarecer dúvidas e entender de forma mais clara quais os próximos passos do tratamento”, diz.

Propostas como as da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Hospital Albert Einstein não apenas mostram um movimento da comunidade médica para disseminar informações corretas sobre doenças e seus tratamentos, mas também evidenciam, mais uma vez, que a tecnologia pode ser maravilhosa. Basta encontrar a medida. 

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