Rara, mas acontece: conheça os sinais de alerta da depressão na infância

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Os sintomas da depressão, principalmente na infância, podem ser confusos; mais um motivo para os pais redobrarem a atenção aos sinais

Por Daniele Franco

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Depressão pode atingir até crianças de 3 anos | Foto: Pixabay

 

A Organização Mundial da Saúde estima que 350 milhões de pessoas sofram de depressão em todo o mundo hoje. Mas a partir de qual idade essa doença se manifesta? Embora seja rara entre crianças, a literatura médica estima que de 1% a 2% delas tenham depressão, que pode atingir inclusive algumas com apenas 3 anos (veja no quadro).

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O percentual vai aumentando depois da fase de alfabetização, à medida que as crianças passam a lidar com maiores responsabilidades, de acordo com Ana Maria Lopes, psiquiatra da infância e da adolescência e membro do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Antes disso, os motivos são muito diversos e vão desde predisposição genética, quando alguém na família tem histórico de depressão, até a relação com o ambiente, conforme diz o professor de psiquiatria da infância e da adolescência da Unicamp Amilton dos Santos Junior. De acordo com o psiquiatra, o ambiente é o maior responsável pela formação da criança, sendo ele o ditador das situações de felicidade ou tristeza durante a infância. “Crianças são como esponjas, elas absorvem o clima do ambiente em que vivem, e esse fator é determinante no comportamento dela tanto na infância quanto na vida adulta”, esclarece.

Ana Maria, que também é professora na Universidade Federal de Minas Gerais, acrescenta os fatores de proteção como essenciais para uma vivência saudável na infância. Para a médica, proporcionar um ambiente favorável ao crescimento das crianças é um dever da sociedade. “As famílias devem, mesmo em situações mais complicadas, trabalhar para a proteção da criança em todos os sentidos, protegendo seu emocional contra consequências que situações traumáticas possam trazer”, afirma, acrescentando que atividades como a prática esportiva e o incentivo à socialização são fundamentais para o desenvolvimento saudável da psique do indivíduo: “O que se vê hoje são muitas crianças em situação de isolamento, sozinhas no quarto com seus aparelhos eletrônicos“.

Doenças crônicas, como alergias de moderadas a graves, asma, diabetes, epilepsia, fibrose cística e câncer, que atingem 4% das crianças, de acordo com Santos Junior, também são responsáveis por algumas situações de depressão infantil. “Com o mecanismo de adaptação da doença e percepção da diferença das outras crianças, as vítimas dessas enfermidades podem desenvolver transtornos depressivos”, afirma o médico.

Apesar de ser uma situação mais rara, Ana Maria aponta como essencial a atenção dos médicos às causas orgânicas que podem levar aos sintomas apresentados, como doenças da tireoide e neurológicas, que muitas vezes manifestam os mesmos sinais da depressão, mas não são a doença propriamente dita.

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Principal sinal é a perda de interesse por atividades que antes representavam prazer para a criança | Foto: Pixabay

 

Hora de ficar atento

A tristeza, sintoma mais comum da depressão, é normalmente associada a outros sinais nos mais jovens, e o principal deles é a perda de interesse em atividades que antes representavam prazer para a criança. “Se o seu filho para de gostar de fazer alguma atividade com a qual ele antes se divertia muito, é hora de procurar um médico”, afirma Santos Junior.

Mesmo sendo rara, a depressão infantil merece cuidados, pois pode ter repercussões muitos anos depois. De acordo com o professor, muitos casos de depressão na fase adulta, quando investigados, levam a raízes em situações de depressão vividas na infância.

Um quadro extremo

Caio* sempre foi um menino introvertido, mas foi por volta dos 5 anos que começou a reclamar da falta de amigos e a se fechar em seu mundinho. Aos 6, teve de lidar com a separação dos pais, o que, para a mãe, Joana*, pareceu, na época, um processo tranquilo. Ela conta que, como esperado, o menino sentia falta do pai, mas não era algo que despertava sua preocupação.

Três anos depois, quando Joana apresentou seu namorado ao filho, ele teve uma reação mais exacerbada. “Ele surtou. Rasgou e quebrou várias coisas, gritou, esperneou e disse que não aceitava outra pessoa comigo, mas eu entendi aquilo como uma pirraça mesmo”, conta.

Não era pirraça. Algum tempo depois, em um dia que o namorado estava com ela em casa, Joana escutou barulho de faca na cozinha e, quando viu o que estava acontecendo, perdeu o chão. Caio tentava se machucar e dizia que não queria viver em um mundo onde os pais não estivessem juntos. Foi aí que a luz de alerta se acendeu.

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Fique atento a estes sinais

De acordo com o psiquiatra Amilton Santos Junior, a ideação suicida nas crianças não é algo comum, uma vez que elas, tão pequenas, ainda não têm noção de que a morte é um quadro irreversível e, muitas vezes, não sabem como ela acontece.

O caso de Caio foi, de acordo com Joana, um quadro evolutivo típico das vítimas de depressão. Ela, que afirma nunca ter desconfiado de que o filho poderia sofrer da doença, encarava sua introversão como algo normal, como sendo o jeito dele. Depois do ocorrido, o menino foi ao médico e passou a fazer um tratamento multidisciplinar, com uso de medicamentos.

Santos Junior afirma que o uso de fármacos no tratamento da depressão infantil não é a saída mais comum e só é usado em casos mais graves, como o de Caio. “Nossa estratégia é observar se o motivo do quadro é o ambiente, e, se for, tratamos a partir daí. É um tratamento de causas. Há uma conversa com os pais e com a escola e uma tentativa de melhoria nas condições de vivência para a criança”, explica.

Antes de se preocupar com a depressão pela qual a criança possa, eventualmente, estar passando, é preciso considerar a manutenção de um ambiente propício à felicidade, e esse é um consenso entre os especialistas ouvidos pela Canguru. Se a formação da personalidade acontece na infância, como uma criança que passou por essa fase deprimida pode transformar-se num adulto feliz e produtivo?

 

Os nomes citados na reportagem são fictícios para preservar a imagem e a privacidade da criança.

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