Chupetas, ame ou odeie: elas são controversas até na comunidade médica

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Conheça os benefícios e os prejuízos do uso da chupeta e algumas dicas para desapegar seu filho do controverso acessório

Por Cristina Moreno de Castro e Rafaela Matias

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Infografia / Canguru

“O Ministério da Saúde adverte: a criança que mama no peito não necessita de mamadeira, bico ou chupeta. O uso de mamadeira, bico ou chupeta prejudica a amamentação, e seu uso prolongado prejudica a dentição e a fala da criança”. Essa mensagem de alerta consta em todas as embalagens de chupetas vendidas no Brasil, pelo menos desde 2002, quando foi publicada resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre esse assunto. A pasta atribui à chupeta problemas diversos, como sapinho e otite. Além disso, diz que “crianças que usam chupetas, em geral, são amamentadas com menor frequência, o que pode comprometer a produção de leite materno“. A posição é similar à da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que enumera várias razões para o abandono dessa tradicional peça de enxoval (leia no quadro ao lado).

Apesar disso, o pequeno objeto de borracha ou plástico reina em grande parte dos lares brasileiros. Em enquete informal feita pela Canguru nas redes sociais, dois terços dos leitores responderam defendendo, total ou parcialmente, o uso da chupeta por seus filhos. O argumento da maioria dos adeptos da chupeta é que ela acalma o bebê, ajuda a tranquilizá-lo, facilita a indução do sono e reduz o choro durante a fase oral dos pequenos. Não é à toa que, em inglês, as danadinhas são chamadas de “pacifiers”, do verbo “pacify” (acalmar).

Mas, considerando-se o que dizem todos aqueles experts da saúde, só resta aos pais a culpa? Não é bem assim. A chupeta é tão polêmica que até mesmo na comunidade médica e científica não há consenso sobre seu uso. A Associação Brasileira de Odontopediatria, por exemplo, defende que o hábito nos primeiros anos de vida não é necessariamente ruim. Está escrito em uma cartilha da entidade de orientação aos pais: “Nos casos em que a amamentação natural não pode ser realizada e, mesmo com a oferta do aleitamento materno, as necessidades de sucção da criança não estejam satisfeitas, o uso do bico é recomendado”.

A associação diz que, se for retirada até os 2 anos, há boas chances de autocorreção de possíveis desarmonias nas arcadas dentárias. A fonoaudióloga Roberta Martinelli, especialista em bebês e motricidade orofacial, com mestrado e doutorado pela USP, concorda que o uso até essa idade não é determinante para desencadear problemas. Quanto à fala, a especialista afirma que a chupeta não é capaz de atrasar o processo, mas pode prejudicá-lo em alguns aspectos.”Se a criança chupar bico o dia todo, por exemplo, ela vai começar a falar com a chupeta na boca e a sua língua não será capaz de fazer os movimentos completos, já que ficará mais baixa na cavidade oral. Assim, é possível que ela se torne uma pessoa que fala com a língua entre os dentes”, explica.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) chega a recomendar o uso de chupetas nas sonecas dos bebês, com o objetivo de reduzir a incidência de morte súbita. Um dos comunicados da AAP diz o seguinte: “Chupetas não causam nenhum problema médico ou psicológico. (…) No entanto, ela não deve ser usada para substituir ou atrasar as refeições. Pode ser tentador oferecer à sua criança uma chupeta quando for fácil para você. Mas é melhor deixar seu filho decidir se e quando usá-la”.

Cuidados importantes:

A posição oficial da AAP é que o acessório não traz prejuízos, mas a entidade lista alguns cuidados que os pais devem tomar:

» Usar chupetas com peça única, que não tenham pequenas partes que se desprendam e causem sufocamento;
» Nunca amarrar a chupeta em uma corda, no pescoço ou no braço, por risco de estrangulamento;
» Chupetas se deterioram ao longo do tempo. Inspecione-as periodicamente para ver se a borracha está descolorida ou rasgada e, nesse caso, substitua o acessório;
» Siga a faixa de idade recomendada na chupeta, para evitar que as crianças maiores coloquem bicos muito pequenos na boca e engasguem.

Quer tirar o bico?

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Mirelly, de 2 anos, usa chupetas e amamenta até hoje
Foto: Gustavo Andrade

Um dos poucos consensos que existem em torno da chupeta é que ela deve ser retirada até por volta dos 2 anos. Porém, como fazer isso sem tornar a perda muito traumática para os pequenos (e toda a família)?

“A suspensão pode acontecer de forma gradativa, oferecendo a chupeta apenas quando a criança for dormir e retirando-a logo que a criança adormece“, diz Ana Estela Fernandes Leite, secretária do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Para crianças maiores, o reforço positivo com elogios e o incentivo com recompensas pelos dias em que não usa a chupeta pode ser uma prática também utilizada”, complementa a médica.

“É importante que os pais e responsáveis fiquem atentos à demanda da criança, sem se antecipar a ela, ou seja, não ofertá-la a menos que a criança solicite”, prega a cartilha da Associação Brasileira de Odontopediatria. “Se a criança estiver dormindo, retirar de sua boca, se ela não apresentar resistência. Se estiver acordada, passado o choro, distrair a criança e guardar a chupeta, tirando-a do seu campo de visão”, orienta.

Na casa da vendedora Paloma Maciel da Silva, ainda não foi possível tirar a chupeta da pequena Mirelly, de 2 anos, porque ela agora está passando pelo desmame. “Vamos só esperar ela se adaptar ao fim da amamentação para tirar a chupeta. Tirar os dois ao mesmo tempo seria uma grande perda emocional, então preferimos fazer por etapas”, explica a mãe. E não vai ser missão fácil. Ao perder de vista por alguns segundos a sua “bubu” favorita, entre as quatro que tem, a garotinha já fica ansiosa. Mesmo antes de nascer, ela já dava indícios de que seria uma fã das chupetas, aparecendo com o dedinho na boca em todo ultrassom. Por isso, a própria pediatra recomendou o uso do bico desde o nascimento. “Ela me explicou que seria mais fácil, com o tempo, tirar a chupeta do que impedir que ela chupasse o dedo”, conta Paloma.

O processo pode ser difícil, mas especialistas garantem que vale a pena o esforço para não prolongar o uso da chupeta além dos 2 anos. Segundo a psicóloga clínica e escolar Patricia Reis Candeias, mestranda em psicologia social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é nessa fase que a criança começa a usar com mais frequência a linguagem oral e a compreensão de comandos adquiridos. Além disso, ela começa a experimentar a autonomia para comer, escolher suas roupas, cuidar dos pertences e demonstrar suas insatisfações. “A retirada da chupeta proporciona à criança viver mais uma etapa do seu crescimento e enfrentar as dificuldades da interação social. Ela precisa encontrar outra forma de enfrentar as frustrações, como expressar o que sente e deseja através da verbalização“, afirma Patricia.

Quer mais ideias?

O livro Julieta Larga a Chupeta (2017, editora Cora), de Marismar Borém, com ilustrações de Leonardo Barros, pode ser uma boa leitura para este momento de desapego da chupeta.

Veja este vídeo fofíssimo do garotinho que se despediu de suas chupetas soltando-as num balão de hélio:

As experiências das mães

Perguntamos em nossas redes sociais o que nossos leitores pensam da chupeta. Do total de respostas recebidas, 66% defenderam o hábito, total ou parcialmente. Confira alguns depoimentos:

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Depoimentos foram coletas no Facebook e Instagram da Canguru, ao longo de julho

Acesse mais depoimentos AQUI e AQUI 😉

ATUALIZAÇÃO: No dia 10 de agosto, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou o guia prático de atualização “Uso de chupeta em crianças amamentadas: prós e contras“.

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