Por Danielle Sanches, da Agência Einstein – Durante a primeira infância, é comum que as crianças apresentem uma seletividade alimentar, escolhendo as comidas que mais as atraem na hora das refeições. Entre aquelas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), no entanto, esse comportamento pode durar mais tempo e ser mais restrito.
A seletividade, também chamada de Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE), pode englobar mais de uma situação e inclui tanto uma recusa total aos pratos oferecidos a um repertório restrito, com casos de crianças que comem apenas um único tipo de alimento.
Há ainda outras características que podem ser observadas como a rigidez comportamental (necessidade de comer sempre as mesmas coisas, da mesma forma, no mesmo prato, com dificuldade em alterar rotinas); e problemas motores que dificultam o desenvolvimento da fala e consequentemente provocam uma hipotonia (fraqueza muscular), que impede a mastigação de alimentos mais duros e firmes, contribuindo ainda mais para a seletividade.
Uma das razões que explicam esse comportamento é a reação dessas crianças aos estímulos sensoriais, de acordo com Danielle Admoni, médica psiquiatra da infância e adolescência na Escola Paulista de Medicina da UNIFESP e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
“Crianças dentro do espectro autista podem ter uma hipersensibilidade ou hiposensibilidade aos estímulos externos. O ato de comer é multissensorial e envolve cheirar, ver a cor do alimento, sentir a textura e a temperatura e ainda usar o paladar. Tudo isso pode ser muito ou pouco estimulante para o paciente autista”, afirma a especialista.
Como tratar a seletividade alimentar?
De acordo com a especialista, é possível amenizar a seletividade alimentar das crianças com o diagnóstico de TEA, mas a característica nunca será 100% revertida. “A criança autista possui uma questão sensorial muito importante e, por isso, é difícil tratar por completo a recusa alimentar”, avalia Admoni.
Diferentes profissionais deverão fazer parte da equipe, além dos psicólogos e psiquiatras, como fonoaudiologista (para avaliar o desenvolvimento da musculatura oral e a mastigação); terapeuta ocupacional (para ajudar com os estímulos sensoriais) e nutricionista (para propor uma dieta balanceada que ajude na introdução de novos alimentos).
Embora a seletividade gere estresse para os pais, toda a família precisa permanecer tranquila diante das recusas alimentares, sob pena de agravar o quadro, segundo Admoni. “É importante não forçar a criança a comer e continuar oferecendo os alimentos para que ela pelo menos veja aquela opção em seu prato”, diz a especialista.
Alimentos mais aceitos
A dificuldade em se alimentar de forma saudável é fonte de angústia para os pais, que ficam sem muitas escolhas na hora de preparar as refeições. De maneira geral, as crianças com TEA costumam evitar qualquer alimento que tenha gosto, cheiro, cor ou textura exuberante ou mais pronunciada. É o caso, por exemplo, de vegetais verdes (como brócolis e alface) e carnes como os peixes.
Opções difíceis de mastigar, como sanduíches e carnes, além de opções com temperaturas extremas (muito quentes ou muito frios), também costumam ser deixados de lado. Por outro lado, alimentos nas cores vermelho, amarelo e laranja podem ser bem aceitos, assim como os preparos com texturas mais palatáveis e moles como papinhas e vitaminas, que são mais fáceis de engolir.
A especialista reforça, porém, que essa é uma questão muito particular e cada criança pode apresentar variações nas suas escolhas preferidas.
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