Por Luciana Ackermann
Você costuma dar aquele biscoitinho de maisena para distrair seus filhos? Cautela: “Aquilo é gordura hidrogenada, farinha e açúcar, não tem absolutamente nada de nutritivo”, afirma a nutricionista e jornalista Cynthia Howlett, que também desmistificou o mate, tão adorado pelos cariocas e cada vez mais comum entre os brasileiros: “Tem a mesma quantidade de açúcar que o refrigerante”. Balinha de iogurte? “Não vai leite nem iogurte, é açúcar, goma e corante”, aponta.
Reconhecida propagadora do estilo de vida saudável, com mais de 14 anos de experiência, Cynthia dedica-se ao desenvolvimento de atividades e de programas de gerenciamento de saúde e bem-estar, como Alternativa Saúde e Perdas e Ganhos, ambos exibidos no canal GNT. Mãe de Manuela, de 8 anos, e Rodrigo, de 5, ela promove palestras em todo o Brasil, inclusive em instituições de ensino, sobre a importância da alimentação saudável na infância, desde o primeiro ano de vida. Cynthia foi a convidada do mês de agosto para tratar desse assunto com os leitores da Canguru em nossos seminários gratuitos. Confira a seguir suas principais recomendações.
Cuidado antes dos 2 anos
Cynthia enfatiza que crianças com menos de 2 anos não deveriam ingerir qualquer tipo de açúcar e o classifica como um dos principais vilões da boa alimentação. “O paladar nesses dois primeiros anos é uma página em branco e a forma como será preenchida se estenderá pelo resto da vida. Vejo pacientes que não abrem mão do achocolatado de manhã, são adultos que ainda têm paladar infantil”, explica Cynthia, que reconhece a dificuldade na restrição após os 2 anos. “Vêm a creche, as festinhas, os lanches. Por volta dos 5 anos, não tem mais jeito, resta trabalhar com o equilíbrio para a criança não crescer louca por doce. O efeito do açúcar é tão forte que proporciona quase um vício”, explica.
Perigo do fast-food
Gordura hidrogenada, farinha e corante são outros perigosos inimigos, segundo a nutricionista, concordando com o senso comum de que a alimentação, em geral, já foi bem melhor. Não é à toa que hoje são tão altos os índices de obesidade no Brasil e no mundo. Para ela, o grande problema tem sido a troca da comida do dia a dia por refeições prontas, como sanduíches, salgados e biscoitos. “Estamos deixando nosso arroz com feijão para comer o fast-food”, aponta.
Pais ausentes e compensação
Também é inegável a mudança de comportamento da sociedade, com muitas mães e pais trabalhando fora sem conseguirem acompanhar de perto as refeições dos filhos, que sozinhos comem o que querem ou ficam sob os cuidados das babás, que também costumam alimentar-se mal. A esse contexto somam-se os pais, que, querendo agradar aos filhos, acabam cedendo às porcarias que as crianças adoram, como uma espécie de compensação.
Sedentarismo, mau exemplo e telas
A nutricionista ainda acrescenta um ingrediente à receita: o sedentarismo. Basta pensar que as crianças, que corriam e brincavam na rua e nos playgrounds, hoje ficam mais tempo no computador e no smartphone. “A criança tem que fazer esporte e, em casa, ter uma rotina de alimentação saudável, com horários e com os pais presentes em alguma das refeições, sentados ao lado, dando exemplo, conversando. Não adianta falar para a criança não ficar no joguinho se você também não larga o celular”, diz Cynthia.
Introdução das verduras
A dica da nutricionista com legumes e verduras é introduzi-los cedo e “insistir” nas tentativas, mudando as formas de preparo e apresentação. “A criança entra no mundo da imaginação, do lúdico, deve ser estimulada com a comida também. Vale esconder, misturar, falar do Popeye. Não dá para desistir porque ela não gostou”, salienta. Também é importante que os pais deem o exemplo, comendo verduras e legumes. “O adulto pode colocar no prato dele, comentar que aquilo está bom demais, uma delícia”, incentiva.
Café da manhã é mais importante?
Já sobre a máxima de que o café da manhã é a refeição mais importante do dia, a nutricionista pondera: “Muitas crianças acordam sem fome, e não acho adequado forçálas a comer uma refeição completa. Logo cedo, o corpo ainda está acordando, o sistema digestivo está lento. O hábito do café da manhã completo pode não ser tão benéfico quanto parece”, conclui.