Por Sabrina Abreu
Quem frequenta grandes cidades do Brasil e do mundo sabe: cabelos com cores-fantasia (como rosa, azul e outros tons que não imitam o ruivo, o loiro ou os demais pigmentos naturais) já deixaram de ser novidade. É corriqueiro ver fios multicoloridos na cabeça de jovens e até de idosos. Mas e as crianças? Podem ou não podem aderir ao rainbow hair?
Como o nome diz, a técnica deixa o cabelo todo colorido, lembrando o arco-íris que lhe dá o nome. Para obter o resultado, usa-se uma tinta não tóxica. Os pequenos que têm fios naturalmente claros podem mudar a cor apenas usando essa tintura. Já aqueles que têm fios mais escuros precisam descolorir – e é essa parte que divide a opinião de especialistas.
Referência em São Paulo quando o assunto é rainbow hair, Rodrigo Silva, sócio do Novo Arte Estúdio de Criação, há anos abriu mão do tom natural do cabelo e sempre aparece com uma nova combinação. “Meu cabelo colorido faz o maior sucesso com as crianças, na rua ou no salão. Elas acham bonito, divertido”, conta. Ele acredita que o desejo dos pequenos por novos tons no cabelo tem a ver com o mundo de fantasia que tanto os encanta. “Personagens como unicórnios e fadas fazem com que as crianças queiram mudar o cabelo”, diz.
A estilista Suzi Cristina Lee, mãe de Bernardo, de 10 meses, e de Manuela, de 3 anos e 10 meses, deparou-se com o desejo da pequena por uma mudança no visual. “Ela está num momento bem de princesas. Tem a ver com os desenhos a que assiste. Num episódio do My Little Pony, os animaizinhos viram princesas de cabelo colorido. Tem ainda as garotas do Monster High”, explica.
Como tem o cabelo bem escuro, por sua ascendência oriental, Manuela precisou descolorir os fios para receber os tons de verde e de pink que fizeram sua alegria. Foram poucas mechas, e a pintura ocorreu só nas pontas. “Achei legal, porque é algo lúdico, ligado à diversão, não à vaidade”, diz Suzi.
Também chamada Manuela, a filha da fotógrafa Ornella Flaksbaum quis colorir o cabelo para comemorar o quinto aniversário, que teve festinha com o tema unicórnio. “Na escola e em todos os lugares por onde ela passou com o cabelo colorido, as pessoas elogiaram. Eu até pensei que eu seria criticada – já que muita gente gosta de opinar sobre as decisões de uma mãe –, mas só tive experiências boas”, revela Ornella.
Para atender a miniclientela, Rodrigo Silva tem cuidados especiais: só usa tinta vegana, sem aditivos químicos e que, por isso mesmo, costuma sair bem rápido, a partir de 12 lavagens. Na hora da descoloração, não tem jeito: os produtos usados são mais agressivos. Desse modo, ele só aceita descolorir guardando uma distância de segurança da raiz.
Elias Junior, conhecido como “alternative colorful”, colorista do Circus Hair, faz exatamente o mesmo procedimento. E, apesar de a tinta ser um produto hipoalergênico, ele realiza um teste de toque no antebraço da criança, por precaução. “Por ser longe da raiz, não dá problema. Mas se, mesmo assim, os pais tiverem medo, dá para matar a vontade da criança colocando apliques coloridos ou tingindo com sprays próprios para cabelo”, sugere.
Como os fios das crianças são mais frágeis que os dos adultos, a dermatologista Lívia Pino não recomenda a coloração e alerta que, se optar pelo procedimento, o profissional deve sempre manter distância da raiz. “Os sprays coloridos temporários são uma alternativa, mas, mesmo assim, é preciso observar a embalagem do produto e checar se o uso é indicado para crianças, além de dar preferência àqueles que são de origem vegetal”, ensina Lívia.
Já Flávia Guglielmino, também dermatologista, é mais enfática em seu parecer: “Crianças abaixo de 6 anos não devem jamais descolorir os cabelos, porque sempre existe o risco de tocar a raiz e causar queimaduras graves no couro cabeludo, com sequelas permanentes. O fio do cabelo da criança é mais frágil, correndo grande risco de quebrar e danificar”.
Inspiradas por super-heróis e princesas, crianças sempre tentaram se parecer com seu personagem favorito da TV. Os fios coloridos são um elemento de identificação, como a espada de plástico e o vestido longo brilhante. Mas, por se tratar de uma mudança física, vale a pena conversar com um profissional de sua confiança antes de decidir se vai ou não atender esse desejo do seu pequeno.