Por Rafaela Matias
O seio da mulher é mais que o símbolo da feminilidade. Ele é capaz de produzir a primeira fonte de alimento do ser humano: o leite materno. Uma substância tão rica e completa que seu consumo é suficiente para alimentar e nutrir completamente um bebê de até seis meses. Quando está saudável, o seio é capaz de garantir a vida. Em alguns casos, porém, essas poderosas células passam a se comportar de maneira anormal, formando uma massa, que pode ser benigna ou maligna. No primeiro caso, o cisto não tende a acarretar problemas e, por isso, não é motivo de grande preocupação. Quando se trata de um tumor maligno, porém, é diagnosticado o câncer de mama – o segundo tipo mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, depois do de pele não melanoma, respondendo por cerca de 28% dos casos novos a cada ano.
Como outras formas da doença, o câncer de mama pode gerar metástase e se espalhar para várias partes do corpo. Por isso, é necessário que o tratamento – que, em geral, envolve quimioterapia, radioterapia e cirurgia para a retirada parcial ou completa da mama – se inicie o quanto antes e que sejam realizados exames preventivos, como a mamografia, para garantir o diagnóstico precoce e um prognóstico de sucesso. A perspectiva é de esperança: um em cada três casos de câncer pode ser curado se for descoberto logo no início de acordo com o INCA (veja outros dados no quadro abaixo). Mesmo assim, não é fácil receber a notícia, e uma série de angústias acompanham a doença. Para duas mães entrevistadas pela Canguru para esta reportagem, a descoberta foi ácida, mas o aprendizado que a doença trouxe tem gostinho de superação. Conheça um pouco mais sobre as suas histórias.
“Me sinto uma pessoa muito melhor e mais bonita.”
Em dezembro do ano passado, enquanto ajeitava a blusa que havia ficado presa no sutiã, Micelle sentiu um caroço. Prevenida, ela fazia mamografia desde os 35 anos, mas não tinha o hábito de realizar o autoexame e era a primeira vez que notava a presença da massa. Após uma investigação médica, a moça recebeu a notícia de que tinha câncer de mama. Felizmente, estava em estágio inicial, mas nem por isso foi menos traumático. Mãe de João Victor, de 6 anos, e Gabrielle, de 19, a moça precisou encarar a missão de contar aos filhos o que vinha pela frente. “O câncer ainda é visto como a morte, e isso não é fácil. Quando eu contei para o João, disse pra ele que a mamãe não ia morrer, mas que meu cabelo ia cair todo. Ele chorou e disse que amava muito meu cabelo, mas eu expliquei que era importante para que eu me curasse e que depois voltaria a crescer. Cada vez que cresce um pouquinho ele comemora, fala que eu estou linda”, conta. Atualmente, Micelle faz quimioterapia e se prepara para a cirurgia de retirada da mama, mas, mesmo com a queda do cabelo e as dificuldades do tratamento, ela jamais perdeu o amor próprio. Vaidosa, a moça tem dezenas de lenços e varia o look de acordo com a roupa do dia (veja uma boa ideia no box a seguir). Além disso, a gerente administrativa não parou de trabalhar, para se manter ativa intelectual e socialmente, e pratica pilates, ioga e musculação semanalmente. “Você pode perder o cabelo, os seios, mas a autoestima, não! E nem a paz interior”, afirma. Aliás, a paz interior é o maior presente que a fase difícil levou para a sua vida. Ela garante que, com o tratamento, se tornou uma pessoa muito melhor. “Eu guardava rancor, ficava magoada, não ouvia as pessoas. Depois que comecei a me tratar, procurei todo mundo que me magoou de alguma forma para deixar isso para trás. Quero que esses sentimentos morram junto com a minha doença. Eu era linda de cabelo, mas, com essa luz interior, essa paz, me sinto uma pessoa muito melhor e mais bonita”.
Boas ideias merecem ser compartilhadas. E a família de Micelle teve uma genial. Logo que a moça precisou raspar a cabeça, eles organizaram um “chá de lenços”, convidando os amigos e os parentes a presenteá-la com belos e coloridos acessórios para a cabeça. Ela ganhou nada menos que 75 lenços e a valiosa possibilidade de resgatar a autoestima. “Eu nunca tinha ouvido falar disso na minha vida. Que gratidão, me fortaleceu muito. Comecei a divulgar essa ideia nas redes sociais, porque é alto-astral, é feliz, é autoestima”, conta. Hoje, além de criar looks diários que combinam com os acessórios, ela leva sempre um extra na bolsa, para dar de presente caso encontre uma mulher passando pela mesma situação. Você também conhece alguém que teve uma boa ideia e quer dividir? Envie para [email protected]. Vamos compartilhar em nossa página no Facebook para ajudar o máximo de mulheres possível.
“Posso perder os cabelos, mas a alegria, nunca!”
Foi durante o autoexame que Juçara percebeu que havia algo errado em sua mama. Ela sentiu um volume e ficou preocupada, mas demorou três meses para informar o seu médico, por medo do que poderia ser. Quando finalmente criou coragem, o seu receio se concretizou e foi constatado um tumor maligno. O início do tratamento, em janeiro deste ano, não foi fácil, e a filha, Maria Carolina, de 11 anos, foi resistente à ideia de ver a mãe careca. “É uma fase difícil da vida, mas eu escolhi levar com leveza, tanto na forma de conversar com a minha filha quanto para encarar a doença. Hoje, ela me diz que depois que eu adoeci eu estou mais feliz”, conta. Carol aceitou tão bem que, atualmente, gosta até de escolher o lenço que a mãe vai usar para buscá-la na escola. “A gente escolhe o final da nossa história, se é debilitada, chorando em uma cama, ou se é enfrentando. Eu já estou no final do tratamento, estou recém-operada, e digo que é importante atravessar essa fase sem parar de se sentir mulher. O que é uma mulher sem cabelos ou cílios? Continua sendo uma mulher, talvez até mais bonita. Posso perder meus cabelos, mas a minha alegria, nunca!”, declara.
Prevenir em primeiro lugar
Segundo a médica Kerstin Kapp Rangel, mastologista do Instituto Mario Penna, ainda não existe uma maneira absoluta de prevenir o aparecimento de um câncer de mama, pois o seu surgimento depende de inúmeros fatores, muitos dos quais não podem ser alterados, como a genética. Algumas recomendações, contudo, são básicas para prevenir a doença, já que atuam no estímulo das condições sabidamente protetoras e no controle dos aspectos de risco e podem reduzir a chance de uma mulher desenvolver a doença em até 28%. São elas:
» Evitar a obesidade;
» Manter uma dieta saudável e equilibrada;
» Praticar atividade física regularmente, principalmente após a menopausa;
» Limitar a ingestão de bebidas alcóolicas;
» Amamentar;
» Só realizar Terapia de Reposição Hormonal (TRH) quando estritamente indicada na pós-menopausa e feita sob rigoroso controle médico, pelo mínimo de tempo necessário.
Além disso, o médico Renato de Oliveira, especialista em ginecologia e obstetrícia pelo Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher da UNICAMP, destaca a importância do autoexame e dos exames de rastreio, conforme orientação médica, a fim de uma possível detecção precoce das alterações mamárias de maior risco.
Uma campanha pela vida
No décimo mês de cada ano, o Brasil se ilumina para celebrar o Outubro Rosa, a campanha de conscientização sobre a importância da prevenção e do tratamento precoce do câncer de mama, que a Canguru resolveu abraçar. Além da iluminação em museus, órgãos públicos e pontos turísticos, ações relacionadas à causa acontecem em diversas partes do país durante todo o mês de outubro. Postos itinerantes para realização gratuita do exame de mamografia estão entre elas. Confira as atividades previstas para a sua cidade e programe-se: