Por Daniel Becker* – Nossos filhos e filhas são nossos maiores tesouros. Queremos protegê-los de todo mal; somos capazes de sacrificar a própria vida pela sua felicidade. Mas há um paradoxo: essas mesmas crianças são maltratadas por nossa sociedade, de modo geral.
Convivem pouco com os pais e ficam, muitas vezes, o dia todo em creches – e assim perdemos a intimidade com nossas crianças. São confinadas entre quatro paredes, e sua energia natural para correr e brincar é reprimida. Passam horas em frente a telas de tablets, telefones e TVs, viciadas em distração compulsiva, sendo educadas por uma publicidade nociva, que instila consumismo, alienação e materialismo. Alimentam-se de produtos industrializados ou de vegetais inundados de agrotóxicos. Não conseguimos mais dar limites; ganham presentes demais e presença de menos. São superprotegidas e não aprendem a lidar com frustrações e dificuldades. Compromissos demais e tempo para o brincar livre e criativo de menos.
O livre brincar promove inteligência, humor, imaginação e criatividade.
Depois de tudo isso, comportam-se mal, ficam obesas, desatentas, agitadas ou rebeldes, e a sociedade impõe a pior violência: a medicalização.
Rotulamos crianças, em sua maioria normais e saudáveis, como portadoras de transtornos e normatizamos seu comportamento com drogas psicoativas com efeitos colaterais graves.
Uma situação complexa como essa não se resolve de uma vez; precisamos puxar o fio do novelo, começar a criar ciclos virtuosos. Uma maneira simples, factível e eficaz de reverter esses males é trazer crianças e famílias a espaços abertos, ruas e parques.
OS BENEFÍCIOS SÃO INÚMEROS:
» Reduz o uso de eletrônicos, gera mais consciência;
» Reduz o consumismo e o materialismo excessivo;
» Promove o convívio afetivo entre pais, avós e filhos e entre crianças de diversas idades, capacidades e extratos sociais – desenvolve a empatia; educa emocionalmente; ajuda a lidar com regras e ensina a colaborar;
» O contato com o sol, o ar puro e o verde promove o bem-estar físico, emocional e mental;
» Reduz a obesidade, a hiperatividade, a agressividade, as alergias e os distúrbios do sono; melhora a imunidade, a atenção e a escolaridade.
O livre brincar promove inteligência, humor, imaginação e criatividade. Na natureza, a sensação de aventura gera memórias afetivas. Torna a
criança mais segura; ensina a lidar com o risco e o medo e a resolver problemas.
A volta ao espaço aberto e ao contato com a natureza abre outra perspectiva: a conquista da cidade, do espaço público pelas famílias. Precisamos vencer os muros, estimular o convívio com outras realidades sociais. Precisamos da construção da empatia, da cidade democrática abraçada pelos cidadãos.
A cidade é nossa – vamos ocupá-la com crianças, famílias e muitas brincadeiras ao ar livre.