Por Rafaela Matias

Ela é a atriz brasileira mais vista nos cinemas do país neste século e a terceira da história, atrás apenas de Xuxa e Sonia Braga. Na tevê, faz tanto sucesso que a sua última personagem – Elvira, da novela Novo Mundo, exibida pela TV Globo entre março e setembro de 2017 – teve a morte cancelada a pedido do público. Nos teatros, também garante bilheterias esgotadas e muito riso.
Em meio a tantas realizações profissionais, a atriz Ingrid Guimarães também tem outro (relativamente novo) pilar importante em sua vida: a maternidade. Mãe da pequena Clara, de 8 anos, fruto de seu relacionamento com o publicitário Renê Machado, Ingrid acaba de estrear um novo filme que vai ao encontro de seu momento. Fala Sério, Mãe! conta a história de Ângela Cristina (Ingrid Guimarães), uma jornalista que precisa se desdobrar para cuidar dos filhos, especialmente a mais velha, Malu (Larissa Manoela). Baseado no livro homônimo da escritora Thalita Rebouças, o longa ganhou trechos próprios, que refletem um pouco das experiências de Ingrid como mãe. “Como também atuei como roteirista do filme, quis incluir coisas novas e que acho importantes de serem faladas, como as dificuldades da amamentação”, conta. Leia a entrevista completa e exclusiva que a atriz deu à revista Canguru.
Canguru – Como mãe, o que você tem da Ângela Cristina e no que você se considera bem diferente dela?
Ingrid Guimarães – Tenho várias coisas dela. Principalmente essa preocupação excessiva que toda mãe tem, esse exagero de achar que o filho é um neném e não perceber que ele já cresceu. Mas também temos uma grande diferença: a Ângela tem uma coisa um pouco maluca de querer se meter nos gostos da filha e tem muita dificuldade para manter um diálogo aberto. Ela fica tão preocupada e histérica que acaba afastando um pouco a Malu, fazendo com que ela prefira contar as coisas primeiro para o pai, porque sabe que a mãe vai dar algum escândalo. Tento ao máximo ser amiga da minha filha para que ela possa falar tudo para mim. Nós duas, eu e a Ângela, somos superprotetoras, até porque tenho uma filha única. Meu marido até fala que mimo a Clara demais, mas tento ao máximo incentivá-la para que ela se vire sozinha nas coisas. Mas não consigo fazer isso muito bem, porque eu trabalho muito e, quando volto, quero dar tudo de bom, acabo tratando igual a uma bebezinha.
No filme, a sua filha se recorda de alguns momentos simples e marcantes da infância. Que momentos você acha que a Clara vai se lembrar com carinho quando for adolescente?
Acho que ela vai se lembrar das vezes em que eu a levei ao teatro comigo, deixei-a na coxia, ela já entrou no palco algumas vezes. Procuro levá-la para o meu trabalho para que ela possa ver o que eu faço, e, por isso, ela já viajou muito comigo, já foi a turnês de teatro, conheceu quase todos os Estados do Brasil. Desde bebê, sempre tinha um bercinho em todos os lugares para onde eu ia. Acho que ela vai se lembrar muito disso, de tão novinha já ter conhecido o país inteiro. E também das coisas que a gente faz juntas, só nós duas, e amamos. Viajar, dançar, desenhar, ir à praia, andar de patins, cozinhar, ouvir música, ver filmes. Inclusive, eu resolvi fazer esse filme por causa dela, porque é um dos nossos programas preferidos.
Hoje, há uma tendência de se quebrar a glamorização da maternidade. Você acha que ‘Fala Sério, Mãe!’ vem com esse propósito, de mostrar um lado mais realista dessa relação?
Eu tive muito problema para amamentar.
Consegui, mas foi uma luta diária. E é o tipo
de coisa que ninguém te conta.
Não vem exatamente com esse propósito. Como ele é baseado em um livro, seguimos bastante o que já estava lá, mas procuramos incluir algumas coisas, sim. Fizemos cenas que não estavam no livro que eu mesma, como também escrevi o filme, pedi para colocar – a parte da amamentação, por exemplo, que é exibida logo no início. A Ângela, como a maioria das mães, acreditava que amamentar seria uma experiência linda. Mas logo corta para ela chorando, o bico rachado, aquela dificuldade. Isso não estava no livro, e eu pedi para colocar, porque eu tive muito problema para amamentar. Consegui, mas foi uma luta diária. E se fala muito pouco sobre isso, é o tipo de coisa que ninguém te conta. Duas realidades dramáticas que conseguimos filmar: colocar o bebê para dormir e amamentar. Algumas mulheres vão bem; outras, não. Acho importante, já que vamos falar sobre maternidade, abordar essas coisas que são difíceis para quase todo mundo. Acabei colocando muito da minha própria experiência como mãe.
O filme mostra uma visão um pouco estereotipada do homem que, após o divórcio, consegue ter uma vida plena e bem-sucedida e busca os filhos aos fins de semana para passear. Você acha que essa realidade está mudando? Qual é a sua experiência com a paternidade?
Não concordo que o filme tenha mostrado dessa forma. A mãe é uma trabalhadora, tem um emprego em um jornal e rala pra caramba. A relação não está dando certo, e eles se separam, mas em vários momentos o pai pega os filhos e participa. Acho que o estereótipo que realmente é mostrado é o dos homens de meia-idade que se separam e ficam com uma mulher mais jovem. Isso ainda é um clássico. O que eu acho que está mudando, e fizemos questão de mostrar no filme, é a mulher não depender do homem. A minha personagem trabalha e faz de tudo para se manter independente dele. E eu também acho que os homens estão participando cada vez mais da criação dos filhos. A maioria dos meus amigos que se separaram optaram pela guarda compartilhada. Os pais da minha geração, que inclusive foram filhos de pais ausentes, estão lutando cada vez mais para fazer diferente. Na minha casa, meu marido divide totalmente a criação da nossa filha comigo. Quando eu viajo, é ele quem faz tudo. Acho que o homem está se equiparando à mulher neste lugar, até porque nós também fomos trabalhar fora e não é justo ter filho para ser criado por babá. Acho que isso tem melhorado muito, está vindo aí uma geração de bons pais.
A Canguru tem como slogan e missão “Criar filhos melhores para o mundo”. Por isso, queremos que você compartilhe com nossos leitores o que você faz para criar filhos melhores para o mundo.
Eu penso muito sobre isso. Quero que a minha filha seja uma menina legal, e para isso eu tento fazer com que ela tenha empatia, que se coloque no lugar do outro. Sempre peço para ela pensar, antes de fazer algo, se gostaria que fizessem com ela. Acho que quando você tem empatia, já é meio caminho andado para pensar antes de fazer. Colocar-se no lugar do outro, refletir sobre como seria se fosse com você. Outra coisa que tento é ensinar para ela o que eu penso em termos de igualdade. Desde essa coisa de respeito à natureza, que ela já aprende muito na escola, até aceitar as diferenças. Eu falo muito para ela sobre diversidade, que ninguém é melhor que ninguém. Incito a buscar o jeito dela sem se comparar, a saber viver em grupo respeitando o outro e, principalmente, se respeitando.

Saiba mais sobre o filme
SINOPSE: A história procura apresentar os dois lados da moeda de ser mãe, e, ao longo do filme, são descritas as queixas e as alegrias da mãe coruja e um tantinho estressada Ângela Cristina em relação à primogênita, Maria de Lourdes, a Malu, assim como as teimosias e o sentimento de opressão desta em função dos cuidados, muitas vezes excessivos, de sua genitora. Mãe e filha: que relação complicada é essa! Amor, carinho, compreensão e, claro, muitas, muitas brigas. Brigas importantes, brigas bobas, brigas engraçadas, brigas memoráveis. Só variam conforme a idade. Boletim, namorados, arrumação do quarto, legumes, viagens, festas, hora de chegar das festas… tudo é motivo para essas pelejas domésticas.
DIREÇÃO: Pedro Vasconcelos
COPRODUÇÃO: Camisa Listrada, Globo Filmes
DISTRIBUIÇÃO: Downtown, Paris Filmes
ROTEIRO: Ingrid Guimarães, Paulo Cursino, Dostoiewski Champagnatte
Baseado na obra de Thalita Rebouças
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