“Nós, os pais, somos patéticos. Passamos o tempo todo preocupados com bobagens como se o bebê comeu fruta, se acordou à noite, se já engatinha. Aos cinco anos, todas essas preocupações não serão mais que uma piada. Não percam tempo. Não queiram mudar os seus filhos, pois eles já são maravilhosos. Desfrutem deles e aproveitem, porque eles vão crescer muito mais rápido do que vocês imaginam. O tempo se vai, o tempo voa.”
Ao dar conselhos como esse, o pediatra espanhol Carlos González parecia, de certa forma, tranquilizar os pais e mães que compareceram a sua palestra no último domingo, 10, em São Paulo – muitos deles, inclusive, com os seus bebês no colo. O médico é uma referência em amamentação e criação com apego e foi sobre mitos relacionados a esses e outros temas, como o local do sono, desfralde, alimentação, estimulação precoce, castigo e telas, que ele falou no evento, organizado pela editora Timo. A editora é responsável pela publicação dos livros de González no Brasil, entre os quais, Bésame Mucho – Como criar seus filhos com amor, Um presente para a vida toda e Meu filho não come!.
Pai de três filhos e com um neto pequeno na família, González defendeu os avós e disse não concordar com o ditado que diz que os pais educam e os avós ‘estragam’ as crianças. Segundo ele, alguns adultos ficam enciumados porque foram criados de forma muito rígida e hoje veem os seus pais, ao se tornarem avós, tratarem os netos de outra maneira.
“Os avós sabem tudo e os pais fariam bem em não queixar-se tanto deles. Muitos avós perceberam que tudo que fizeram com seus filhos – deixar eles chorando, não pegá-los no braço, colocar limites, castigá-los – eram estupidezes. E ao se darem conta que só lhes restam 20 ou 30 anos de vida, eles querem fazer bem aos netos. Pensam que não podem perder essa segunda oportunidade, esses preciosos momentos com as crianças, dedicando-se a castigá-las ou gritar-lhes, em vez de aproveitá-las.”
Veja a seguir dez mitos que o pediatra espanhol Carlos González abordou em sua palestra – e por que não devemos dar bola a eles!
1#Tem que acordar o bebê para amamentar de madrugada
Dr. Carlos González: “Essa é uma das perguntas que as mães mais fazem ao levar o filho recém-nascido ao consultório. Aos quatro meses, elas voltam dizendo que o bebê acorda a cada hora e meia. E eu digo: ‘Viu, já pode dormir tranquila que ele avisa quando quer mamar’. Se o bebê estiver ganhando peso adequadamente, não precisa acordá-lo de madrugada”.
2#O bebê deve dormir em seu quarto
Dr. Carlos González: “Há bebês que dormem no berço, na cama dos pais, do lado da cama dos pais, no chão, somente com a mãe (e o pai vai para outro quarto), são muitas possibilidades. Qual é a melhor? A que funcione para cada família. Vocês, pais, têm direito de mudar as coisas. O que não pode ser é que um vizinho, a amiga, cunhada ou alguém que não seja da família dê instruções de como vocês têm de fazer. Os pais têm direito de dormir da maneira que quiserem e mudar quando quiserem”.
3#Os pais (homens) não se preocupam com os seus filhos
Dr. Carlos González: “Mentira. Nós sempre nos preocupamos com os nossos filhos, seja de maneira direta, dando banho, brincando e os consolando, quando choram, por exemplo; seja de maneira indireta, quando saímos para trabalhar, de modo que a mamãe possa estar cuidando deles tranquila e não se veja obrigada a deixá-los numa creche”.
4#Estimulação precoce é importante
Dr. Carlos González: “Se você fizer uma pesquisa no Google pelas palavras ‘mother and baby’ verá um monte de imagens de mulheres brancas com seus filhos em atividades diversas, fazendo carinhos, brincando, acariciando etc. Se acrescentar a palavra ‘african’ aparecerão mulheres negras, não necessariamente africanas, carregando os seus filhos. Essa diferença nos faz pensar que nossas culturas têm formas distintas de entender esse tempo da mãe com o bebê. Cremos que aos estar com o bebê temos que que fazer coisinhas lindas, cantando, beijando, acariciando ele. Enquanto que as africanas põem os bebês nas costas e saem a trabalhar. Claro que o bebê necessita ouvir coisas bonitas de vez em quando, mas o que ele mais necessita é de um lugar calmo, tranquilo, e de saber que mamãe não vai embora. É certo que ele precisa passear, ver o mundo pra não ficar entediado, mas não por muito tempo, porque para ele tudo parece muito grande e ele se assusta com isso. O que ele quer mesmo saber é que sua mãe não vai deixá-lo”.
5#Criança tem de comer de tudo
Dr. Carlos González: “Dizer que a criança tem que comer de tudo é absurdo e perigoso. Em qualquer lugar do mundo, os supermercados oferecem mais porcaria do que comida e é isso o que muita gente come – salgadinhos, refrigerantes e por aí vai. É preciso comer comida de verdade – carne, frango, peixe, verduras e frutas – alimentos o menos processados possível. Os pais não precisam obrigar os filhos a comer. Não façam chantagem emocional como ‘poxa, fiz essa comida com tanto carinho e você não vai comer”. Digam apenas: ‘hoje temos macarrão’ ou ‘hoje temos verduras e frango.’ Tampouco devem insistir para que comam determinado alimento. Se os pais insistem, o único que vão conseguir é que o filho passe a achar insuportável aquela verdura que ele já não gostava, porque toda vez que ela é servida, os pais insistem muito para que a criança a coma. Se ela não quer comer nada, ok. Se não quer comer a verdura, mas sim o frango, tudo bem também. E se tiver sobremesa e ela quiser comer só isso, deixem-a comer. Se não querem que os filhos comam doces, não os comprem. O que não pode é encher a despensa de guloseimas e querer que a criança veja tudo ali e não coma nada”.
6#O bebê faz xixi nas calças ou até vomita para chamar a atenção
Dr. Carlos González: “Uma criança pequena não pode fazer xixi ou cocô em cima dela a propósito, para chamar a atenção. Desafio qualquer um a fazer xixi aqui na frente de todo mundo, com roupa e tudo. Ou que fique 20 minutos chorando sem parar, gritando e cuspindo. Há quem diga até que algumas crianças provocam o vômito para chamar a atenção. Tudo isso é bobagem. Se a criança faz xixi nas calças é porque escapou. Quando ela vomita, é porque vomitou de verdade”.
7#A amamentação é obrigatória
Dr. Carlos González: “As mães amamentam porque faz parte da vida, porque se sentem bem, porque querem, mas se elas não se sentem bem assim, não desfrutam desse momento, não devem amamentar. O médico só tem em conta uma motivação – a saúde. Eles vão dizer à mãe os benefícios da prática, mas ela leva em consideração vários outros aspectos – sua situação econômica, profissional, social, as próprias experiências e as da família – e em função de todas essas coisas tem gente que decide dar o peito até os três anos e tem quem decida não dar o peito. A mãe sabe o que é bom para ela – e nós teremos que respeitar suas decisões, assim como quando dizemos a alguém que não é bom fumar ou beber em excesso. Não posso obrigar ninguém nem catigar porque nao fazer o que recomendo”.
8#Bofetadas e castigos educam
Dr. Carlos González: “Uma criança não se torna boa porque foi castigada. O que ela aprende é que seu pai tem direito a bater nela, porque é mais velho e, logo, ela também poderá bater nas crianças menores. Da mesma forma, entenderá que deve fazer escondido aquilo que lhe proíbem”.
9#Existe uma hora certa para o desfralde
Dr. Carlos González: “As fraldas podem ser retiradas a qualquer momento. O problema é que o bebê pode fazer xixi ou coco a qualquer momento também. A partir dos dois anos e meio pode existir a esperança de que, ao tirar a fralda, em algumas semanas, o bebê resolva fazer xixi no peniquinho. Para ajudá-lo no período de transição até a retirada total da fralda, ele pode parar de usá-la em casa, mas colocá-la para sair. Se ele mesmo começa a pedir para nao mais usar a fralda é um sinal de que pode deixar de usá-la. Com quatro anos, é pouco habitual que a criança use fralda o dia inteiro, mas acontece. Já à noite, é normal que faça xixi na cama. Mesmo aos cinco anos, é comum que a criança faca xixi na cama uma ou duas vezes por semana. E um jovem de 14 anos que faça xixi na cama uma vez por mês tampouco é um problema. Tem gente que demora mais tempo, outros, menos, para controlar a vontade de fazer xixi”.
10#Telas são permitidas
Dr. Carlos González: A recomendação da Associação Americana de Pediatria (AAP) é que até os dois anos as crianças não assistam nada de televisão. O que as crianças veem nas telas são cenas de violência, maus comportamentos, publicidade e incentivo ao consumo. Muito melhor é deixar a criança brincando com os pais, com os amigos ou sozinha. Está comprovado que pais que veem muita televisão fazem menos caso que seus filhos também assistam à TV. Logo, os pais têm de desligar a TV e acessar menos as telas.
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O meu filho tem menos de dois anos e usamos a TV para que fique mais bem disposto quando está rabugento (é muito difícil vê-lo dessa maneira, muito mesmo). Nunca viu violência nenhuma, maus comportamentos nenhuns, pouca ou nenhuma publicidade e nenhum incentivo ao consumo. Enquanto ele está, apenas a baby TV fica ligada e pouco tempo. Não vemos os nossos programas a não ser quando dorme, ou se não estiver presente. Acho os desenhos animados da baby TV tranquilos, alegres, de cores suaves. Muitos deles são algo minimalistas parece-me que por uma questão de não sobreestimular. As músicas são agradáveis, adaptadas a crianças pequenas. As personagens riem-se das suas falhas e nunca se zangam. Não vejo onde possa estar o mal.