Da redação
Você dá selinhos na boca do seu filho? É bem provável que sim ou, ao menos, que já tenha feito isso antes, não? Para algumas famílias, a prática é comum e remete a uma relação de confiança entre a criança e seu responsável. Mas até que ponto beijar o filho na boca é uma boa ideia?
Para María José Lladó, psicopedagoga espanhola, os beijos na boca dos filhos podem ser algo saudável, se dentro de um contexto em que ambas as artes- pai/mãe e filho – se sentem cômodos com a prática. “Os beijos são a expressão de um grande apreço e dá no mesmo o lugar onde ocorrem”, afirma Maria José em reportagem sobre o assunto no El País.
Especialistas lembram porém que o selinho não é a única forma de manifestar carinho e amor entre pais e filhos. “Não é que o gesto esteja errado, mas o selinho é uma forma de contato íntimo e crianças ainda não estão preparadas para fazer essa escolha com autonomia e consciência como os adultos estão”, explica Gabriela Malzyner, psicóloga e psicanalista, em reportagem para a Universa, do Uol.
Ela ressalta que existem outras opções igualmente ternas e simbólicas de amor, como o beijo no rosto, na testa, o abraço, o cafuné ou o gesto de dar as mãos.
Essa é uma situação em que se pode ensinar aos filhos que eles têm autonomia sobre o próprio corpo – o que é fundamental para que se tornem indivíduos mais seguros e felizes. “Precisamos lembrar que o corpo é da criança, portanto é ela quem precisa aprender a arbitrar a forma como é tocada ou deixa de ser. Um dos elementos fundamentais da educação é autorizar que a criança possa arbitrar sobre o corpo dela, ou seja: poder dizer como ela quer ser tocada”, completa Gabriela que é mestre em Psicologia clínica pela PUC-SP e coordenadora do Núcleo de Crianças do Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo.
Devo, então, parar de dar selinho?
Conversar com as crianças sobre como elas se sentem nessa dinâmica é uma alternativa razoável, porque muitas vezes o selinho passa a ser um constrangimento para filhos já crescidinhos. “Se deixa de ser adequado para pais ou filhos, o selinho pode e deve deixar de acontecer”, ensina a psicóloga.
Para evitar pressões psicológicas, é importante abrir um canal de conversa com os filhos para que eles possam negar o acesso ao próprio corpo quando o quiserem. Isso também protege os pequenos de contatos físicos incômodos em qualquer ambiente fora de casa.
Na visão da especialista, o melhor jeito de ensinar autonomia é escutar a criança com carinho e mostrar que o consentimento dela é fundamental em qualquer circunstância — e que ela sempre pode e deve dizer como gosta e como não gosta de ser acessada (e acariciada) pelas pessoas. Atuando com amor e atenção, ninguém sai traumatizado da conversa, finaliza a reportagem da Universa.