Seu filho tem dificuldade para levantar da cama? Ao acordar, fica de mau humor sem querer puxar papo com ninguém? De fato, algumas crianças começam o dia de cara “fechada” e muitos pais ficam sem saber o que fazer para mudar esse comportamento.
Lembrar que a criança não é uma extensão dos pais, mas sim um sujeito com seus gostos e individualidades é importante nesse momento. “O adulto tem a vida mais acelerada, muitos compromissos a fazer no dia, e a criança tem o tempo dela. Se a gente acorda o filho nesse ritmo que é nosso – e não dele – pode ser que isso o deixe mais mau humorado”, diz a psicóloga Bruna Richter, do Rio de Janeiro.
Além disso, assim como no casal, um pode ser mais lento e outro mais acelerado, e ambos têm que se respeitar, o mesmo vale para a criança. “É importante entender de que maneira ela consegue se movimentar para respeitar o seu tempo, esse fator pode fazer toda a diferença”, afirma Bruna.
A psicóloga Karin Kenzler, de São Paulo, sugere inicialmente investigar se causas físicas como sono e fome estão interferindo na disposição da criança logo cedo. Noites mal dormidas ou poucas horas de descanso tiram o bom humor de qualquer pessoa, inclusive dos pequenos. “Se a criança acorda com sono porque dormiu tarde ou levantou várias vezes durante a madrugada e não dormiu bem, ou ainda se foi dormir em um clima ruim, porque brigou com alguém ou está triste por algum motivo, pode acordar de mau humor no dia seguinte”, relata a psicóloga. Ela aconselha os pais a conversarem com a criança antes de dormir, caso ela esteja com algum problema pontual, para que durma já mais tranquila. No caso de fome, Karin propõe que os pais testem se um copo de leite logo ao acordar favorece o bom humor. A seguir, as duas psicólogas listam outros possíveis fatores que podem interferir no humor ao acordar. Confira.
Dicas para acabar com o mau humor do seu filho ao acordar:
1. Seguir uma rotina
A afirmação é conhecida – e verdadeira. Criança precisa de rotina. Pela facilidade e correria do dia a dia, porém, tendemos a encaixar a criança na nossa rotina. O ideal, no entanto, é que os pequenos tenham seus próprios horários de forma a garantir uma boa noite de sono, respeitando o número de horas necessárias para que se recuperem a depender da idade. “A criança passa por muitos processos enquanto dorme, do desenvolvimento dos órgãos, o cérebro entre eles, e do próprio corpo, e isso demanda muito mais energia e descanso para que se desenvolva integralmente”, explica Bruna.
2. Respeitar a individualidade da criança
Há pessoas que acordam com disposição e são muito produtivas pela manhã, já outras levantam lentamente e têm de apagar o despertador várias vezes até conseguir sair da cama. “É importante saber com que criança a gente está lidando. Pode ser que ela estude de manhã, mas funcione melhor à tarde. Entender suas características é fundamental. Se ela acorda mais calada e os pais a invadem com muita informação e demandas, isso pode lhe causar um certo mau humor. Se for o caso, vale deixar a criança sozinha no canto dela e aguardar alguns minutos até que esteja mais disposta”, orienta Bruna.
3. Conversar
É importante que os pais se mostrem dispostos a conversar com o filho sobre por que ele apresenta mau humor ao acordar. “A criança é inteligente, ela tem a sabedoria do próprio corpo e consegue expressar do seu jeito o que está acontecendo”, diz a psicóloga do Rio de Janeiro. A partir do que ela conta, os pais poderão avaliar se é algo orgânico, que possa ser resolvido com pequenos ajustes na rotina ou algo que exija um tratamento mais estruturado, e mesmo a nível psíquico”, avalia Bruna.
4. Reconhecer os sentimentos
O mau humor é uma oportunidade para ter um diálogo com o filho e ajudá-lo a validar suas emoções. “No primeiro momento, o pai ou a mãe pode dizer que tem percebido que o filho não fica tão bem quando acorda. Mas sempre com o cuidado de acolher a criança, dizendo que a entende e que isso (o mau humor) pode ser normal, dando até exemplos de familiares que passavam por isso, encorajando assim o filho a que fale o que sente e a partir daí juntos pensarem em alguma solução”, aponta Karin. Só não vale, segundo a psicóloga, usar o mau humor como argumento para ficar o dia todo emburrado. “No geral, essa nova geração tem pouca resiliência para enfrentar a vida. Vivem reclamando de cansaço, não querem trabalhar, reclamam que o chefe é chato, mal aparece um problema e já querem mudar de emprego”, comenta Karin, que diz ser mais produtivo e saudável aceitar e agradecer pelo que temos. “A vida não é um mar de rosas e é preciso preparar a criança desde pequena a lidar com frustrações”, pontua. Isso não significa, porém, que deve-se contrariar a criança o tempo todo, mas mostrar a ela que é comum sentir-se cansada e desmotivada algumas vezes e será preciso aprender a lidar com isso. Dar exemplos próprios ajuda nessa compreensão. A criança poderá se espelhar na mãe se percebe que ela tampouco acorda feliz da vida todos os dias, mas ainda assim não deixa que isso atrapalhe a sua rotina. “É importante pensar em que legado queremos deixar a nossos filhos”.
5. Pensar em novas estratégias
Se você sempre acorda seu filho da mesma forma e vê que ele responde mal, tentar outras maneiras pode funcionar, lembrando que, no geral, a criança responde bem às novidades. Por exemplo, se todos os dias os pais acendem a luz do quarto, abrem a porta e fazem barulho para acordar o filho e ele se mostra incomodado, talvez valha chamar a criança e sair do quarto, dando um tempo para voltar a chamá-la novamente. “Talvez, essa prática demande mais esforço e tempo dos pais, mas tenha um impacto positivo”, sugere Bruna. Outra opção que a psicóloga dá é ao invés de só chamar o filho, já convidá-lo para fazer algo, como ajudar no preparo do café da manhã, o que serve como um estímulo maior para que ele levante. “Pensar em modos alternativos pode suscitar na criança novos comportamentos. E aí os pais observam o que é mais efetivo”, pondera Bruna. De qualquer forma, diz ela, você vai estar acordando mas de uma maneira diferente. Talvez seja essa a chave, não o ato de acordar, mas como isso está acontecendo.
6. Fazer brincadeiras
Karen sugere pensar em algo lúdico ou que provoque risadas na criança. Desafiar o filho para ver quem se veste mais rápido, por exemplo, ou lembrar de coisas boas que vão ocorrer ao longo do dia. “Mesmo na pandemia, há coisas boas acontecendo, como assistir ao desenho predileto, o doce que será servido de lanche, alguma brincadeira que a criança gosta de lembrar. Só não adianta falar de planos distantes, pois a criança tende a ser mais imediatista e não consegue pensar a médio e longo prazo”, comenta a psicóloga de São Paulo.
7. Destacar as coisas boas
A pandemia deixa o clima mais pesado para todos e os pais não devem esconder isso, mas podem ressaltar os aspectos positivos. “Vale falar algo como ‘está difícil mesmo levantar, a situação é triste e os dias estão mais chatos mas estamos todos juntos e com saúde e cinco dedos em cada mão.’ Cultivar as coisas boas e mesmo falar bobagens ajuda a dar risadas”, recomenda Karin.
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