Apenas 1% dos adolescentes do sexo masculino vai ao médico, revela pesquisa

Entre as meninas, a taxa de frequência ao médico é de 34%, segundo o estudo

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Apenas 1% dos adolescentes do sexo masculino vai ao médico; imagem mostra menino jovem sentado no chão mexendo no celular com uma bicicleta do lado
Pesquisa ouviu 267 jovens de ambos os sexos de 12 estados do país
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Pesquisa inédita feita pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revela que ainda é bem reduzido o número de adolescentes do sexo masculino de 12 a 18 anos de idade que frequenta o consultório médico: apenas 1% contra 34% de meninas da mesma idade que vão anualmente ao ginecologista.

O estudo faz parte da terceira edição da Campanha #VemProUro, da SBU, que acontece no mês de setembro, dedicado ao adolescente, e objetiva incentivar a ida dos meninos ao médico para avaliação, orientação e esclarecimento de medidas preventivas de saúde. Foram entrevistados 267 adolescentes de ambos os sexos, que estudam em escolas públicas e privadas de 12 estados brasileiros, sendo 170 meninos e 87 meninas.

De acordo com o idealizador e coordenador da campanha, Daniel Zylbersztejn, a diferença grande da ida das meninas ao médico em comparação aos meninos se reflete na qualidade de vida que as mulheres têm em relação aos homens. “Não é à toa que as mulheres vivem mais do que os homens. A mulher tem o hábito de se cuidar mais, de promover mais saúde do que os homens. Estes procuram o médico, essencialmente, quando têm algum problema de saúde e acaba não tendo uma rotina”.

Segundo o urologista, isso acaba tendo reflexos na vida adulta. Se o adolescente não cria o hábito de ir ao médico para fazer uma prevenção de doenças, de situações de risco, acaba entrando em contato com o uso de drogas, tabagismo, falta do uso de preservativos.

Em entrevista à Agência Brasil, Zylbersztejn destacou que a iniciativa destaca a importância de o adolescente ir não somente ao urologista, mas a um médico que tenha foco de atuação na adolescência, como um clínico geral, pediatra, médico de família, endocrinologista ou infectologista, para avaliar a saúde. “Há uma gama de profissionais que podem atender o adolescente”, disse.

Sexualidade

Em relação à sexualidade, a pesquisa identificou que 35% dos jovens não usam preservativos em relações sexuais. Isso vai ao encontro de pesquisas sobre Aids, que mostram que hoje o adolescente tem três vezes mais HIV (vírus da imunodeficiência humana) do que há cinco anos, observou Zylbersztejn.

“O adolescente está se cuidando menos e por mais que se tenha informação de que o preservativo é importante, essa comunicação de alguma maneira está sendo falha”, diz Zylbersztejn.

“O adolescente está se cuidando menos e por mais que se tenha informação de que o preservativo é importante, essa comunicação de alguma maneira está sendo falha”. Quinze por cento dos entrevistados já tiveram uma iniciação sexual, sendo que 44% não usaram preservativo na primeira relação, e 38,57% dos meninos revelaram não saber sequer colocar a “camisinha”.

Os dados preliminares da pesquisa mostram que falar sobre sexo ainda é tabu entre os jovens de 12 a 18 anos. Quase 50% dos meninos não se sentem à vontade para falar na escola sobre sexualidade, relações sexuais, doenças transmissíveis. Cerca de 30% não falam com os pais sobre esses temas.

“Eles preferem falar mais sobre sexo com os amigos (33%), 41,67% preferem não falar com ninguém “ou buscam informações sozinhos, o que é muito ruim, porque a chance de serem desinformados é muito grande. A internet é um saco de gatos e a desinformação aparece antes da informação”, disse o urologista.

Isolamento

A principal consequência que a pandemia trouxe para a vida dos adolescentes, apontada por 76% dos consultados, foi o afastamento do convívio dos amigos. “Isso mostra o quanto o grupo é importante para a formação da identidade desse adolescente.” Em segundo lugar, aparece para 67,65% o aumento da irritabilidade, da ansiedade e piora do humor.

Sobre a mudança de humor com a pandemia, 50% se consideraram mais ansiosos, 20% deprimidos, 30% normais. “Ou seja, quase 70% dos adolescentes sentem seu humor alterado por sintomas ruins de ansiedade e depressão. A adolescência não combina com distanciamento social. Muito pelo contrário. Eles sofrem bastante.”

Outra consequência do isolamento foi o incremento da permanência dos jovens diante do computador ou celular. A maioria passava antes duas horas conectados e agora estão passando mais de seis horas conectados. Antes da pandemia, 17,39% dos jovens afirmaram que faziam uso das tecnologias digitais. Atualmente, o índice subiu para 59,4%.

“Eles estão se conectando ao mundo virtual, não ao mundo real”, disse o médico, o que pode trazer dificuldade de sociabilização no futuro. “O adolescente precisa sociabilizar, precisa andar em grupos. Se ele não anda em grupos, não aprende a se sociabilizar da forma adequada, não aprende a troca de experiências reais. E, com isso, ele pode ter prejuízo na sua própria formação de identidade”.

A expansão do acesso às telas modificou a forma de exercer a sexualidade durante a pandemia, identificou a pesquisa: 16% dos adolescentes afirmaram ter aumentado a frequência de sexo virtual ou masturbação via conteúdos eróticos ‘online’.

Sedentarismo

O sedentarismo cresceu durante a pandemia: 60,29% dos adolescentes afirmaram ter reduzido suas atividades físicas. Somente 5% disseram que não houve nenhuma alteração que tenha prejudicado de alguma forma sua vida. “O sedentarismo aumentou, a alimentação piorou, a atividade física diminuiu”, constatou o médico Daniel Zylbersztejn.

Cerca de 67,1% dos adolescentes narraram beber refrigerantes de uma a duas vezes por semana e 54,2% aumentaram a ingestão de ‘junk foods’ (comida rica em calorias e de baixa qualidade nutritiva, como batata frita, salgadinhos, biscoitos recheados etc).

Zylbersztejn afirmou que essa primeira sondagem da entidade servirá como balizador de pesquisas futuras. A ideia é aumentar o universo de entrevistados, com melhoria de questionamentos e da forma de perguntar, buscando uma grande gama de escolas públicas e privadas.

A campanha traz satisfação a seus organizadores que já estão vendo interesse e maior engajamento de pais e responsáveis que têm participado de conferências na internet onde expõem suas dúvidas e indagações referentes aos filhos adolescentes, em especial do sexo masculino. (Reportagem da Agência Brasil)

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