O ensino remoto e as crianças com deficiências: elas foram esquecidas?

As escolas tiveram de se adaptar às pressas ao ensino remoto por causa da pandemia do coronavírus, mas a inclusão de crianças com deficiência parece ter sido esquecida por muitas instituições

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A criança com deficiência deve ser incluída nas atividades realizadas a distância neste período de pandemia é dever da escola.
Ao não participarem das aulas online, as crianças podem se sentir desmotivadas e distante dos amigos
Buscador de educadores parentais
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Em tempo de isolamento social e ensino remoto, videoaulas e atividades com vídeos se tornaram frequentes nas aulas online, mas será que essas ferramentas funcionam para a criança com deficiência? Como faz um aluno surdo para entender o que diz a professora no vídeo se não há tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras)? E como pode uma criança cega realizar uma tarefa que exige assistir a um vídeo que não vem com audiodescrição? No caso de uma criança com autismo, é adequado ela participar de videoconferências com a turma toda, mesmo sabendo que não reage bem a ambientes barulhentos?

“A creche em que minha filha está matriculada envia vídeos e pede para fazermos as tarefas, mas infelizmente minha filha não entende o vídeo e a tarefa não é adaptada para as dificuldades dela, mandam a mesma tarefa que mandam para os outros aluno típicos. Eu já falei na escola, mas não fui atendida”, diz Cybelle Dayane, mãe de Ana Beatrice, 3 anos, que tem transtorno do espectro autista em grau moderado. Cybele explica que vídeos com muitas falas e poucas figuras são de difícil compreensão para a sua filha. “As crianças sendo típicas já sofrem com essa pandemia e as aulas online, o que dizer das crianças atípicas, como a minha filha, em que o desenvolvimento não é igual ao de outras crianças?”, questiona a mãe que vive em Serra Talhada, no interior de Pernambuco.

Diversos são os relatos e queixas de pais quanto à falta de adaptação das atividades a distância para a criança com deficiência, seja ela da educação infantil ou do ensino fundamental. A verdade é que as escolas tiveram de se adaptar, às pressas, para oferecer ensino remoto por causa da pandemia do coronavírus. Mas a inclusão da criança com deficiência, que já não ocorria como deveria na educação brasileira (embora esteja prevista em lei), parece ter sido esquecida.


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A criança com deficiência deve ser estimulada a participar das mesmas atividades que os colegas de turma

“Todas as crianças, sem exceção, têm o direito de participar das atividades propostas pela escola, sejam presenciais ou remotas. Não podemos aceitar retrocessos por conta da pandemia, privando a criança com deficiência do acesso ao conteúdo curricular”, afirma Rodrigo Hübner Mendes, fundador e superintendente do instituto Rodrigo Mendes, ONG que luta por uma educação de qualidade para a pessoa com deficiência. Ele lembra que as equipes pedagógicas devem planejar as aulas considerando diversificar estratégias e flexibilizar atividades, de modo a incluir a criança com deficiência.

Entenda-se por criança com deficiência as crianças com síndrome de Down, com deficiência física, deficiência auditiva, deficiência visual, deficiências múltiplas, transtorno do espectro autista (TEA) e altas habilidades (superdotação), entre outras condições.


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Maria Teresa Eglés Mantoan, coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença (Leped), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica que os docentes não precisam imaginar atividades completamente diferentes para o aluno com deficiência, nem tentar simplificar a realização para evitar problemas. “Nós não temos a capacidade de fazer ninguém aprender. Temos que dar liberdade para que o aluno possa aprender e considerar o que ele consegue e o que não tem interesse em aprender. O bom professor considera o ensino igual para todos, mas o aprendizado completamente díspar”, declarou a educadora para a revista Gestão Escolar, referindo-se ao trabalho na sala de aula mas que, feitas as devidas ressalvas, pode servir também para o momento atual.

Falta de adaptação de atividades online pode prejudicar vínculo da escola com a criança com deficiência 

O aluno com deficiência, portanto, não pode ser tratado de modo diferenciado, sendo dispensado de algumas atividades e convocado a fazer outras mais simples, enquanto os colegas fazem as tarefas “de verdade”. Ele tampouco deve ser deixado somente a cargo do auxiliar da classe nem com outros profissionais especializados no atendimento a deficiências. Promover essa separação não é saudável à criança e pode prejudicá-la na volta às aulas em aspectos como:

  • Falta de entrosamento com os colegas e destes com a criança com deficiência
  • Desconhecimento do conteúdo trabalhado durante a quarentena
  • Perda do vínculo com a escola e desinteresse em ir para as aulas 

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Base Nacional Comum Curricular reforça necessidade da escola ser inclusiva

A pedagoga e colunista da Canguru News, Priscila Boy, recorda que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento normativo que orienta a elaboração dos novos currículos escolares, destaca a necessidade de a escola contribuir para aplacar toda discriminação e preconceito e dialogar com a multiculturalidade. “A convivência e respeito à diversidade na escola deve ser uma dimensão fundamental de uma instituição acolhedora”, diz ela. 

Mariana Rosa e a filha Alice
Mariana Rosa e a filha Alice

Para a jornalista Mariana Rosa, autora do blog e do livro “Diário da Mãe de Alice” e ativista da inclusão, a adoção das videoaulas como única ou principal estratégia de manutenção do vínculo entre professores e alunos revela uma preocupação apenas em retomar o curso do que já havia sido planejado, sem levar em conta a diversidade de desafios que se apresentam, nem a adaptação do currículo para a compreensão do momento atual. “Nesse cenário, crianças – como as com deficiência – que não souberem ou não tiverem condições de responder a contento à proposta ficam excluídas”, comenta ela em artigo para o portal Lunetas.

“Aquelas para quem o plano de aula nunca é pensado. Aquelas para quem nem a matrícula na escola é garantida. Aquelas de quem nunca se presume competência. Aquelas cujo direito de estar em uma escola “comum” ainda é questionado. Aquelas cujas mães têm se desdobrado para adaptar materiais. Aquelas de quem se pensa que nada têm a oferecer. Aquelas que são vistas como falhas, doentes, obstáculos. Aquelas cuja presença na escola precisa ser permanentemente negociada. Aquelas que não são vistas, porque há sempre um laudo em primeiro lugar”, escreve Mariana em trecho do artigo.

Academia Americana de Pediatria recomenda atenção especial à criança com deficiência na volta às aulas

No início de maio de 2020, a Academia Americana de Pediatria (AAP) publicou orientações sobre a reabertura de escolas e disse que certas crianças podem ser capazes de acessar o ensino à distância e continuar a crescer academicamente, enquanto outras podem ter dificuldades de acesso ou de se envolver com as aulas online. Segundo a academia, certas situações devem receber atenção, entre elas, a dos estudantes com deficiência:

  • Os alunos com deficiência podem ter mais dificuldade com os aspectos sociais e emocionais da transição para fora do ambiente escolar e de volta a ele;
  • A escola deve desenvolver um plano para garantir uma revisão de cada criança com um Programa Educacional Individual que determine as necessidades de educação compensatória para ajustar o tempo de instrução perdido, bem como outros serviços relacionados

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Unesco alerta para necessidade de inclusão nas aulas a distância durante pandemia

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) também divulgou durante a pandemia uma lista de recomendações às escolas para o ensino a distancia, prevendo a inclusão de pessoas com deficiência. Veja abaixo algumas das principais orienrações:

1. Escolher as melhores ferramentas e tecnologias disponíveis para o ensino remoto, como por exemplo, recursos de acessibilidade que garantam o acesso a vídeos por todas as pessoas. Entre eles, instrumentos de audiodescrição, tradução em Libras e Closed Caption.

2. Assegurar programas inclusivos, o que pode exigir instalar equipamentos dos próprios laboratórios da escola na casa dos estudantes, para que estes possam de fato participar das aulas a distância.

3. Criar comunidades e aumentar a conexão, promovendo diálogo constante entre professores da sala de aula comum e profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE), tal como deles com estudantes e familiares, favorecendo a troca de experiência e a criação de estratégias para enfrentar dificuldades.

4. Apoiar pais e professores quanto ao uso de tecnologias digitais, equalizando as capacidades tecnológicas dos estudantes e de quem vai atendê-los. A escola precisa organizar formações de curta duração e prover condições básicas de trabalho dos professores, prevendo acesso à internet para vídeo conferências.

5. Criar regras e avaliar a aprendizagem de cada estudante, considerando as particularidades de cada um e colocando tudo isso em discussão com os pais e os estudantes. Ao mesmo tempo, os professores devem avaliar continuamente a aprendizagem, evitando sobrecarregar os pais.

Quem são as pessoas com deficiência

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, de 2006, diz que: pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.

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6 COMENTÁRIOS

  1. a professora da sala, nem sempre se apresenta disposta a fazer algo por este aluno, passei por isso com meu filho, so a profe AEE que se disponibilizava.. nunca foi feito um video diferente nem ao menos um audio para meu filho, fiquei triste. ainda tinha que cumprir apostila

  2. A minha dificuldade com aulas remotas é adaptar o conteúdo para uma criança com paralisia cerebral sem cognição e sem coordenação motora com uma família que só mandam ela para a escola e para o acompanhamento médico para não perder o benefício.

    • Olá, Claudenice, tudo bem? O ideal é que seja feito um trabalho conjunto envolvendo o professor, o coordenador pedagógico e o atendimento educacional especializado (AEE). Todos têm de trabalhar juntos e convidar a família para entrar nessa parceria, principalmente neste momento em que a criança está em casa. E se a escola for pública, pode-se também recorrer à secretaria de educação para algum apoio técnico. Existem ainda plataformas como o DIVERSA (https://diversa.org.br/), que compartilha experiências de educação inclusiva na prática, as quais talvez possam ajudá-la na sua prática escolar. Abs, Verônica.

  3. As crianças especiais tem sim q ser enquadrada em tudo, e direto delas só governo tem q se mexer para q elas possam ter esse acesso, e pra ser tratadas como todos, mas essas aulas online ao meu ver não ajuda muito, vão pro próximo ano com esse perdido

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