A gravidez na adolescência não é apenas uma questão de planejamento familiar, mas também de saúde mental. De acordo com a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, a prevalência de gestações não planejadas em mulheres com menos de 20 anos é alta, varia entre 15% e 20%, e quando combinada com os desafios da maternidade pode aumentar as chances de depressão e ansiedade.
Rafaela chama a atenção para o fato de que tanto o período da adolescência quanto o do perinatal (que inclui a gestação até sete dias após o nascimento do bebê) são considerados momentos de risco para a saúde mental. Daí a importância de campanhas como a da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, realizada anualmente na primeira semana de fevereiro, para ampliar o debate sobre o tema e garantir que adolescentes tenham acesso à informação e suporte adequado.
“Precisamos abordar essa temática, levando informações e orientações não somente aos adolescentes, mas também aos pais, professores e profissionais da saúde. Sem o apoio deles, o trabalho pode ser ineficaz”. Ela destaca que muitas gestações na adolescência não ocorrem apenas por falta de informação, mas por fatores sociais, religiosos e culturais, que impactam a segurança das relações sexuais desses jovens.
Mais acolhimento, menos cobrança
Além das pressões emocionais e culturais, as adolescentes grávidas enfrentam barreiras sociais que tornam o período ainda mais desafiador. “A sociedade costuma responsabilizar apenas a jovem pela gravidez e ignora o papel do parceiro. Isso agrava a pressão e aumenta o risco de isolamento e abandono emocional”, alerta a psicóloga. Para ela, o acolhimento deve incluir não só a mãe, mas os garotos que desejam assumir a paternidade e enfrentam o preconceito da sociedade.
Ainda segundo a psicóloga, a prevenção da gravidez na adolescência vai além do acesso a anticoncepcionais. É necessário criar um ambiente seguro para que os adolescentes tomem decisões com mais consciência e desenvolvam relações saudáveis.
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5 formas de acolher grávidas adolescentes:
1. Evite julgamentos
Frases como “você estragou sua vida” aumentam o isolamento da adolescente. Acolher sem críticas é essencial para que ela se sinta segura e tenha o suporte necessário para enfrentar a gestação.
2. Incentive o início do pré-natal
Muitas jovens escondem a gravidez por medo ou vergonha, o que pode atrasar o início do pré-natal e aumentar os riscos de complicações. Oferecer apoio emocional é essencial para que busquem atendimento médico o quanto antes.
3. Fique atento a sinais de depressão
Rejeição ao bebê, tristeza persistente ou falta de motivação podem ser sinais de depressão. Nem toda rejeição ao bebê está ligada a transtornos mentais, mas uma avaliação psicológica é fundamental para entender o contexto e oferecer suporte adequado.
4. Apoie a continuidade dos estudos
O abandono escolar é uma das consequências mais comuns da gravidez precoce, comprometendo o futuro da jovem e do bebê. Com apoio familiar e uma rede de apoio, é possível reorganizar a rotina para que ela conclua os estudos.
5. Oriente sobre os direitos disponíveis
Muitas adolescentes desconhecem que têm acesso a serviços como pré-natal gratuito pelo SUS e, em casos previstos em lei, ao aborto legal. Informar sobre esses direitos pode salvar vidas e oferecer mais segurança durante a gravidez.