Bullying: como agir com a vítima e o agressor 

Para psiquiatra, tanto quem sofre quanto quem pratica o bullying devem ser tratados

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Menino sentado no chão esconde rosto com os braços
Práticas de agressão e violência têm de ser denunciadas assim que identificadas, orienta médico
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O bullying e outras formas de agressão física e psicológica têm se tornado comum nas escolas e, apesar de ser um crime previsto em lei, muitas vezes é confundido com simples brincadeiras.  

O psiquiatra Pérsio de Deus destaca que o ato tem dois principais envolvidos: quem pratica e quem sofre o bullying. “Eles igualmente precisam de tratamento, porque essa questão pode acarretar problemas para a vida toda”, explica o médico com 40 anos de experiência no tratamento de distúrbios psíquicos. 

A vítima do bullying 

O psiquiatra ressalta que é importante saber distinguir momentos divertidos de outros que envolvem agressão. “Se incomoda, há humilhação ou violência, é bullying. E precisa ser denunciado na primeira prática, porque só piorará. Não dá para esperar se resolver sozinho”, diz. 

Quem sofre bullying precisa descobrir seus potenciais, de acordo com o médico. “A questão principal é se afirmar em outras áreas e ver como é capaz. Praticar esportes, artes marciais, participar de um grupo de teatro para vencer a timidez, o importante é buscar algo que o ajude a perceber seus potenciais”, aconselha. 

O próximo passo é diminuir o significado da dor e do sofrimento, dissociando-se dos fatos. “Isso é conquistado com a psicoterapia, que mostrará a quem sofreu bullying que o motivo utilizado pelos agressores é secundário em sua vida e que ele pode se livrar dessas consequências negativas”, explica o médico. 

Por fim, quem sofre bullying e tem um bom tratamento corre menos riscos de desenvolver depressão e de, também, oprimir outras pessoas, futuramente. “Há casos em que o oprimido vira opressor por um ato de defesa – e ninguém quer isso”. 

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O agressor – individual e em grupo 

Segundo Pérsio de Deus, são vários os motivos que levam uma pessoa a praticar bullying contra a outra: demonstração de poder, ⁠tendência à impulsividade, ⁠ter sido ou ser vítima de violência ou maus tratos, ⁠necessidade se se destacar perante o grupo, ⁠prevalência ou descontrole dos instintos agressivos, ⁠tendências à psicopatia ou sociopatia e repetição de um comportamento que vivencia na própria casa em que reside. “Existem interpretações diversas para essa agressão, que deve ser feita caso a caso. Quando o bullying é realizado de forma individual, sempre se valendo da força ou do poder por parte de quem o pratica, pode ser um aviso: ‘cuidado comigo, você tem que se submeter a mim, eu mando em você’. Atrás desse ato pode se esconder um medroso ou fraco, que se sente ameaçado e, por isso, encontra alguém para ameaçar”, explica o médico. 

Já na prática em grupo, é bastante utilizada a ferramenta da humilhação, da gozação, quando se tenta mostrar a inferioridade do outro. “Existe a necessidade de se afirmar perante o próprio grupo, provocando o medo. Quem age em grupo busca apoio para se sentir mais forte”, explica. 

Muitas vezes, pais e familiares não acreditam que seus filhos sejam capazes de praticar bullying, dificultando a cessão do ato e o tratamento do agressor. “Quando os responsáveis são convocados a uma reunião, eles são capazes de acusar o agredido e proteger seus filhos, porque ninguém quer ter um ente querido na posição de agressor. Isso só deixa a situação pior”, enfatiza o especialista. 

A idealização dos pais sobre os filhos acontece, muitas vezes, porque os próprios pais praticam o bullying em casa – e seus filhos estão apenas replicando o gesto. “Alguns pais identificam o comportamento dos filhos e sabem que é o mesmo que eles fazem – mas acham aquilo normal. Outros nem sequer percebem que é um erro, mas precisam ser alertados pela escola. E todos devem saber que existe tratamento”. 

Como agir e tratar? 

Pérsio de Deus diz que existem algumas ferramentas terapêuticas disponíveis, conforme a gravidade dos casos: medicamentosas, psicoterápicas, com a inclusão de esportes, acesso a artes e trabalho voluntário, por exemplo. “Cada caso e nível de agressividade demandarão a combinação de tratamentos, mas todos os agressores precisam ser tratados”, aconselha. “Dependendo da intensidade e violência do bullying e da idade em que foi realizado, as marcas sem um tratamento muito eficaz podem perdurar por toda a vida”. 

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