O crescente uso de dispositivos eletrônicos por crianças em idade escolar é um dos temas que gera bastante preocupação entre pais, educadores, psicólogos e outros profissionais voltados ao cuidado da infância. Pesquisas sugerem que o acesso indiscriminado pode expor as crianças a conteúdos inadequados e afetar negativamente seu desenvolvimento social, cognitivo e físico.
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul analisou comportamentos e ações maternas nos últimos anos, envolvendo mães de crianças entre 5 meses e 5 anos. Os resultados indicaram que as práticas parentais em relação ao uso das tecnologias são complexas e influenciadas por diversos fatores, como a dinâmica familiar, o ambiente doméstico, o estresse dos pais e a ausência de uma rede de apoio.
Nas escolas, especialistas ressaltam a importância de oferecer suporte às famílias ao incorporar novas tecnologias no currículo da educação infantil. Palestras e conversas podem ajudar a qualificar o uso dessas ferramentas para potencializar o aprendizado das crianças de forma cuidadosa, responsável e respeitosa à infância.
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“As tecnologias são inseridas na escola como um meio adicional pelo qual as crianças podem experimentar e ampliar suas investigações”, explica Denise Pinhas, coordenadora da Educação Infantil da Carandá Educação.
Pinhas exemplifica como as crianças exploram a tecnologia sem perder a essência da infância. “Uma turma de crianças no jardim da escola foi incentivada a explorar a natureza. Elas fotografaram folhas, examinaram-nas com microscópios e assistiram a vídeos sobre plantas de outros lugares. Em seguida, discutiram suas descobertas em grupo, combinando a curiosidade natural com as ferramentas digitais. A tecnologia, quando usada conscientemente, pode transformar a aprendizagem em uma experiência rica e envolvente”, afirma.
Fernanda Bocchi, coordenadora de Tecnologia Educacional do Centro Educacional Pioneiro, concorda com Pinhas. “Produzir narrativas digitais em diversos contextos é fundamental para que as crianças se acostumem ao processo de construção da comunicação digital. No Pioneiro, o uso das tecnologias digitais se inicia entre 4 e 6 anos de idade, de forma gradual, em atividades que aprimoram tanto a cultura comunicativa quanto a digital, como criação de animações e registros de experiência”, diz.
Para Silvana Scavone, professora de letramento digital do Colégio Magno, as tecnologias digitais também podem servir ao ensino de linguagem. “Na Educação Infantil, o trabalho com as linguagens oral, escrita, musical e artística começa a ser desenvolvido. Nada mais natural, então, do que iniciar práticas de linguagem digital com as crianças”. Scavone explica que o uso é pontual e conforme a necessidade do professor, com todas as ferramentas e aplicativos selecionados pelos educadores para serem seguros, educativos e apropriados à faixa etária.
Apesar do uso cuidadoso e responsável das tecnologias por essas instituições, todas reconhecem a importância de educar também os pais sobre o uso seguro e responsável da tecnologia com as crianças.
Para tanto, as escolas promovem eventos com workshops e programas educativos voltados a alunos, famílias e colaboradores, para debater conteúdos e dicas sobre educação midiática e internet segura. No Colégio Magno, uma das ações visa manter um canal de comunicação permanente com as famílias para compartilhar informações e tirar dúvidas sobre o uso pedagógico de ferramentas digitais. Já a Carandá Educação realiza conversas com os pais e os convida a compartilhar suas experiências profissionais relacionadas à segurança e ética digital.