Aprendizados a partir das vitórias femininas nas Olimpíadas de Paris 

Destaque no pódio das mulheres brasileiras é uma inspiração para refletir com as crianças sobre temas como representatividade, preconceito e desigualdade de gênero

86
A ginasta Rebeca Andrade durante apresentação nos Jogos Olímpicos de Paris
A ginasta Rebeca Andrade durante apresentação nos Jogos Olímpicos | Foto: Divulgação/COB
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Em um país onde o esporte que mais gera dinheiro é o futebol masculino, chama a atenção o fato de que as três medalhas de ouro do Brasil nas Olimpíadas de Paris foram conquistadas por mulheres. O destaque feminino no pódio brasileiro pôde ser visto em 12 das 20 medalhas olímpicas – ou seja, 60% do total. Sem falar que, neste ano, elas eram 153 – 55% – dos 276 atletas brasileiros. 

Esses dados são muito representativos para as nossas crianças, mas muito além deles, as olimpíadas trazem outros aprendizados que podem ser trabalhados nas escolas e com as famílias. E não se trata do famoso espírito esportivo, mas sim de aspectos como a história, a representatividade, a vitória contra o preconceito e o debate sobre problemas de desigualdade de gênero. Aproveitando que os jogos recém acabaram, podemos aproveitar o assunto em alta para conversar sobre ele com as crianças.  

História das mulheres nas Olimpíadas 

Você sabia que os jogos olímpicos eram disputados somente por homens? Apenas nos anos 1900, na chamada “Era Moderna” das olimpíadas foi que as mulheres conseguiram espaço para disputar os jogos. No Brasil, a estreia feminina aconteceu em 1920 e desde então o país marcou presença em todas as edições, com exceção de 1928, de acordo com o Comitê Olímpico Internacional. Essas informações podem servir de ponto de partida para falar sobre a importância da participação feminina nos jogos olímpicos e como ela tem sido ampliada ao longo do tempo.  

LEIA TAMBÉM:

Representatividade  

“Mulherada, pretos e pretas, é possível”, disse a judoca Beatriz Souza, após ganhar a primeira medalha de ouro brasileira em Paris. A ginasta Rebeca Andrade, que conquistou a segunda medalha de ouro, também falou sobre representatividade racial em entrevistas ao destacar a importância de ser “mais uma referência negra para todas as crianças e adultos”, assim como a antecessora Daiane dos Santos foi para ela. Hoje comentarista de TV, Daiane viralizou num discurso emocionado ao falar sobre Rebeca e a necessidade de reconhecer “o valor das mulheres pretas”, lembrando que os negros representam mais da metade – 56% – da população brasileira.  

As vitórias nestes jogos olímpicos, portanto, servem de inspiração para mostrar a mulheres e meninas que elas podem chegar aonde quiserem. “É sobre a possibilidade de se ver como uma campeã em todos os espaços. É poder enxergar seu corpo naquela roupa, ver seus cabelos naqueles penteados e principalmente se reconhecer na dança, no sorriso e no gingado”, escreveu a psicóloga Juliana Prates, no artigo “Por Rebecas e Daianes que inspiram meninas a se sentirem campeãs”, publicado no portal Lunetas. 

Preconceito  

Que tal abordar a história da boxeadora argelina Imane Khelif, que mesmo com tantas polêmicas sobre sua identidade de gênero, ganhou o ouro? Vale falar não só dela, mas de todas as mulheres atletas que não estão enquadradas no padrão estético que a sociedade valoriza, levantando questionamentos sobre o que é discriminação e como cultivar comportamentos respeitosos perante todas as pessoas. 

Problemas sociais  

O Brasil registra o quinto lugar em números de feminicídio mundial. Segundo a Lei 13.104/2015, o feminicídio ocorre quando há morte de mulher “por razões da condição de sexo feminino”, o que inclui crimes de violência doméstica e familiar, bem como menosprezo ou discriminação à condição de mulher.  

A maioria feminina entre os atletas brasileiros e o maior número de vitórias que elas trouxeram ao país podem gerar boas reflexões sobre práticas equivocadas como o machismo, que propaga a superioridade masculina, e a misoginia, que consiste em atitudes de ódio contra as mulheres. Debater esses comportamentos que permeiam o nosso cotidiano e geram violência contra as mulheres é fundamental para ajudar a mudar o cenário de desigualdade social e de gênero ainda tão arraigado na cultura brasileira.  

Nestas olimpíadas, as mulheres deram um tapa na cara da nossa sociedade machista. Fico muito feliz que a minha filha e todas as crianças deste país possam aprender tanto por meio dos jogos.  

Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

Mauricio Maruo
É pai da Jasmim e do Kaleo, e companheiro da Thais. Formado como artista plástico, atua como educador parental desde 2016. É fundador do "Paternidade Criativa", uma empresa de impacto social que cria ferramentas de transformação masculina através do gatilho da paternidade. Criador do primeiro jogo de Comunicação Não Violenta direcionado para pais e crianças do Brasil.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui