A importância do protagonismo dos professores e das professoras na educação 

A pedagoga Miruna Genoino destaca o papel desse profissional que atua como mediador e é um profundo conhecedor do desenvolvimento da infância

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Os professores devem fazer provocações para que os alunos reflitam sobre a própria experiência
Buscador de educadores parentais
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Por Miruna Genoino* – A educação costuma ser alvo de inúmeras discussões acaloradas nas quais diferentes profissionais compartilham suas opiniões sobre os temas mais efervescentes do momento. Uso de eletrônicos, casos de violência na escola, a necessária inclusão de propostas de valorização das questões étnico-raciais são alguns exemplos nos quais mídia, famílias, e profissionais de diferentes áreas aportam suas contribuições.  

Em grande parte dessas discussões, é comum sentirmos falta de um fator essencial: a voz e o protagonismo de professores e professoras. Onde estão estas vozes? Onde está o lugar de valorização de seus saberes? Ainda é preciso discutir sobre protagonismo na educação? Sim, é preciso e necessário, não só aquele que desejamos construir e incentivar entre crianças e jovens, mas também dos profissionais da educação, que possuem experiências diversas sobre tanto do que é tratado.  

Assim, no processo de incentivo ao protagonismo é preciso enxergar a professora ou professor como mediadores. Eles têm o papel de profundos conhecedores do desenvolvimento da infância, entendendo o que se espera de cada faixa etária – não para encapsular as crianças, mas para ajudar a interpretar as reações e os modos de atuação delas. Este vasto conhecimento é essencial para planejar atividades que dialoguem com a atualidade, que preservem o necessário cuidado com bens culturais que a escola deseja preservar e que ofereçam voz e espaço de atuação ativa das crianças e jovens.  

É comum que circule a ideia de que, na infância, é preciso deixar com que as crianças façam as suas próprias investigações e que neste sentido o professor ou professora deve ser um profundo observador. Isso não significa, no entanto, ter um olhar espontaneísta, não significa deixar as crianças trilhando seu caminho sem intervenções. O papel do adulto é o de ser um modelo, de trazer experiências que as crianças não seriam capazes de acessar sozinhas, bem como de fazer provocações para que reflitam sobre a própria experiência.  

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Ou seja, a mediação docente é fundamental. Não apenas para selecionar e organizar materiais, planejar propostas desafiadoras, acessar repertórios variados, por exemplo, para incentivar uma ampliação do processo de leitura, mas também para garantir um espaço acolhedor. Esse profissional, a partir de seus estudos e reflexões, consegue enriquecer as investigações das crianças por meio dos estímulos específicos, de cada turma, que proporciona significados próprios de cada vivência, e porque é profundo conhecedor das infâncias.  

Experiências cotidianas  

Como docentes, o que significa, na prática, ter um cuidado e atuação planejada no desenvolvimento desse protagonismo infantil? Fundamentalmente, criando atividades em que as crianças possam fazer escolhas. Quando trazermos uma atividade pronta, onde tudo que será feito já está decidido, desde o que será escrito até o que será memorizado, as crianças passam a ter um papel apenas de reprodução. Então, é muito importante repensar esse planejamento da rotina e analisar como a proposta pode oferecer à criança o espaço para criar, para elaborar, para elaboração de um registro próprio.  

As crianças precisam, ano após ano, vivenciar novas oportunidades que convoquem à participação. Uma proposta relevante, por exemplo, é realizar rodas de conversa nas escolas, ou mesmo assembleias em que as crianças podem pensar sobre o dia a dia da escola. Assim, passam a entender melhor de onde vem e quais são as decisões sobre as quais podem opinar e quais são regras que precisam seguir.  

Em algumas escolas, como no espaço ekoa, em São Paulo, isso é possível por meio da organização de projetos. Há sempre um tema de trabalho que envolve diferentes áreas do conhecimento, mas cada turma vai criando seu próprio percurso a partir das suas investigações pessoais. Assim, em um projeto sobre a flora brasileira para as turmas de primeiro e segundo ano, uma turma fica mais focada em olhar para as plantas que são ervas e envolvem preparos de chás, com um tipo de uso relacionado à culinária; já outras turmas estudam as árvores, como acontece seu plantio e quais dão frutos, por exemplo. Vemos que há planejamento docente, mas também protagonismo infantil.  

Outra proposta que tem sido muito instigadora de reflexões são as oficinas de ideias que acontecem em grupo multietários, com crianças de 4 a 11 anos. Ali elas vão elaborar e pensar juntas nos interesses, nas investigações que querem realizar sobre temas que vão desde receitas de comida à criação de jogos e propostas corporais. Vale destacar que esse não é não é um processo rápido, pois é preciso considerar as ideias que surgem no coletivo. Mas é um projeto que tem servido para descobrir e deixar evidente, desde cedo, o interesse de cada criança por certos assuntos.  

Todos esses direcionamentos têm algo em comum: a escuta da criança e do adolescente e o olhar cuidadoso de um professor e uma professora que, com seu saber pedagógico e sua experiência na educação, conseguem avançar e refletir sobre a prática, diariamente. Por isso, é preciso incluir esse tempo de escuta no planejamento escolar de todos os envolvidos, crianças, adolescentes e profissionais da educação, pois as melhores práticas são aquelas que estão instauradas em toda a instituição e não por uma determinada professora ou professor de modo isolado. 

* Miruna Genoino é pedagoga, mestre em Escrita e Alfabetização pela Universidad de La Plata e orientadora pedagógica do espaço ekoa 

*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.

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