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A solidão na maternidade atípica

A notícia de que uma criança com autismo ficou sozinha por 12 dias, após a mãe falecer em casa, deixou em choque muitas outras mães. Porém, mais que postar comentários com carinhas tristes em rede social, é preciso oferecer ajuda a essas mulheres "tão inviabilizadas e solitárias", diz a educadora parental Mônica Pitanga

Mãe olha para bebê que tem aparelho sonoro atrás da orelha
Mães de crianças diagnosticadas com algum tipo de deficiência têm que lidar com o afastamento de familiares e amigos
Buscador de educadores parentais

Essa semana eu li a seguinte notícia: “Em São Sebastião do Paraíso, região sul de Minas Gerais, Ana Paula de 39 anos faleceu em casa após sofrer um infarto fulminante. O filho dela, um menino de 6 anos que está dentro do espectro autista e ainda não fala, ficou 12 dias sozinho no imóvel até que o corpo da mãe foi encontrado já em estado de decomposição”.

Esse caso, que chocou outras mães, trouxe à tona o isolamento provocado pela maneira preconceituosa como a sociedade ainda trata pessoas com deficiência, principalmente quando tem comprometimentos severos como o filho da Ana Paula.

Frequentemente mães de crianças diagnosticadas com algum tipo de deficiência têm que lidar com amigos que não se aproximam, convites de aniversário que não chegam, o afastamento das crianças no parquinho, pais que vão embora, tias que não levam para passear, avós que dizem que não sabem lidar. Essas mulheres muitas vezes se veem sozinhas e abandonadas, como Ana Paula que ficou 12 dias morta sem ser notada.

Existe um provérbio africano que diz “É preciso uma aldeia inteira pra educar uma criança”. É preciso uma rede de apoio, pessoas dispostas a fim de tentar ajudar nessa missão que é trabalhosa e desgastante.

Na maternidade atípica, muitas vezes a mãe será a aldeia inteira dessa criança. E tentando suprir as necessidades do filho e dar conta do seu papel, ela vai se esgotar e inevitavelmente vai falhar e se sentir culpada.

Ana Paula não será a primeira nem a última vítima desse desamparo. Ao invés de só fazer comentários com carinhas tristes na rede social ou dar tapinhas nas costas das mães ditas especiais e chamá-las de guerreiras ou heroínas, que tal ligar para uma mãe dessas agora e perguntar como ela está e se precisa de alguma coisa?

Você pode convidá-la para ir com o filho na sua casa, passar uma tarde por exemplo. Pode se oferecer para fazer um almoço ou limpar a casa dela; pode aprender como lidar com as necessidades da criança, para quando ela precisar de uma tarde livre, você ser a rede de apoio dela. Se você mora longe, pode fazer um pix para pagar uma sessão de terapia, ou mandar um lanche pelo iFood para que ela não precise ir para cozinha hoje. Pode doar parte do seu tempo para escuta-la numa videochamada.

Com criatividade, boa vontade e afeto, podem surgir muitas soluções. Pequenos gestos de carinho e cuidado podem fazer uma grande diferença na vida dessas mães que são tão inviabilizadas e solitárias. Todo ser humano precisa se sentir aceito e importante. Toda mãe precisa de uma rede. Que sejamos aldeia, Que sejamos rede.


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Mônica Pitanga
Mônica Pitanga é mãe atípica e rara. Formada em Administração de Empresas. Certificada em Parentalidade e Educação Positivas, Inteligência Emocional e Social e Orientação e Aconselhamento Parental pela escola de Porto, em Portugal. Certificada também em Disciplina Positiva pela Positive Discipline Association. Fundadora da ONG Mova-se Juntos pela inclusão.

1 COMENTÁRIO

  1. Olá,
    Sou mãe atípica também e hoje procurei um texto sobre a solidão dessas mães. Na época desta notícia senti uma revolta que só quem tem filho especial (sem rede de apoio) consegue entender melhor.
    Abraço!

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