Livros são uma ferramenta poderosa de aprendizado, proporcionando uma série de benefícios às crianças, do desenvolvimento cognitivo à ampliação de vocabulário. Contudo, clássicos que marcaram gerações, como as obras de Monteiro Lobato, têm sido questionados por refletirem estereótipos raciais, de gênero e culturais. É o caso da obra “Caçadas de Pedrinho”, criticada por apresentar elementos que reforçam noções preconceituosas, especialmente em relação a povos originários e à questão racial.
Em um momento de necessária valorização da diversidade e da inclusão, é essencial discutir como podemos lidar com tais livros de maneira construtiva.
David Santos, pedagogo e autor do livro “A Menina que Já Nasceu Criança”, explica que o papel dos educadores, pais e responsáveis não é ignorar o conteúdo dessas obras, mas usá-las como pontos de partida para debates críticos. “Não devemos afastar essas obras da nossa realidade educacional, mas sim, mediá-las de maneira consciente. Os clássicos podem ser grandes ferramentas para discutir questões como racismo, estereótipos e a construção das identidades, desde que abordados com respeito e uma visão crítica”, afirma.
A saída, portanto, ao lidar com livros que, ao mesmo tempo em que são ricos em conteúdo literário, contêm elementos que podem reforçar preconceitos, está na mediação e na reflexão. Para o educador, a abordagem pedagógica deve incluir a história e o contexto da época em que esses livros foram escritos, e, principalmente, promover discussões que estimulem os estudantes a pensarem sobre as ideias contidas nas obras.
“Por exemplo, ao trabalhar com Monteiro Lobato, podemos contextualizar a obra com o cenário histórico e social da época e refletir com os alunos sobre como essas questões são tratadas hoje, levando-os a questionar e compreender a evolução dos conceitos sobre raça, cultura e respeito”, relata o especialista.
Em um ambiente educacional, onde a diversidade cultural e a valorização dos povos originários são temas cada vez mais importantes, como no caso do Dia dos Povos Indígenas, comemorado em abril, é fundamental que o conteúdo literário também se adeque a uma educação inclusiva. David aponta que uma estratégia importante é proporcionar leituras complementares que apresentem uma visão mais plural da cultura e história desses povos, além de promover atividades que incentivem os alunos a questionarem estereótipos e preconceitos de forma construtiva.
“Tratar desses temas de maneira crítica não significa desmerecer os clássicos, mas sim, usar a literatura como uma oportunidade de aprendizado e transformação”, conclui o pedagogo.
A educação tem o papel de não apenas transmitir conhecimento, mas de promover a reflexão sobre as transformações sociais e culturais. Discutir a literatura de maneira construtiva é uma maneira de formar cidadãos conscientes e capazes de compreender as complexidades do mundo em que vivem, sempre respeitando e valorizando a diversidade em todas as suas formas.