Quando o assunto é o filho favorito, é comum os pais dizerem que amam a todos igualmente. Mas nem sempre é assim. Pesquisas já mostraram que o favoritismo existe. Um estudo feito pela Universidade da Califórnia revelou que 65% das mães e 70% dos pais admitiram serem mais ‘chegados’ a um dos filhos do que aos outros.
O gênero, a ordem de nascimento ou mesmo a aparência podem ser motivo da predileção. A conjuntura de vida pela qual os pais passam quando a criança nasce, a afinidade de gostos e valores compartilhados, entre uma série de variáveis, também podem influenciar as preferências dos pais por algum dos filhos, em especial. Algumas crianças se destacam, talvez, pelo caráter dócil ou alguma outra carácterística que agrada em cheio aos pais.
Mas o fato de a criança receber mais afeto, apoio e atenção do pai e ou da mãe em detrimento dos irmãos pode ter efeitos prejudiciais, não apenas para os menos favorecidos, mas para a família inteira, afirma reportagem sobre o assunto publicada no El País.
A partir dos quatro anos uma criança já consegue perceber se é tratada de modo desigual em relação aos irmãos. Isso pode provocar um mal-estar e se tornar um círculo vicioso em que ela se comporta mal para chamar atenção e assim cria uma relação tensa com os progenitores.
Ao perceber o favoritismo, muitos irmãos se desentendem e se afastam. O estudo espanhol Criação Parental e Psicopatologia Alimentar, publicado no Centro Nacional de Informação Biotecnológica (NCBI) diz que essa percepção também pode trazer hábitos alimentares não saudáveis, frustração, episódios de ansiedade e depressão e insegurança no trato com os outros. Mesmo o filho favorito pode se sentir pressionado pelas expectativas que essa preferência acarreta ou até sentir-se culpado pelo tratamento diferenciado entre irmãos.
Ter mais afinidade com um filho pode ser natural, mas isso não pode ser motivo para amar mais a um deles, nem para criá-los por meio de critérios diferenciados, dizem especialistas. Toda a prole tem de se sentir amada e valorizada por si mesma. É fato que os afetos, o tempo de dedicação e a confiança variam ao longo do tempo e as relações passam por altos e baixos. Para a espanhola Marta Rebón, tradutora, crítica literária e colunista do El País, é essencial fazer entender a cada um o que existe de único nele e saber incentivar suas qualidades.