Você, que trabalha no meio corporativo e lida com pessoas ‒ um time, clientes ou fornecedores, por exemplo ‒ me diga se já passou por alguma das situações que vou comentar abaixo:
- Seu gerente disse que você precisa ser mais profissional, pois você teve um total de três minutos de atraso essa semana e isso é inaceitável para ele.
- Um cliente te chamou de “negão”, como uma forma de brincadeira, na frente de outros clientes.
- Em uma reunião, você foi interrompido pelo supervisor, que disse que suas ideias eram fracas, mas ele passou a propor exatamente a mesma coisa e recebeu aprovação de todos os presentes.
- Durante a realização de um projeto, você, mulher, ouviu um dos líderes comentar com o colega que você estava de mau humor, pois não tinha sido “bem comida” na noite passada ou estava “naqueles dias”.
Se você já passou por alguma dessas situações, como se sentiu?
Em muitos dos casos, engolimos o famoso sapo, pois são em geral situações criadas por pessoas com cargos superiores aos nossos. Não vou me aprofundar nas questões de igualdade ou discriminação, pois o texto não é sobre isso, mas quero falar desse sapo que vive dentro da barriga e faz parte da vida de muitos de nós.
Antes de mais nada, uma breve suposta explicação sobre a origem da expressão engolir sapo.
A expressão não tem uma origem definida, mas muitos acreditam estar associada às dez pragas do Egito Antigo, onde Deus mandou uma infestação de sapos devido ao governo tirano de um faraó. Correta ou não essa história, a expressão é tão antiga que já não precisa de muita origem, não é mesmo?
E por mais antigo que seja o ditado, o gosto de engolir um sapo não é agradável. E se os sapos que estamos engolindo se tornam mais frequentes e fortes, a prática muda de nome e passa a se chamar assédio.
A denúncia de assédio (moral ou sexual) é o maior nível que um sapo pode alcançar, quando ele já está de um tamanho difícil de ser engolido.
Mas por que existe esse tipo de sapo?
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A nossa relação com a criação de sapos existe há muito tempo e arrisco a dizer que aprendemos desde pequenos o gosto desse bicho.
Os sapos podem se manifestar através da fala, dos gestos ou das atitudes, mas eles só existem porque há uma sensação de poder de uma parte sobre a outra, ou seja, quem fabrica os sapos não é a mesma pessoa que os cria.
Um exemplo bem claro dentro do meio corporativo é a relação que os trabalhadores têm com seus gestores, supervisores ou líderes (aliás não gosto muito do uso das duas últimas palavras). Caso a relação seja uma hierarquia de poder, é muito provável que teremos sapos sendo criados, agora quando a relação é cooperativa e colaborativa os sapos são em bem menor número.
Mas você deve estar se perguntando, por que uma coluna sobre o que acontece no meio corporativo está em um portal de parentalidade como a Canguru News?
Pois é, a relação que temos dentro da nossa casa também gera muitos sapos. Um bom exemplo disso são as cargas mentais geradas nas mães pela falta de cuidados dos pais.
Que mãe nunca engoliu um sapo quando seu companheiro não levantou de madrugada para cuidar do bebê com a desculpa de ter de acordar cedo no dia seguinte para trabalhar? Ou quando teve de ouvir que a casa está uma bagunça e ela deveria arrumar, afinal ela fica em casa “apenas” cuidando do bebê? Esses são só dois exemplos dentro dos infinitos sapos que uma mãe engole.
Lembram que falei que os sapos só existem quando há uma sensação de poder? Essa sensação de poder normalmente favorece os homens, pois dentro da estrutura machista que vivemos temos muito mais homens fabricando sapos e muito mais mulheres engolindo e criando esses “bichos”.
Minha dica para reduzir o número de sapos tanto nas relações de trabalho quanto nas relações familiares é adotar sistemas colaborativos e igualitários, sem níveis de hierarquias de poder. Todos temos nossas funções e um ajuda e cuida do outro. Isso tem um nome, se chama comunidade.