Reinado Dividido

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Por Rafaela Matias


Aprenda a lidar com a chegada de um irmãozinho na casa e como contornar o ciúme de quem, até então, era o dono do pedaço

Desde que, movido pela inveja, Caim assassinou Abel, a relação entre irmãos é motivo de preocupação. Afinal, os especialistas concordam que os laços de sangue não são suficientes para garantir o amor na relação fraternal. O ciúme pode, sim, pôr tudo a perder — ainda que as consequências não sejam tão dramáticas quanto as narradas no capítulo 4 do livro de Gênesis, da Bíblia.

Assim que decidem ampliar a prole, os pais precisam começar a trabalhar duro com o objetivo de criar um ambiente de união e companheirismo entre os filhos. É o que pretende a decoradora Júlia MonteiroGrávida de seu segundo bebê, ela e o marido, o engenheiro Gustavo Cambraia, já preparam a primogênita, Elisa, de 3 anos, para a chegada do irmãozinho. “Estamos levando a Elisa a todos os exames de ultrassom para que ela entenda que já existe uma vida se formando”, conta Júlia. Além disso, os pais a incluem em tarefas que envolvam o novo filho, como decorar o quarto do bebê e fazer compras para o enxoval. A psicóloga infantil Vânia Barros aprova a postura e explica que envolver o filho mais velho nas mudanças é o primeiro passo para tornar mais fácil a aceitação de um novo membro na família. “A criança precisa perceber que o irmão está vindo para somar e não para roubar o amor dos pais”, afirma. “É essencial mostrar os lados positivos dessa chegada.”

Vânia ressalta, entretanto, que o ciúme e a raiva são sentimentos naturais e é possível — até esperado — que o filho mais velho manifeste certa rejeição em um primeiro momento. Saber disso é um alívio para a estudante de enfermagem Danielle Braga, que está tentando ajudar a filha mais velha, Maria Eduarda, de 8 anos, a lidar com a frustração de não ser mais filha única. Há cinco meses, Duda ganhou uma irmãzinha, Manuela, mas está com dificuldades para dividir a atenção dos pais e avós. “Ela anda chorando por     qualquer motivo e reclamando muito”, diz Danielle. Um dia, a mãe estava ouvindo um choro abafado e foi ver o que acontecia. Era Duda, que tentava tapar com as mãos a boca da irmã. “Mas essa menina é muito chorona”, reclamou, ao ser repreendida. Duda ficou mais ansiosa e está descontando na alimentação, o que já causou efeitos negativos na saúde. “O colesterol dela aumentou, e o médico desconfia que tenha relação com o lado emocional.”

Brigas X companheirismo

Para que crianças como Duda arrumem formas mais saudáveis de compreender o novo momento, a psicóloga Vânia Barros dá algumas dicas (veja quadro).

Ela explica que é essencial que os pais se ponham no lugar do filho e entendam que aquele sentimento não é voluntário, mas inconsciente. Tirar um dia para passear com o mais velho e deixá-lo ajudar nos cuidados com o neném são boas opções para que ele se sinta amado e perceba que faz parte da família. “Dessa forma, a criança vai melhorando e se livrando aos poucos do comportamento regredido”, acredita Vânia. Também é importante explicar como será a realidade dos primeiros meses com um bebê. “Muitas vezes os pais criam uma expectativa muito grande na criança de que o irmão será um grande amigo. Mas aí nasce aquele ser que só dorme e chora e a decepção é inevitável.”

Se bem conduzida, a relação que a princípio era de ciúme e rejeição pode se transformar em uma grande amizade. É o caso das irmãs Gabriella Garcia, de 24 anos, e Raphaella, de 23. Elas lembram as brigas frequentes durante a infância. Na época, era difícil acreditar que as duas se transformariam nas companheiras de hoje. Após passarem anos pedindo à mãe para dormir em quartos separados, elas conseguiram esse luxo. Pouco tempo depois, no entanto, se arrependeram. Quebraram a parede que as dividia e unificaram os cômodos. “Quando amadurecemos e criamos independência, o ciúme passa e a gente consegue ver aquele irmão como um amigo”, afirma Gabriella. “Hoje, eu não consigo imaginar a minha vida sem ela.”

Para as mamães Danielle e Júlia, não há forma melhor de vislumbrar o futuro dos filhos. Com uma relação de amizade e companheirismo, os irmãos podem dar a mais gratificante recompensa pelos anos de batalha dos pais.

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