Aprendizes de mestre-cuca

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O chef Felipe Rameh, com Francesco e Antônia.
O chef Felipe Rameh, com Francesco e Antônia:
“As crianças aprendem a apreciar os sabores e fogem dos alimentos industrializados”

Primeiro foram os adultos que se reuniram à beira do fogão de chefs renomados ou em escolas de gastronomia para aprender o bê-á-bá das receitas. Não tardou para surgirem — e se tornarem um sucesso — os reality shows em que cozinheiros amadores tentam surpreender jurados para lá de exigentes. Em um segundo momento, foram os pequenos que invadiram as cozinhas. Restaurantes estrelados e escolas de culinária passaram então a oferecer cursos para as crianças descobrirem como se faz desde prosaicos brigadeiros de chocolate a elaborados menus com entrada, prato principal e sobremesa. As TVs não ficaram para trás e trataram de bolar programas com a meninada e as panelas, a exemplo do MasterChef Júnior —que estreou no dia 20 de outubro na Band e reúne os jurados da versão adulta, Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin — e o Que Marravilha! Chefinhos, do mestre-cuca francês radicado no Rio de Janeiro Claude Troisgros no canal pago GNT.

Liz, Clara e Sofia, na Mordô: elas dizem que a melhor parte das aulas é se deliciar com a produção

Liz, Clara e Sofia, na Mordô: elas dizem que
a melhor parte das aulas é se deliciar com a produção

“Quando crescer, quero ser chef”, diz, cheio de certeza, Francesco Paratella, de 6 anos, enquanto prepara um macarrão ao sugo supervisionado pelo cozinheiro Felipe Rameh, no restaurante Alma Chef, em Lourdes. Desde o início do ano, meninos e meninas se divertem ali criando delícias como pães de queijo recheados, massas e cupcakes. Outra aluna que já herdou o gosto pela cozinha é Antônia, filha de Rameh. Com apenas 2 anos, ela prova de tudo e surpreende ao falar de seu alimento favorito: brócolis. Para o pai, não há orgulho maior do que ver o encanto da garotinha pela comida. “Nosso papel é mostrar os alimentos sob uma perspectiva lúdica e divertida”, afirma. “Assim as crianças têm a chance de aprender a apreciar os sabores e podem se interessar pelo preparo, fugindo dos industrializados, cada vez mais presentes nas mesas.”

Rafael (às dir.): bolo de confete é seu prato preferido
Rafael (à dir.): bolo 

de confete é seu 
prato preferido

Proprietárias da Mordô Espaço Gourmet, em Santa Tereza, Ale Oliveira e Tássya Carvalho contam que os cursos de culinária para crianças surgiram de um pedido dos próprios pais que frequentavam o espaço. “Muitos nos falavam que assim poderiam incentivar os filhos que não queriam saber de comer”, lembra Tássya. E parece que deu certo. As irmãs Sofia, de 11 anos, e Clara Crocco, de 9, fazem aulas junto com a prima Liz Bicalho, de 11. Além de provarem alimentos novos, como legumes e verduras, as três levam os ensinamentos para casa e já conseguiram até ganhar um dinheirinho com as invenções culinárias. “Uma vez fizemos cookies e vendemos no prédio, para conseguir dinheiro e pagar mais aulas”, conta Liz. Observando as três garotas comentarem sobre a importância do alho-poró para compor o sabor do prato, é impossível não se surpreender. “Nós precisamos comer de tudo, porque um bom chef sempre prova o que faz”, afirma Sofia. A pequena já tem até uma dica de ouro: ousar nas combinações para tentar encontrar novos sabores. “Eu invento muito na hora de cozinhar e o engraçado é que às vezes dá certo.” Sobre a melhor parte das aulas, as três são unânimes em responder que é a hora de se deliciar com a produção. Mas também existe outro momento disputado. “A segunda melhor parte é quebrar os ovos”, brincam.

Matteo: bolinho de grão-de-bico entre os pedidos à sua mãe
Matteo: bolinho de grão-de-bico entre os pedidos à sua mãe

Fazer a meninada experimentar novos sabores é mesmo um ganho e tanto para os pais. A atriz Gyuliana Duarte lembra do dia em que Matteo, de 6 anos, chegou em casa e pediu para comer bolinho de grão-de-bico. Ele conheceu o ingrediente em sua escola, no São Bento, enquanto ajudava a preparar a merenda. “O Matteo está mais interessado na cozinha e quer experimentar tudo o que eu preparo”, conta Gyuliana. Na Educ Unidade Pedagógica, localizada no Sion, os pequenos já vêm enumerando os ingredientes de que não gostam. Mas a manha dura pouco. “Quando o prato fica pronto, eles acabam provando de tudo”, garante a proprietária, Cláudia Guimarães. Os alunos de até 4 anos de idade preparam bolos, rocamboles e outras gostosuras. Um dos primeiros aprendizes da escola, Rafael, de 3 anos, é filho dos cozinheiros Camila Hikari e Jorge Ferreira e não tem dúvidas sobre o seu prato preferido: bolo de confete. A irmãzinha, Joana, de apenas 6 meses, acompanha as aulas ao lado da mãe e jámostra interesse pela culinária. “Vou inscrevê-la no início do ano que vem”, afirma Camila.

Helena e Lívia, filhas da juíza Alice Birchal
Helena e Lívia, filhas da juíza Alice Birchal, que se diz uma negação na cozinha: receitas de feijão-tropeiro e comida mexicana

Mas não é necessário ter a gastronomia no sangue para se interessar pelas caçarolas. Foi, aliás, a total inapetência da juíza Alice Birchal que a fez matricular as filhas, Lívia, de 9 anos, e Helena, de 5, no curso da escola Brincando na Cozinha, no bairro Palmeiras, coordenado pela professora Carol Haddad. A mais velha aprendeu a fazer comida mexicana, e a mais nova, feijão-tropeiro. “Como eu não sei cozinhar, quis proporcionar às minhas filhas que tivessem esse contato mais próximo com a cozinha”, confessa Alice. Ainda que o pequeno não tenha ambição de se tornar um chef no futuro, os benefícios de quem aprende lições sobre o que está comendo vão muito além. “A cozinha também ajuda a criança a controlar a ansiedade, entender melhor questões de hierarquia e aprimorar suas noções de higiene”, acredita Cláudia. E essa febre não deve diminuir tão cedo. Embaladas pela procura dos pais e pelo sucesso dos programas de TV, as escolas fazem planos cada vez mais ambiciosos. Com curso somente para adultos há dez anos, a Escola de Culinária Decisão Atacarejo montou turmas infantis nas férias de julho em caráter experimental. O sucesso fez com que fosse aberta uma turma extra. E turmas regulares nos meses seguintes. “Vamos abrir mais duas filiais em 2016 e assim poderemos ter mais turmas de crianças”, afirma a diretora de marketing e RH Valéria Bax. Vêm mais chefinhos por aí.

Onde colocar as mãozinhas na massa

Alma Chef
AULAS: uma vez por mês
PREÇO: R$ 150,00 por aula
ENDEREÇO: Rua Curitiba, 2081, Lourdes
CONTATO: (31) 2551-5950
E-mail: [email protected]

Escola de Culinária Decisão Atacarejo
AULAS:
períodos de férias e de recesso escolar
PREÇO: R$ 10,00 por aula
ENDEREÇO: Avenida Olegário Maciel, 721, Centro
CONTATO: (31) 3207-9013

Brincando na Cozinha
AULAS:
aulas particulares e para grupos fechados
PREÇO: a partir de R$ 110,00 por aula
ENDEREÇO: Rua Senhora do Porto, 455, Palmeiras
CONTATO: (31) 9105-8166 | 8484-4981

Educ Unidade Pedagógica
AULAS:
uma vez por semana
PREÇO: R$ 145,00 por mês
ENDEREÇO: Rua Chicago, 295, Sion
CONTATO: (31) 2514-1417

Mordô Espaço Gourmet
AULAS:
turmas fechadas e em épocas comemorativas, como Páscoa, Carnaval, semana das crianças e férias de julho e janeiro. Cada aula tem duração de três horas e inclui três preparações: entrada, prato principal e sobremesa.
PREÇO: R$ 50,00 por aula
ENDEREÇO: Rua Eurita, 62, Santa Tereza
CONTATO: (31) 9192-4529

Para curtir na TV

COZINHANDINHO. Segunda a sexta, às 13h, na Nickelodeon.
MASTERCHEF JÚNIOR. Terça, às 22h30, na Band.
QUE MARRAVILHA! CHEFINHOS. Quinta, às 21h45, no GNT.
TEM CRIANÇA NA COZINHA. Segunda a sexta, às 12h45, no Gloob.

Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. Tem um filho, Martim, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.

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