Bons companheiros!

70
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Tanto na ajuda em momentos difíceis quanto no aprendizado diário, a convivência com os animais é considerada positiva para a formação dos pequenos.
 
Maria Luiza, Jesus Andrade, Maria Fernanda e Patrícia Alves Ávila, com seu minizoológico particular: convivência harmônica. Foto: Gustavo Andrade
Maria Luiza, Jesus Andrade, Maria Fernanda e Patrícia Alves Ávila, com seu minizoológico particular: convivência harmônica.
Foto: Gustavo Andrade

Quando a estudante de enfermagem Sara Caren Araújo teve uma gravidez interrompida no nono mês, em meados do ano passado, sua filha Maria Eduarda ficou inconsolável. Duda, como a pequena de 9 anos é chamada, estava cheia de planos para a irmãzinha, Alice. “Quando veio a notícia da morte, ela se afastou de todo mundo”, conta Sara. “De certa forma, Duda me culpava.” Com a chegada das férias escolares, a situação se agravou. Por sugestão de uma psicóloga que acompanhava o caso, Sara e seu marido, o coordenador de transporte Carleno Alves Araújo, começaram a cogitar a possibilidade de dar à menina um animalzinho. Foi aí que entrou em cena “Bug”, um fofo labrador marrom de olhos verdes. A família comprou o bichinho e Duda começou a cuidar dele como se fosse um bebê — o que ainda não mudou nem mesmo depois de o animal ter atingido 50 quilos. “Nunca imaginei que um cachorro pudesse amenizar a dor de enterrar um filho”, diz Sara. “Ele não apenas conseguiu isso como trouxe a alegria de volta para minha casa.”

Duda, aos 8 anos (foto acima) e atualmente: o labrador Bug ajudou a menina a lidar com a perda da irmã. Fotos: Gustavo Andrade e arquivos pessoais. Fotos [1] [2] Arquivo Pessoal | Foto [3]: Gustavo Andrade
Duda, aos 8 anos (foto acima) e atualmente: o labrador Bug ajudou a menina a lidar com a perda da irmã. Fotos: Gustavo Andrade e arquivos pessoais. 
Fotos [1] [2] Arquivo Pessoal | Foto [3]: Gustavo Andrade

O amor de Duda é demonstrado, principalmente, por meio dos cuidados. É ela quem prepara as refeições do pet e os dois dormem juntos. “Assim que vi o Bug, sabia que ele era meu”, lembra Duda. “Ele me faz feliz como um verdadeiro amigo.” A psicóloga Giselle Elediê aponta esse compromisso com o bem-estar do animal como um dos pontos positivos da convivência, além da grande ajuda que ele pode dar em situações específicas, como na de Duda. “Acompanhei crianças para quem o bicho de estimação tinha um papel significativo na maneira como lidavam com suas emoções, servindo, algumas vezes, de apoio em casos de luto e separação”, relata. Os animais também são essenciais em diversos tratamentos. Na equoterapia, por exemplo, a interação com os cavalos é utilizada para o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais. Estudos mostram que crianças com autismo que passaram por processo terapêutico com bichos de estimação apresentaram maior capacidade de interações sociais, segundo a psicóloga.

Outras formas de comunicação

Paris, de 5 meses, com a tartaruga Casquinha: herança de família
Paris, de 5 meses, com a tartaruga Casquinha: herança de família. 
Foto: Gustavo Andrade.

O animal favorece o aprendizado de questões essenciais da vida como o nascimento e a morte. “Muitas vezes, a morte de um bicho representa a primeira perda de uma criança”, afirma a médica veterinária Isabela Ferreira Pinto, sócia-proprietária do cemitério e crematório para animais Bosque das Águas Claras, em Macacos. “E é sempre importante contar a verdade ao pequeno, pois assim ele tem como superar a falta do amigo.” O bicho incentiva ainda o senso de responsabilidade e proporciona a possibilidade de entender outras formas de comunicação, que não a verbal. Mãe de Maria Luíza Boniar, com 17 anos, e de Maria Fernanda de Andrade, 3, a empresária Patrícia Alves Ávila sabe disso tudo por experiência própria.

Na casa dela, convivem harmonicamente as duas filhas, dois papagaios, um passarinho, um gato, um coelho, cinco yorkshires e uma cadela da raça labrador. Com o conhecimento prático de quem sempre teve animaizinhos em casa, desde que a filha Malu estava em sua barriga, Patrícia garante que esse convívio só fez bem, e muito. “Quando a Malu nasceu, eu tinha um pastor alemão, depois tive uma calopsita e um pato”, conta. “Na nossa casa sempre teve animais, todo mundo solto, todo mundo amigo.” A menorzinha, apesar da idade, é totalmente envolvida no cuidado dos bichos de estimação da família. “Agora estou com filhotinhos de uma das yorkshire e esse foi o segundo parto que a Maria Fernanda ajudou a fazer”, diz Patrícia. Além disso, Maria Fernanda sempre confere se tem ração para os bichinhos e ajuda a limpar o espaço em que eles vivem.

“Toda criança merece uma mãe e um pai que a deixe ter um bichinho de estimação”, acredita a médica veterinária Marcela Ortiz, mãe de Paris, uma menina de 5 meses que convive de perto com os vários bichinhos que circulam pela casa: tartaruga, cachorro, uma ave e até uma cobra. A tartaruga Casquinha tem 15 anos. Por ser um bicho dócil, a mãe sempre deixa que ela se aproxime da filha. “A bebê fica encantada com o bichinho. Como uma tartaruga vive mais de 80 anos, ela acabará sendo ‘herdada’ pela minha filha. Acho bom que sejam amigas.” Marcela acredita que os animais ensinam as crianças a conviver com as diferenças. “É um companheiro de brincadeiras que se comunica de outra forma, mas mesmo assim eles se entendem. Aprendem que é preciso dar carinho para receber”, considera. Os animais aceitam as diferenças bem melhor que os humanos, o que contribui na formação de crianças com necessidades especiais.

A pequena Sofia, de 1 ano, e o gato Albino Gregório: amizade desde a barriga da mãe
A pequena Isabel, de 1 ano, e o gato Albino Gregório: amizade desde a barriga da mãe. Foto: Gustavo Andrade

Mas é extremamente importante escolher bem o bicho que vai fazer parte da família. “Um cachorro pode ser um excelente companheiro ou, sem o tempo de dedicação ao ensino das regras, causar dificuldades no ambiente familiar”, diz Giselle. Outra questão são as alergias ou problemas respiratórios. Nesse caso, explica Marcela, é importante fazer um teste médico para saber exatamente qual a alergia da criança. Se for aos pelos do gato, nada a impede de ter uma ave ou um roedor. Para não correr riscos durante a gestação de Isabel, atualmente com 1 aninho, a educadora Poliana Braga procurou um médico e perguntou se precisaria se afastar do gatinho de estimação da família, Albino Gregório, durante os nove meses. “Descobri que muito do que se fala sobre os bichanos é mito. O médico me explicou que só é proibido que a grávida entre em contato com as fezes do gato, como as de qualquer outro animal”, conta. O mesmo vale para a pequena, que se tornou companheira inseparável de Albino. “Na gravidez, ele gostava de deitar na minha barriga ouvindo a Isabel. Hoje, costuma ficar embaixo do berço e corre para protegê-la sempre que ela chora.”

Se ter um bichinho de estimação é tudo de bom para as crianças, a psicóloga Giselle Elediê e a médica veterinária Marcela Ortiz alertam, entretanto, que é fundamental a participação, a responsabilidade e a presença dos pais durante todo o processo. “As responsabilidades têm de ser compartilhadas, mas são dos pais em primeiro lugar”, afirma a veterinária. Marcela ressalta que muitos pais reclamam que os filhos não limpam a gaiola do passarinho ou esquecem de colocar comida para o cachorro. “Por mais que uma criança seja atenciosa com seu bichinho, os pais nunca podem esquecer que são eles os responsáveis por aquela criança, aquele bicho e por toda a família.”

Existe idade certa para ganhar um bichinho?

Existe idade certa para ganhar um bichinho?A resposta para a pergunta acima é não. Segundo a psicóloga Giselle Elediê, especialistas indicam que a partir de 3 anos de idade a criança vive uma fase do desenvolvimento em que é capaz de entender as regras de convivência. Mas nos casos em que o animal já estava na família antes do nascimento, essa adaptação pode ser feita gradativamente, respeitando sempre a idade da criança. É o que recomenda também a veterinária Marcela Ortiz. De acordo com ela, não há idade certa para essa interação, mas tem de prevalecer o bom senso dos pais. “Minha filha vai fazer 4 meses e convive com várias espécies de animais desde que estava na minha barriga”, diz. “Quando os bichos se aproximam, ela sempre sorri e tenta tocá-los.” A primeira reação da menina é levá-los à boca. “Mas aí ela aprende que não pode, que existem regras e que nenhuma birra vai mudar isso.”

FOTOS
Gustavo Andrade
Arquivos pessoais

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui