Gael, de 7 anos: coleção de gorros, bandanas, arcos, chapéus e bonés no armário. |
Desde que completou 4 anos, Gael, hoje com 7, escolhe as roupas que quer vestir. E ai de quem o contrariar. “Às vezes, a mistura de estampas está um pouco exagerada e, quando ele tem de abrir mão de alguma peça, fica muito bravo”, conta a mãe, a estudante de design de ambientes Ana Luisa Gonçalves Prado, de 50 anos. Em seu guarda-roupa, não faltam camisas xadrez — geralmente usadas com malha por baixo —, calças jeans e muitos, muitos gorros, bandanas, arcos, chapéus e bonés. Tem até uma bota estilo country, que o pequeno ama. “Ele é superautêntico e nós achamos importante estimular esse comportamento”, diz. “Apesar de fugir da beleza comum, por ser cabeludo e franzino, Gael se aceita, se respeita e gosta de se olhar no espelho”, argumenta Ana Luisa. Segundo a psicóloga e educadora infantil Bruna Vieira, a vaidade começa a se manifestar quando a criança passa a se perceber como alguém, com desejos e vontades próprias, por volta dos dois primeiros anos de vida. “Tem a ver com autoestima, com essa ideia de querer cuidar de si”, explica. Em excesso, todavia, o desvelo pode ser sinal de alerta.
Todos os dias após sair da cama, Alicia, de 3 anos, permanece um bom tempo em frente ao espelho. Passa batom, penteia o cabelo, põe laço, pendura a bolsinha no ombro e confere as unhas feitas. “Minha irmã sempre foi muito vaidosa e a Alicia nasceu do mesmo jeito”, conta a mãe, a empresária Ludmila Bicalho Côrtes, de 35 anos. “Desde pequenininha ela adora se arrumar e todas as suas brincadeiras são assim.” A vaidade da menina, embora monitorada — ela não pode, de maneira alguma, andar de salto nem passar batom vermelho —, preocupa Ludmila. “A criança vai perdendo a infância porque desenvolve um lado que geralmente é aflorado na adolescência. Ela tem muitas fantasias, e sempre as veste, mas não é para brincar, é para ficar igual princesa”, lamenta. A angústia tem fundamento. De acordo com a psicóloga Bruna, imitar os adultos é sadio, sim, mas com moderação. “Considerando a importância da ludicidade no universo infantil, a vaidade passa a ser um problema quando a criança deixa de brincar para não estragar a maquiagem, por exemplo”, aponta. O transtorno, conhecido como adultização, é um fantasma que assombra um sem-número de famílias. “Elas crescem antes da hora e não lidam com os desafios próprios da sua faixa etária. Essas fraquezas, eu diria, aparecem depois, na adolescência ou mesmo na fase adulta.”
Maria Luiza, de 4 anos, quer fazer tudo o que a mãe, a empresária Letícia Grossi, de 40, faz. “Ela vai ao salão comigo, faz unha, massagem e, de vez em quando, pede para escovar os cabelos”, conta. “É supervaidosa, às vezes não quer sair de casa porque acha que está descabelada ou porque a roupa não combina.” Apesar de não achar ruim, Letícia não incentiva. “Eu vejo que as meninas da geração dela estão todas assim. Não me incomoda porque ela não chega a sofrer com isso, mas faço questão de deixar claro que a aparência não é a coisa mais importante da vida, e que ela não precisa agradar a todo mundo”, comenta. A psicóloga e psicanalista Adriane de Freitas Barroso é enfática quanto a isso. “Quando toda a questão do ser passa apenas o que vê no espelho, é sinal de que algo não vai bem”, ressalta. Para a especialista, a relação com o próprio corpo sempre foi um dos aspectos mais fundamentais — e mais difíceis — para o ser humano, independentemente da idade. “Não há como não se embaraçar com essa tarefa, não há como não se angustiar com isso. Mas há, sim, como ajudar os pequenos a se sentirem um pouco mais à vontade em sua própria pele, sem pular etapas e sem se precipitar”, garante Adriane.
Não existe fórmula, embora a solução, como quase tudo na vida, tenha a ver com um bom diálogo. “A criança pode até achar que tem o direito de fazer tudo, mas educar é estabelecer limites. É importante explicar as razões de forma objetiva, sem inventar mentiras, e, principalmente, ter firmeza nas decisões”, esclarece Bruna. Para Adriane, os pais são o olhar que vem de fora e que confere valor à imagem que os rebentos percebem no espelho. “Uma das coisas mais interessantes é descobrir o que faz de cada corpo único, com suas marcas, falhas e cicatrizes”, afirma. “A ideia de corpos igualmente formatados alimenta apenas o mercado de consumo.”
Alicia, de 3 anos, com a prima Luiza, de 8: a manicure Cristiane Gomes vai em casa fazer as unhas das pequenas
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Pode ou não pode?›› MAQUIAGEM: O uso de maquiagem deve ser evitado em crianças e adolescentes sempre que possível, já que ela está associada ao possível surgimento de fotossensibilidade, acne, toxicidade sistêmica e dermatite de contato alérgica e irritativa. De acordo com a dermatologista Laura Salles Dias Pinto, os produtos mais adequados para o público infantil são hipoalergênicos, que contêm. ›› ESMALTES: Assim como outros cosméticos, devem ser evitados devido ao seu potencial alergênico e irritativo. “Para crianças, recomenda-se o uso de esmaltes à base de água, que são removidos facilmente com panos e até mesmo com a própria água”, enfatiza Laura. ›› ALISAMENTOS E TINTURA: São contraindicados em crianças de até 15 anos, que têm mais sensibilidade e maior superfície de absorção no couro cabeludo. Xampus, cremes e outros produtos usados em procedimentos estéticos não podem conter substâncias químicas, por causa do alto risco de toxicidade sistêmica. ›› SALTO ALTO: “Crianças de até 11 anos não têm equilíbrio para usar salto alto”, esclarece a pediatra Eliane de Souza. Além de provocar quedas, o sapato pode levar à deformação do pé da criança e ao encurtamento do tendão de Aquiles. ›› REGIME: Se a criança está obesa, o ideal é consultar um nutricionista, montar um cardápio apropriado e rever os hábitos alimentares da família. Fora isso, o regime é contraindicado. “Não se pode privar uma criança que está em fase de crescimento dos nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento”, enfatiza Eliane. A falta de ferro, carboidrato e zinco podem levar, entre outras consequências, à dificuldade de concentração, baixo rendimento escolar e distúrbio de crescimento. ›› MALHAÇÃO: A atividade física é altamente recomendável a pequenos de todas as idades, principalmente as modalidades como balé, dança, ioga, pilates e pedalada. A academia, por outro lado, força as articulações da criança, que são muito vulneráveis, podendo causar lesões no joelho e no quadril e provocar fraturas no tornozelo, cotovelo e ombro. “O excesso de exercício físico encerra precocemente as fases de crescimento da criança”, acrescenta Eliane. O ideal é começar a praticá-lo a partir dos 13 anos. |