Por Larissa Coelho – Criada pelo escritor Bill Watterson em 1985, a tirinha Calvin e Haroldo (no original, Calvin and Hobbes) mostra a relação entre um esperto garotinho de 6 anos e um tigre bastante sincero e com tiradas desconcertantes. Um detalhe torna a relação especial: o tigre é, na verdade, de pelúcia. Mas esse não é o único caso de amigo imaginário da cultura pop. Para ficar em poucos exemplos, há os desenhos animados Meu Amigãozão, que passa no canal por assinatura Discovery Kids, e Mansão Foster para Amigos Imaginários, do Cartoon Network, além do livro Memórias de um Amigo Imaginário, de Matthew Dicks, cujo narrador, Budo, existe na cabeça do pequeno autista Max. Ter um amigo “imaginário” ou “invisível” é bastante comum por volta dos 4 ou 5 anos de idade. Eles podem assumir as mais variadas formas: crianças, monstros e até animais. E mesmo que deixem alguns pais e mães apreensivos, não são motivos para se preocupar.
“Os anos iniciais da vida de uma criança são marcados pela inventividade”, afirma a psicóloga especializada em desenvolvimento infantil Luciana Barros. “Especialmente após a aquisição da linguagem verbal podemos observar quão criativa ela pode ser.” Luciana explica que os amigos imaginários permitem à criança reproduzir diversos papéis e resolver conflitos internos. Para escrever a dissertação de mestrado “A Criação de Amigos Imaginários: um Estudo com Crianças Brasileiras”, a psicóloga Natália Benincasa Velludo, aluna da Universidade Federal de São Carlos, selecionou quarenta crianças entre 6 e 7 anos e as dividiu em dois grupos. Um com aquelas que relatavam ter (ou ter tido) amigos imaginários. Outro com as que nunca usaram esse artifício. Após a aplicação de uma série de testes, Natália chegou à conclusão de que a criação dos amigos imaginários pelas crianças, além de não ser correlacionada a déficits de desenvolvimento, ainda pode mostrar-se positiva para habilidades como a criatividade e o vocabulário.
A professora de inglês Adriana Barbosa lembrou de sua infância quando seu filho, Pedro, de 4 anos, contou que conversava com corujinhas. “Eu também tive amigos imaginários, mas o Pedro é diferente porque ele tem consciência”, conta. “Ele diz que tem ‘amigos imaginados’.” Além de não se preocupar, Adriana entra na brincadeira. Um dia, quando não podia dar muita atenção ao seu filho, pediu para que ele chamasse seus “amigos imaginados”. No que ele respondeu prontamente: “São corujas, mamãe, dormem de dia”. Os amigos de Adriana um dia simplesmente desapareceram de sua vida. De um ela nem lembra o nome — os outros dois eram Patman e Tubigue. E assim deve acontecer com Pedro. “Com o tempo, a criança cresce e desenvolve a percepção de que aquilo não é real”, afirma a psicóloga infantil Fernanda Leal. “O amigo imaginário é um recurso para o desenvolvimento da criança, facilitando a elaboração de questões inerentes à vida, como perdas, frustrações, limites, regras e convivência social.”
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