Nascidos para brilhar

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Conheça a história de cinco crianças que conciliam os estudos com a movimentada carreira de celebridade mirim
POR Isabella Grossi

 

Toda criança, um dia, já sonhou em ser artista. Para algumas, o desejo de viver no glamour não passa de uma fantasia. Para outras, porém, é mais do que isso: arregaçam as mangas, batem os pés e exigem, do pai ou da mãe, aquela forcinha. Cada vez mais presente na web, o público infantil tem elevado ao status de celebridade não somente os tradicionais modelos, cantores ou atores mirins. Uma nova leva de instagrammers, blogueiras e youtubers também vem dando show nas redes sociais e saindo do anonimato. Ser bem-sucedido numa atividade, e ter reconhecimento por isso, é, sob qualquer perspectiva, um ponto positivo. Mas quais os efeitos da fama precoce nos pequenos? “Seja na infância ou na vida adulta, tornar-se uma celebridade não traz, em si, nenhum prejuízo. Desde que se tenha bem claro que é uma situação momentânea, fugaz”, esclarece a presidente do comitê de Saúde Mental da Sociedade Mineira de Pediatria, Ana Maria Costa da Silva Lopes. Segundo ela, a criança tem de saber que o sucesso, para ser duradouro, vem com disciplina, humildade, esforço e reconhecimento de que ainda há muito a aprender. Só assim é possível lidar com as expectativas. “Quem percorre longos caminhos de êxito precisa, também, superar muitas perdas”, observa.  Reunimos cinco talentos mirins que estão despontando na carreira. Sem prejudicar os estudos, é claro, e sem abrir mão das brincadeiras. Confira.  

 

Diversão na passarela

João Monteiro,  modelo, 5 anos  PAIS: Raisla Monteiro, 33,  mãe em tempo integral e Bruno Campos, 47,  engenheiro civil. Foto: Gustavo Andrade
João Monteiro,  modelo, 5 anos  PAIS: Raisla Monteiro, 33,  mãe em tempo integral e Bruno Campos, 47,  engenheiro civil.
Foto: Gustavo Andrade

Desde que criou uma conta no Instagram (@joaomonteiro2011) para compartilhar o dia a dia do filho, João, de 5 anos, a mãe em tempo integral Raisla Monteiro, de 33 anos, viu o sucesso bater à sua porta. Moderninho e cheio de atitude, alardeando sua paixão por gravata borboleta e suspensório, o pequeno conquistou, em um ano, quase 11 500 seguidores. Fez curso de modelo e manequim e virou figurinha repetida nos desfiles das marcas infantis Tiger e Alphabeto. Apesar da pouca idade, João exibe um extenso portfólio na agência Mega Models e na Glam, resultado de muitas manhãs e sábados de testes e ensaios. Nos últimos dois anos, participou de comerciais do Festival Sarará, do banco Sicoob e da MRV Engenharia. Foi mini mister Brasil 2015 e fez testes para vinhetas da Rede Globo, em São Paulo. Infelizmente, acabou desclassificado. “Eu sinto que os meninos branquinhos e loirinhos ainda são mais requisitados”, condena Raisla. A rejeição, em João, ainda não causa impacto. “Ele ama desfilar e participar de sessões de foto, é superespontâneo, mas não entende muito bem o que significa o trabalho.” Cada dinheirinho que entra na conta do ator e modelo mirim vai para uma poupança, que, mais tarde, poderá ser utilizada numa faculdade, intercâmbio ou viagem. O plano, por ora, é continuar focando nos estudos e tentar fazer carreira como ator na TV e no teatro. “Ele decora tudo, tem muita facilidade”, conta a mãe. Para o pequeno, que já está matriculado no curso, o motivo é ainda mais prático. “É o que eu mais gosto”, responde.

 

Talento global

Iris Pereira,  cantora, 9 anos. PAIS: Kelen Cristina de Sousa Pereira, 34, cozinheira e Alexandre Rubim Nogueira, 34, autônomo. Foto: Gustavo Andrade.
Iris Pereira,  cantora, 9 anos. PAIS: Kelen Cristina de Sousa Pereira, 34, cozinheira e Alexandre Rubim Nogueira, 34, autônomo. Foto: Gustavo Andrade.

Quando completou 1 ano, Iris mal falava, mas já cantarolava as musiquinhas dos personagens Barney e Backyardigans. Aos 2, para o espanto da mãe, a cozinheira Kelen Cristina de Sousa Pereira, de 34 anos, acompanhava, com precisão, o refrão de Umbrella, da pop star Rihanna. Pouco tempo se passou até que a garotinha, hoje com 9 anos, bradasse, aos quatro cantos, que o sonho da sua vida era ser cantora. Quando soube da chamada para o The Voice Kids Brasil, ficou entusiasmada. “Mandamos o vídeo sem expectativa, mas ela foi chamada”, conta Kelen. A pequena, que é fã do Vander Lee, do Marcelo Jeneci e das cantoras Rihanna e Alicia Keys, estreou no programa com Felicidade, de Lupicínio Rodrigues. Aplaudidíssima, chegou até a semifinal, quando foi desclassificada. Passado o furor do sucesso imediato, a mineira de Santa Luzia começou a fazer aula de canto, violão, balé, jazz e teatro. Ensaia, toda semana, no estúdio e em casa, com o produtor musical Tiago Nonato, que a acompanha num pocket show de quinze faixas Brasil afora. Agora, está prestes a estrear o projeto As Novas Vozes de Minas, junto com outros participantes mineiros do The Voice Kids. “Eu acho que a fama deve ser superdivertida, mas, também, difícil”, elabora Iris. “A parte ruim é ter que ficar até tarde e tirar muitas fotos”, diz. Apesar de apoiar, a mãe segura as rédeas. “A escola é prioridade. Vou continuar investindo na carreira dela, mas com equilíbrio, deixando acontecer com naturalidade.”

 

Primeiro sinal

Maria Clara Rodrigues  de Freitas, atriz, 10 anos. PAIS: Liláz Rodrigues Lima, 46, secretária e Raphael Eustáquio de Freitas, falecido. Foto: Gustavo Andrade.
Maria Clara Rodrigues  de Freitas, atriz, 10 anos.
PAIS: Liláz Rodrigues Lima, 46, secretária e Raphael Eustáquio de Freitas, falecido. Foto: Gustavo Andrade.

Maria Clara, de 10 anos, estava na sala de aula quando recebeu um panfleto que mudaria a sua vida. Era uma propaganda das aulas de teatro e música do Centro de Atividades Musicais e Artísticas (CAMA). “Ela sempre me falou que queria ser atriz, então surgiu a oportunidade e eu fiz a matrícula”, lembra a mãe, a secretária Liláz Rodrigues Lima, de 46 anos. Não demorou muito para que a empreitada rendesse frutos. Depois de participar das apresentações anuais da escola, Maria Clara foi convidada a integrar o elenco da peça Noel e os Duendes, da autora e diretora Joselma Luchini. Foi um mês de apresentações no Espaço Cultural Luchini, em dezembro passado. Nem bem acabou de descer do palco e a atriz mirim começou a ensaiar para outro espetáculo, com a mesma equipe: O Mágico de Oz, que, em fevereiro, cumpriu temporada no Teatro Francisco Nunes, dentro da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança. Sua agenda, para este ano, continua movimentada. A pequena se prepara para estrear no papel principal do musical Matilda, com produção do CAMA. “É a coisa que eu mais gosto de fazer na vida”, dispara Maria Clara, que é fã da atriz e cantora Lua Blanco e do comediante Paulo Gustavo. “Eu era tímida e agora não tenho mais vergonha de nada.” Embora os ensaios tomem duas tardes das suas semanas, e a atuação seja profissional — com cachê e tudo —, a escola não fica para trás. “A leitura das peças até me ajuda com o português”, garante.

 

Show de likes

Carol Sausmikatt,  instagrammer, 7 anos. PAIS: Michele Moraes Antunes, 35, representante de roupas e André Ricardo Tobias Sausmikatt, 34, empresário. Foto: Gustavo Andrade.
Carol Sausmikatt,  instagrammer, 7 anos. PAIS: Michele Moraes Antunes, 35, representante de roupas e André Ricardo Tobias Sausmikatt, 34, empresário. Foto: Gustavo Andrade.

Bastava pisar na escola para que Carol, de 7 anos, recebesse uma enxurrada de elogios pelo estilo fofo — e superdescolado — de se vestir. A situação se repetiu tanto que a mãe, a representante de roupas Michele Moraes Antunes, de 35 anos, resolveu aumentar o público da menina. Em 2012, criou uma conta no Instagram  (@carolsausmikatt) para publicar seus looks do dia. “Ela ama se arrumar, e sempre pede opinião para saber se a roupa está boa”, conta. Os fãs logo começaram a aparecer, principalmente depois que a pequena foi parar num post da blogueira de moda mineira Thássia Naves, com quem encontrou durante um evento em BH. De lá para cá, além de arrebatar mais de 29 000 seguidores, fez campanha para marcas como Mio Bebê, Iorane Mini, Jolie et Jolie, Buá BH e Bué e virou garota-propagada do Petit Salon Magic, salão de beleza infantil lúdico, inaugurado no Belvedere. Sua rede social, hoje, é abarrotada de fotos dos modelitos que fatura. Os ensaios ocorrem todo mês. “Escolhemos seis vestidos e ela posa com todos no mesmo dia”, revela Michele. A rotina não chega a ser sacrificante, já que Carol tem carta branca para dizer que cansou de fotografar. A preocupação da mãe, atualmente, é outra. “Coloquei como usuário privado porque tenho muito medo dos casos de pedofilia”, confessa. Com o perfil gerenciado, a instagrammer segue caprichando nos looks e arrasando nas poses. Sua atual paixão, no entanto, são os tutoriais de beleza do YouTube. Seria um novo nicho? “Pode ser”, diz, timidamente, a minifashionista.

 

Ele é bamba

Cícero de Oliveira Lucas, percussionista, 10 anos. PAIS: Wanderson Vieira Lucas (Dé Lucas), 42, músico e Viviane de Oliveira Cruz, 41, representante comercial. Foto: Gustavo Andrade.
Cícero de Oliveira Lucas, percussionista, 10 anos. PAIS: Wanderson Vieira Lucas (Dé Lucas), 42, músico e Viviane de Oliveira Cruz, 41, representante comercial. Foto: Gustavo Andrade.

O músico Dé Lucas, de 42 anos, não acreditou quando o filho, Cícero, à época com pouco mais de 3 anos, foi para a beira do palco durante um show do músico e compositor Moacyr Luz e pediu a canção Zuela de Oxum. “Nem o Moacyr sabia executar de cor, ficamos todos impressionados”, lembra. O encontro de Cícero com a música aconteceu cedo. Com apenas 1 ano, já carregava seu baldinho de areia para as rodas de samba que frequentava com o pai. “Enquanto a gente tocava, ele ia batucando”, conta. Mais tarde um pouco, ganhou uma bateria júnior e começou a se esbaldar no som. Hoje, aos 10, só de observar a turma ao redor, o garoto se tornou um ás em instrumentos percussivos: toca surdo, tantan, pandeiro, caixa de guerra, repique de mão, repique de anel, bateria, tamborim, repinique e conga. E ainda faz aulas de piano. Em pouco tempo de carreira, já se apresentou no Festival de Arte Negra (FAN) e no Carnaval da Belotur. Quase todo domingo, acompanha a banda Dé Lucas e o Samba na Batuta na casa de shows Quintal do Divina Luz. Mas precisa voltar cedo, porque tem aula na segunda-feira. “Acho muito ruim sair antes, eu gosto de ficar até o final”, protesta o pequeno. Queridinho do carioca Nei Lopes, da paulistana Fabiana Cozza e do próprio Moacyr Luz, Cícero, como todo bom artista, descola seu dinheirinho. “Eu não dou a grana para ele, explico que é um trabalho que ele faz e que serve para pagar a escola, comprar cadernos e livros e fazer um lanche”, esclarece Dé Lucas.

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