Por Cristiane Miranda – Não há pai ou mãe que não tenham se visto em uma cena como esta: as luzes já foram apagadas, todos da casa estão exaustos, mas o menino ou a menina reluta em fechar os olhos e cair, docemente, nos braços de Morfeu. Quando a criança em questão é um bebê, a situação é ainda mais complicada, já que dormir é essencial nessa fase do crescimento. “A hora do sono não precisa ser disciplinada, mas facilitada”, acredita a psicóloga Danielle Matos, mestre em estudos psicanalíticos pela Universidade Federal de Minas Gerais. “É importante estabelecer uma rotina e gestos de cuidado que ofereçam um ambiente para que a criança possa relaxar.” Para Danielle, vários fatores levam a uma complicação nas relações dos pais com os filhos na hora do sono. Entre eles está a dificuldade de compreensão do relógio interno que regula os ciclos diários de vigília e sono do pequeno. “A maioria dos recém-nascidos acorda a cada duas ou três horas durante o dia ou a noite”, diz. “E só em torno dos 3 meses que eles ficam mais despertos ao final da tarde e começam a dormir durante a noite.” Quem cuida de uma criança precisa entender esse ritmo. A dificuldade de suportar viver momentos de desamparo, especialmente diante do choro do bebê, é o que leva, segundo a psicóloga, os pais a procurarem as mais diversas técnicas e manuais para lidar com essa situação.
Então, o que funciona? Para a especialista, o bebê consegue “desligar-se” na medida em que passa a confiar na chamada presença em reserva dos pais ou cuidador. É como se a criança pensasse: eles estão lá para quando eu precisar, posso ficar tranquilo. “Essa presença em reserva é diferente da presença intrusiva, dos pais que querem condicionar os bebês conforme manuais padronizados, perdendo toda a confiança na sua escuta da necessidade da criança”, explica. A psicopePais dagoga Débora Galvani também concorda que a rotina imposta aos pequenos é de extrema importância. “Os pais devem ser rígidos com o horário determinado para ir para a cama”, diz. “A criança não entende que hoje pode dormir mais tarde e amanhã, não.” Mas nem sempre a família consegue chegar a essa rotina. Mãe de Bernardo, de 4 anos, a jornalista Lorenza Coelho de Abreu conta que seus horários, assim como os de seu marido, não ajudavam. “O Bernardo sempre gostou de ir mais tarde para a cama”, afirma. “Quando ele era bebê, até tínhamos um horário fixo: 11 da noite”.
Em consulta a uma endocrinologista, eles ouviram que precisavam colocar o menino na cama mais cedo, já que o hormônio do crescimento começa a funcionar a partir das 21 horas. “Foi uma consulta participativa, meu filho ouvia com atenção o que ela falava”, lembra Lorenza. A missão dada pela médica foi cumprida em casa. Desde o início do ano, o garotinho vai para a cama em horário ideal para uma criança de sua idade. Papai e mamãe leem historinhas ou colocam uma música para embalar o sono. Com essa rotina, a paz voltou a reinar.
Apesar de alguns profissionais rejeitarem os manuais, na casa da dentista Alice Soares, quem ajudou foi o livro americano Nana, Nenê, de Gary Ezzo e Robert Bucknam, um best-seller entre as mamães. Suas instruções foram seguidas à risca com o pequeno Vitor, de 1 ano e meio. “Desde os 8 meses que o Vitor dorme tranquilo. Eu apliquei uma rotina sadia à vida dele desde os primeiros meses com horário para mamar, dar banho e, claro, dormir.” Alice diz que sempre optou por conversar com o filho sobre a sua rotina, explicando os horários para cada tarefa. E isso vem dando certo. “Mesmo quando o Vitor está doente, eu e meu marido, Jonas, vamos até o quarto dele para acalmá-lo. Nunca o levamos para dormir na nossa cama”, revela. Recompensar a criança que cumpre os horários pode ser uma boa. A psicopedagoga Débora Galvani sugere criar um quadro de regras, com os horários de todas as atividades realizadas pela criança. “Os pais devem colocar nesse quadro o horário de dormir, a hora do banho e a hora do para casa, por exemplo, de segunda a sexta”, diz. “Se o filho cumpriu o combinado, ganha uma estrelinha. No fim do mês, se o resultado for positivo, ganha um prêmio.” De acordo com a especialista, a premiação não deve ser um brinquedo, mas sim um programa onde toda a família possa participar e interagir.