Entenda o funcionamento do cérebro na infância

891
cérebro das crianças
Veja o que se passa dentro das cabeças dos pequenos desde o nascimento até depois dos 6 anos
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

Por Rafaela Matias

Aquela serenidade no olhar dos bebês parece esconder o turbilhão de atividades que se desenvolve ali dentro, atrás dos globos oculares. A formação de novas sinapses — responsáveis por conectar um neurônio a outro, criando redes de atividades elétricas que permitem ao cérebro dar diferentes comandos ao corpo — acontece com uma frequência assustadoramente maior durante a infância, para possibilitar o reconhecimento do mundo ao redor e uma infinidade de aprendizados. O cérebro de um pequeno de apenas 1 ano chega a atingir o dobro de sinapses do de um adulto. É como um quadro em branco que começa a ganhar cores por meio da observação e do contato com o mundo ao redor. Basta observar como uma criança se põe a engatinhar, andar, explorar, reconhecer e se comunicar de maneira quase instintiva para perceber que são infinitas as possibilidades de aprender e gravar informações. Tudo isso graças à capacidade desse órgão, que consegue ser ainda mais extraordinário nos primeiros anos da vida.

Alguns neurônios já nascem sabendo exatamente o que fazer, como aqueles responsáveis por controlar o ritmo cardíaco e a respiração. Outros, porém, precisam de estímulos que determinarão como devem proceder. Esse processo terá reflexos nas facilidades, gostos e aptidões que surgirão nos anos seguintes. Segundo o médico Carlos Takeuchi, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, isso ocorre naturalmente, mas os estímulos externos influenciam muito a velocidade de aquisição dessas capacidades. “O ato de brincar com a criança, apresentar texturas, objetos e cores são estímulos que facilitarão o desenvolvimento”, afirma. É aí que os pais e cuidadores assumem um papel importante. “Nos quatro primeiros anos de vida, o cérebro apresenta uma enorme capacidade de fazer ligações e diferenciações celulares, por isso quanto mais estímulos receber, melhor o aproveitamento”, explica a neuropediatra Marli Marra, presidente do Comitê de Neurologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria.

O documentário brasileiro O Começo da Vida, que estreou em maio deste ano nos cinemas, propõe uma reflexão sobre a importância da infância no desenvolvimento do ser humano. O longa, dirigido por Estela Renner, reúne entrevistas com médicos e pesquisadores de diversos países, além de histórias de famílias ao redor do mundo. Professor na escola de medicina de Harvard, o neurocientista Charles A. Nelson afirma que “os primeiros anos são como construir a estrutura de uma casa. Você constrói a estrutura sobre a qual todo o resto se desenvolverá”. Nas páginas seguintes, será possível compreender melhor como se dá esse processo e quais são os estímulos certos para que, no final, a “casa” de nossos filhos esteja sobre alicerces realmente sólidos.

O QUE SE PASSA LÁ DENTRO

 O começo (0 a 1 ano) 

Ainda durante a gestação, o bebê começa a desenvolver habilidades como linguagem e raciocínio lógico. Dentro da barriga, já é capaz de ouvir sons e reagir à luz. Após o nascimento, nos primeiros meses de vida, surgem conexões nervosas nas chamadas regiões primárias do cérebro, que possibilitam a percepção, por exemplo, das formas de um objeto.

Nos primeiros três meses, apresenta reflexos involuntários, como o de sucção, que permite a amamentação. Começa a firmar o pescoço, movimentando mais a cabeça, e descobre as próprias mãos. Já consegue fixar o olhar e sorrir socialmente, em resposta ao seu cuidador.

Em torno dos 6 meses, é possível observar que a criança está mais atenta às pessoas e já consegue se sentar com apoio. O bebê aprende a se comunicar por meio do choro, não emitindo apenas gritos aleatórios. Aqui, é possível diferenciar, por exemplo, o choro de birra do de fome. Ele presta atenção à fala do cuidador e começa a agir como se conversasse, respondendo com balbucios e movimentos corporais.

Aos 9 meses, começa a se sentar sem apoio e ficar na posição de engatinhar. A partir daí, surgem também as brincadeiras sociais e a pronúncia das primeiras sílabas e palavras.

PARA DAR UMA FORCINHA: uma boa forma de estimular os sentidos é conversar, contar histórias e pôr músicas para o bebê desde a gestação. Para o recém-nascido, é importante criar rotinas de alimentação, higiene e sono. Isso dá segurança e ajuda a criar uma noção de ordem. Massagear o pequeno desenvolve o tato e a capacidade afetiva. Brinquedos e objetos de cores vibrantes, como mordedores e chocalhos, são boas opções de estimulação. É interessante deixar o pequeno livre para se movimentar e ajudá-lo, progressivamente, a entender a posição para engatinhar e, depois, andar.

Cuidado com as telas

Para os especialistas, a exposição a aparelhos eletrônicos, como TVs e tablets, não é indicada antes dos 2 anos de idade. Para incentivar o desenvolvimento, são essenciais o contato, a atenção e a estimulação motora, cognitiva, visual e sensorial, fatores extremamente limitados no mundo virtual proporcionado pelas telas. Após os 2 anos, o tempo de exposição deve ser de, no máximo, duas horas por dia.

 

 Reconhecimento do mundo (1 a 2 anos) 

Começa aqui a formação de sinapses nas áreas cerebrais secundárias, capazes de interpretar as informações com maior riqueza de detalhes. No lugar de formas, a criança passa a ver e identificar os objetos. O sentido da visão está mais aflorado. Ela passa a apontar para o objeto desejado, mesmo que esteja a distância. Identifica em si, no outro ou em bonecos, as partes do corpo e já reconhece o próprio rosto no espelho. Normalmente, começa a andar. É capaz de reconhecer lugares e rabisca espontaneamente. Descobre a função social dos brinquedos, fazendo, por exemplo, o animalzinho se locomover e produzir sons.

PARA DAR UMA FORCINHA: é importante estimular a criança a usar a linguagem, incentivando-a a pronunciar as primeiras palavras. Outra boa dica é estimular o desenvolvimento da coordenação motora fina, desenhando ou folheando livros e revistas, por exemplo. Como a capacidade lógica já está mais desenvolvida, é interessante dar ao pequeno, por meio de brincadeiras, noções de matemática como quantidade e volume.

 Egocentrismo (2 a 3 anos) 

A criança passa a se perceber como o centro do mundo e busca chamar as atenções para si. Por isso, as birras são comuns nessa fase. Aumenta a sua capacidade de comentar e fazer perguntas sobre os objetos e as situações. A fala está mais desenvolvida, mas ainda há a repetição das palavras do adulto em várias ocasiões. Já começa a contar pequenas histórias e relatar eventos. A criança canta e pode recitar uma estrofe de versinhos. Também faz distinção de tempo (passado, presente e futuro), de gênero (masculino e feminino) e de número (singular e plural). Já tenta copiar círculos e retas, além de construir uma torre com três ou quatro cubos. A percepção de profundidade está quase completa.

PARA DAR UMA FORCINHA: a capacidade de entender notas musicais já está mais avançada, por isso é um bom momento para apresentar instrumentos simples, como a flauta. Outra dica é ler livros de histórias e incentivar a criança a recontar os fatos por meio das figuras. Isso ajuda a elaborar melhor o raciocínio e verbalizar os pensamentos, além de fazer uma grande diferença em sua capacidade de aprender a língua e interpretar textos no futuro.

 A fantasia (3 a 5 anos) 

A criança está mais imaginativa, devido ao desenvolvimento psicológico. É comum querer se fantasiar e simular situações. Está mais intensa a criação de novas sinapses no córtex pré-frontal, responsável por funções cognitivas mais elevadas. Ela consegue executar tarefas mais elaboradas, como usar talheres (de plástico, claro) nas refeições e compreender regras de comportamento. Começa a desenvolver autonomia.

PARA DAR UMA FORCINHA: introduzir livros com histórias mais complexas, incentivando a criança a usar a primeira pessoa, os gêneros masculino e feminino e outros recursos linguísticos, ajuda a preparar o cérebro para a fase da alfabetização. É um bom momento para introduzir o velotrol e, posteriormente, a bicicleta, que contribuem para o equilíbrio.

 A fase da opinião (5 a 6 anos) 

Dá-se o surgimento de sinapses em áreas de associação, responsáveis por cruzar informações diversas no cérebro. Inicia-se a criação de pontos de convergência, e a criança passa a fazer associações com mais clareza. Ela começa a desenvolver as próprias opiniões e os comportamentos de imitação ficam menos evidentes.

PARA DAR UMA FORCINHA: recomenda-se que os pais respondam, dentro da capacidade de entendimento da criança, às perguntas feitas nesta fase. Esclarecer suas dúvidas e explicar o mundo serve como ajuda para que ela comece a tirar as próprias conclusões. É importante deixar que criança opine e faça escolhas, de forma a ensiná-la a definir as próprias roupas, por exemplo.

 Alfabetização (+ de 6 anos) 

Aos 6 anos começa a complexa fase da alfabetização. A criança aprende a escrita, entende o alfabeto e passa a ter noções mais claras de matemática. Começa aqui a fase escolar que durará até a adolescência. O aprendizado mais teórico e profundo do mundo se inicia.

PARA DAR UMA FORCINHA: estimular a reflexão sobre as letras e a formação das palavras. Ensinar o reconhecimento dos números, transformando as noções concretas, baseadas na observação de objetos, em noções abstratas, com o entendimento dos símbolos numéricos. O indicado é que o processo de alfabetização se inicie até os 7 anos, mas é essencial respeitar o ritmo de desenvolvimento de cada um. Quando a dificuldade é extrema, é importante procurar a ajuda de especialistas.




Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui