Hipersexualização: Anitta não é causa, é consequência

A cantora não foi a primeira nem será a última a mudar suas origens para se transformar no que o mundo queria ver. "Chegou ao topo, isso não é para qualquer uma, mas paga o preço", diz a escritora Bebel Soares

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Reprodução de clipe
Foto: Reprodução de clipe " Envolver" da cantora Anitta
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Anitta chegou ao primeiro lugar. Anitta está no topo e na boca do povo. Críticas não faltam, especialmente em relação à hipersexualização de uma artista que é referência para adolescentes e crianças.

Acontece que Anitta não causa a hipersexualização de adolescentes, ela é a consequência da cultura pop que há décadas é sexualizada. 

Anitta não inventou a hipersexualização, ela surfou nessa onda porque viu que assim ela conseguiria chegar onde chegou. É não foi apenas a hipersexualização, como todo ser humano, ela buscou aceitação. Mudou o nome, mudou o nariz, mudou a boca, mudou o cabelo, mudou o corpo.

Para chegar ao topo ela precisava se encaixar em padrões. E foi isso que ela fez. Se encaixou num padrão de beleza, se encaixou num padrão de música, se encaixou num padrão hipersexualizado. Ela não criou nada disso. Se não fosse ela, seria outra. Anitta influencia jovens e isso é um problema, sim. Não acho legal que meninas achem que precisam ser assim para agradar. Mas não é só a Anitta que faz isso. 

Na minha adolescência as meninas dançavam “Rala o Pinto”, depois “Na boquinha da Garrafa”. Madonna já falava de sexo nas suas músicas, simulava masturbação em seus shows. 

Todo ser humano busca status, busca aceitação. Você já fez algum procedimento estético? Plástica, preenchimentos, botox, mudou a cor do cabelo, colocou unhas de gel, se depilou? Já fez alguma coisa para agradar outras pessoas?

Os exemplos não chegam só de fora, não vem apenas das divas pop. No fim das contas todas nós somos reféns de padrões. As divas pop são instrumentos de uma indústria muito poderosa, indústria dominada por homens. Se o corpo é meu, as regras são deles. Mas quem incomoda são as Anittas, que também foi uma menina que queria se encaixar em um padrão. Uma menina da periferia, do funk que, para conseguir o sucesso que almejava, deixou suas origens e se transformou no que o mundo queria ver.

Anitta não foi a primeira, nem será a última. Chegou ao topo, isso não é para qualquer uma, mas paga o preço. Reproduz o que aprendeu, e vai sendo copiada por outras, é assim que o mundo gira.

Não é detonando a Anitta nas mídias sociais que vamos mudar esse padrão. Vamos nos aprofundar, amoras, que o buraco é bem mais embaixo! Anitta é refém do patriarcado como todas nós.


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1 COMENTÁRIO

  1. Lucidez providencial! Faz muita falta um discurso consequencialista proferido por alguém, desconfio, provavelmente de esquerda. Acho curioso como poucos fazem a conexão da postura progressista com os valores humanistas, afinal um humanista, mesmo que contrariado, jamais se vale dos meios e métodos dos seus antagonistas. Mas será mesmo que essa anomia galopante tem alguma solução “no atacado”?

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