Uma das coisas que mais me irritam em ser mãe é a obrigação de sociabilizar e manter o carisma e a euforia, principalmente, no Natal e festa de fim de ano. O desafio começa logo no início de dezembro, que se você tiver o mínimo de responsabilidade com o teu emocional, será o período escolhido para as compras de Natal. Após o dia 15, é loucura querer comprar qualquer coisa.
Todo ano a gente promete não cometer o mesmo erro de levar a criança junto, todo ano bate uma culpa de não levar e quando paramos para reparar, estamos lá perdidas em frente a uma loja de brinquedos, com cara de alface enquanto a criança aos berros pede o presente mais caro da loja. Esperneando pelo chão, gritando com uma voz de o exorcista , aquela cena no meio da praça de alimentação, trinta pessoas ao redor julgando e xingando os próximos 12 filhos que pretendiamos ter. Eu gostaria mesmo era de gritar, sentar no chão e espernear também, mas não. Com toda a calma e de forma carismática resolvo a situação e depois me desculpo por ter nascido. Com um sorriso nos lábios, claro.
Chega um período de dezembro que você se move pela força do ódio. Sorrir a cada happy hour e confraternização, agradecer ao panetone do ano passado – juro, gostaria de saber onde os supermercados estocam, acho que no mesmo lugar dos ovos de páscoa pós-Semana Santa. Ter de ouvir as mesmas piadas sobre a minha vida sexual pelo fato de ter muitos filhos. Sim, em pleno século XXI as pessoas ainda acham graça em piada com métodos contraceptivos e acreditam realmente no fato de que se você tem muitos filhos é porque namora bastante, quando nós sabemos que o melhor meio de evitar uma gravidez é tendo filhos, veja só a contradição. A piada de não ter TV em casa já passou, gente. Superem!
Não sei o que acontece com as pessoas no período de Natal, talvez alguma máfia do panetone que coloque alucinógenos em forma de uva passa, eu já disse, parem de colocar uva passa em tudo! Eu só sei que todo mundo fica meio eufórico com coisas bobas, a princípio, por fotos em frente a piscas-piscas. Galera, são só lâmpadas! E todo mundo fica feio na foto, a luz não favorece, mas as pessoas insistem em se espremer para tirar as benditas fotos, que se juntar as do ano passado com as de ontem, não há diferença alguma.
E os papais noeis? Me desculpem se errei o plural, mas teoricamente deveria existir só um. Bateu uma crise de consciência só em digitar a tentativa de falar sobre os vários que existem espalhados pela cidade e um medo absurdo dos meus filhos me perguntarem isso, porque eu não sei o que responder. Eu nunca me importei muito com Papai Noel, neste meu coração de
gelo não há espaço para velhinhos bons samaritanos que juram dar o que criança pede, mas a conta do que ele promete com o que eu posso pagar não fecha e mesmo quando dá, poxa, ele que leva os créditos. Me sinto injustiçada. Até que um dia desses um Papai Noel de shopping acenou e sorriu para mim. Quando dei por mim estava sorrindo também, acenando freneticamente, dando pulinhos parecendo uma sociopata natalina, constrangendo meus filhos. Eu ainda não levei o assunto para a terapia, mas me pareceu uma vingança inconsciente pelos anos de show gratuito que eu tenho que resolver diante de olhares julgadores em plena
praça de alimentação. Repare bem, inconsciente, é claaaro.
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