Por Vital Didonet
Vida é movimento, crescimento, passagem do menos para o mais. A criança quer ser grande, os pais querem que seu bebê aprenda, conquiste autonomia, conhecimento e habilidades para se virar sozinho. Sonham com o futuro, imaginam seus filhos crescidos, seguros de si, donos de sua vida – sem perder o vínculo afetivo, sem se afastar ou negar a infância e o lar familiar, mas senhores e senhoras de seus destinos.
Se essa forma de encarar a vida de nossos filhos está correta porque os vemos na dinâmica do desenvolvimento e da progressiva realização, ela é apenas uma forma de nos relacionarmos com eles. Não existiria crescimento nem haveria bom desenvolvimento se não déssemos valor ao que eles vivem a cada dia e na forma própria da idade. A infância não é apenas um tempo de preparação para a vida adulta. Ela é um ciclo da vida humana e, como tal, tem um valor em si mesmo, um significado que nenhuma outra etapa tem. Importa que os pais, os profissionais e a sociedade descubram esse significado e o respeitem de tal maneira que as crianças vivam como é próprio do ser criança.
A metáfora é pobre, mas nos dá uma ideia da importância de cada etapa da vida: um segundo andar de uma casa não se sustenta sobre um primeiro que foi mal construído, edificado sobre chão instável, movediço. Cada andar de um prédio tem uma função e deve ser bem feito para que o que se pensa realizar ou viver ali seja seguro, funcional, agradável. Pensar que ele é apenas preparatório do seguinte é empobrecê-lo de tal forma que o torna vazio. Quantas infâncias vazias, quantas vidas de criança malvividas porque não receberam o cuidado, o afeto, a atenção e o zelo necessários para que fossem vivenciadas com plenitude!
As ciências que estudaram o desenvolvimento infantil descobriram o significado da infância na formação da pessoa. A neurociência é a mais recente e a que mais nos traz novidade ultimamente, por causa dos equipamentos capazes de observar o que acontece no cérebro de um bebê e de uma criança pequena quando passa por uma determinada experiência. Os primeiros seis anos de vida – e mais intensamente os primeiros mil dias, ou seja, da concepção ao final do segundo ano – formam o período mais decisivo na formação do cérebro, ou melhor, das estruturas afetivas, sociais e cognitivas que constituem e dirigem a vida da pessoa ao longo de sua existência.
Tudo o que a criança vê, sente, ouve, toca e faz – em síntese, tudo o que acontece com ela – chega ao cérebro como uma informação que é assimilada e organizada e será referência para seus sentimentos, pensamentos e ações. A psicanalista francesa especialista em desenvolvimento infantil Françoise Dolto disse que “a primeira educação é indelével”. Não se apaga, permanece presente na orientação da criança, do adolescente e do adulto, até seus últimos dias.