Ainda há quem veja a Educação Infantil como uma rede de apoio para deixar as crianças durante o horário de trabalho dos pais ou mesmo uma preparação para os próximos anos escolares. Porém, essa etapa é muito mais do que isso, ela é a base sobre a qual se constrói a capacidade de pensar, criar, comunicar, conviver e aprender. Nessa fase, que vai desde o nascimento até os seis anos de idade, ocorre o período mais intenso de formação das conexões neurais, as quais são responsáveis pelo desenvolvimento das habilidades cognitivas nas crianças.
Estudos apontam que, quanto mais cedo a criança tiver acesso a experiências educativas de qualidade, mais preparados estarão seus circuitos cerebrais para lidar com os desafios futuros da vida acadêmica e social. Nos primeiros anos de vida, o cérebro se mostra em pleno desenvolvimento e os estímulos certos ‒ que podem ser oferecidos por meio de brincadeiras dirigidas, interações com colegas e atividades planejadas ‒ são cruciais para a formação de competências como atenção, linguagem, memória e raciocínio lógico.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ‒ documento que entrou em vigor em 2018 e define aprendizagens essenciais a serem trabalhadas pelas escolas ‒ reforça o papel da Educação Infantil ao estabelecer seis direitos de aprendizagem nessa etapa: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se. Esses princípios norteiam práticas pedagógicas que respeitam o tempo e o modo de aprender de cada criança, reconhecendo que o aprendizado acontece de forma integrada e significativa a partir das experiências do cotidiano.
“Na Educação Infantil, o brincar não é apenas uma atividade recreativa. Ele é o principal instrumento de aprendizagem, é onde a criança desenvolve sua linguagem, sua lógica, sua capacidade de imaginar, argumentar e resolver problemas. Cuidar é educar e educar é oferecer vivências que ampliem o repertório da criança e estimulem sua curiosidade sobre o mundo”, afirma Sheila Bancovsky, psicóloga e sócia proprietária da Escola Koala.
A importância do desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo diz respeito ao modo como a criança adquire conhecimento e processa as informações recebidas, envolvendo aspectos como percepção, atenção, memória, linguagem, raciocínio, solução de problemas e criatividade. Essas habilidades estão diretamente ligadas ao sucesso escolar ao longo dos anos e às competências adquiridas para a vida em sociedade.
Segundo a teoria do desenvolvimento cognitivo, criada pelo psicólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), as crianças passam pela fase sensório-motora (até os 2 anos) e pré-operatória (dos 2 aos 7 anos). Nessas etapas, elas aprendem com o corpo, com os sentidos, com a repetição de ações e com a exploração do ambiente ao seu redor. Por isso, o ambiente escolar precisa ser seguro, rico em estímulos e planejado por profissionais especializados.
Sheila reforça ainda que é durante esse período que surgem os primeiros indícios de como a criança aprende melhor e quais são seus interesses e dificuldades. “Conhecer bem cada criança é essencial. Só assim conseguimos identificar suas potencialidades e oferecer os estímulos certos. A Educação Infantil tem um papel importantíssimo de observação e intervenção precoce, inclusive para identificar sinais de atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem ou outras necessidades específicas”, explica.