A criação de filhos neurodivergentes traz muitos desafios para as famílias que, muitas vezes, ficam sem saber como lidar com as diferentes situações que surgem no dia a dia. Andreia Rossi, orientadora parental e especialista em Transtorno Opositor Desafiador (TOD), explica que quando as crianças atípicas são expostas a determinados estímulos sensoriais e não sabem lidar com eles, pode surgir uma crise. Mudanças inesperada de rotina também costumam trazer sofrimento. Segundo Andreia, o termômetro para saber se a criança está em uma crise ou se trata de uma birra é o prejuízo que a criança sofre.
“As reações não são propositais, mas sim uma resposta que demonstra que a criança não sabe lidar com aqueles fatos. Por isso bater ou deixar de castigo não vai resolver, e ainda pode piorar a situação, fazendo com que os jovens atípicos sintam vergonha, ansiedade, medo e ressentimento”, relata a orientadora parental.
Ela diz que se os pais utilizam estratégias de forma assertiva, acolhedora e respeitosa e promovem um ambiente seguro para a criança expressar as emoções, mas a criança não dá conta e mostra que está com dificuldade, é necessário usar muita estratégia e criatividade para dar suporte necessário. E acrescenta, “não é fazer mais do mesmo ou o que todo mundo faz. É fazer o que precisa ser feito para essa criança e entender que ela está em crise e não consegue se regular”.
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Andreia lembra que a crise é diferente da birra, comportamento originado de algum descontentamento, geralmente acompanhado de choros e gritos, sendo intencional e usado para conseguir algo que lhe foi negado. Nestes casos, a especialista sugere orientar e redirecionar a criança. “Ela pode até persistir um pouco mais, mas quando consegue se conectar com o que precisa ser feito de fato, ela tem uma resposta mais assertiva, mais rápida. O que é diferente no neurodivergente que, às vezes, leva três, quatro horas para se organizar”, explica.
Nessas horas, é importante reforçar o amor, mas também estabelecer limites claros, remodelando o comportamento, lembrando à criança que aquela atitude não é aceita. “Me refiro a um lugar de reciprocidade e colaboração, não de obediência. Em alguns momentos, precisamos ser firmes. E quando isso acontece não é a obediência que vem, mas a frustração. Surge então uma desregulação emocional e é nessa hora que temos de redirecionar. O grande lance da afetividade é ser um corregulador.”
Por isso, pais atípicos precisam de apoio e conhecimento sobre a realidade que vivem. Sem informação, é fácil cair na armadilha dos julgamentos e acreditar que a criança está apenas sendo desobediente. O olhar informado ajuda a evitar medidas inadequadas, como castigos ou corretivos, que apenas aumentam o sofrimento e não ensinam a criança a se regular emocionalmente.
Para a especialista, buscar ajuda profissional é imprescindível para compreender todo o processo e ajudar a diminuir episódios e a intensidade das crises e assim, contribuir para uma melhor qualidade de vida do indivíduo.